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Uma viagem através dos finais de filmes

Os créditos começam a rolar. A sala de cinema está mais quieta do que o normal. A música tocada foi escolhida de maneira quase cirúrgica. Assim, o espectador sente uma espécie de tranquilidade depois do mar de emoções no qual acabou de mergulhar. Apesar disso, são bastante conflituosos os pensamentos em sua cabeça. De maneira …

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Os créditos começam a rolar. A sala de cinema está mais quieta do que o normal. A música tocada foi escolhida de maneira quase cirúrgica. Assim, o espectador sente uma espécie de tranquilidade depois do mar de emoções no qual acabou de mergulhar. Apesar disso, são bastante conflituosos os pensamentos em sua cabeça.

De maneira simplificada, esse é um relato com o qual muitos amantes da sétima arte podem se identificar. A experiência de assistir um filme passa necessariamente pelo seu final. Não por acaso, o encerramento de uma narrativa é uma de suas etapas mais importantes.

Posto isso, me propus a entender como os últimos instantes de uma obra cinematográfica podem influenciar no impacto que ela tem sobre o público.

 

Um final surpreendente

Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, 1968)

Taylor (Charlton Heston) explora o planeta misterioso [Imagem: Reprodução]
Primeiro filme de uma das franquias mais longevas do cinema, Planeta dos Macacos chegou às telonas quando o terreno de ficções científicas ainda era pouco explorado. Na história — adaptada do livro homônimo de Pierre Boulle — um grupo de astronautas, depois de viajar por séculos hibernados no espaço, pousa em um planeta dominado por macacos evoluídos, onde os humanos são escravizados.

Depois de quase uma hora e cinquenta minutos de filme marcados pela performance de Charlton Heston e por uma verdadeira revolução no modo de se produzir ficção científica nos cinemas, chegamos ao final do longa. Na última sequência, o público descobre uma verdade chocante por trás de toda a história daquele planeta.

A direção de Franklin J. Schnaffer é precisa na hora de construir uma das sequências mais memoráveis da história do cinema. É o tipo de final que subverte a toda a expectativa criada pelo público no decorrer da narrativa. Além disso, a experiência do diretor também aparece no momento de cortar a cena no momento exato, eternizando a cena na mente do público.

Porém, fazer uma reviravolta tão surpreendente não é algo fácil. Sobre isso, Roberto Franco Moreira, professor do departamento de Cinema, Rádio e Televisão da USP comenta: “apelar para clichês e descuidar dos personagens e situações [fazem uma reviravolta não funcionar]. Mas um bom plot twist no final sempre pode ser rico”.

 

O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)

Cole e Malcom em uma das consultas [Imagem: Reprodução]
Quando se fala em finais impactantes, o nome de M. Night Shyamalan deve ser um dos primeiros a vir na mente do cinéfilo. Marca registrada do diretor, os finais surpreendentes quase sempre estiveram presentes em sua filmografia. Em uma de suas melhores obras não podia ser diferente.

Lançado em 1999, O Sexto Sentido é, até hoje, lembrado como um dos melhores suspenses de terror dos últimos anos. Na história, Cole Sear (Haley Joel Osmet), um garoto de oito anos, é auxiliado pelo psicólogo infantil Malcom Crowe (Bruce Willis) para lidar com um dom sobrenatural: ver pessoas que já morreram.

Com uma narrativa bem construída e sequências assustadoras, o espectador cria um sentimento de que está assistindo a só mais um filme de espíritos e assombrações. Porém, é nos minutos finais que M. Night Shyamalan transforma sua obra em algo impactante e original.

O grande mérito do roteiro foi criar uma reviravolta realmente inesperada para a época, em que é quase impossível encontrar indícios de que aquela revelação iria acontecer. Mais do que isso, há cuidado especial para não deixar pontas soltas ao longo do roteiro. Um final marcante para um clássico moderno.

A conclusão amarra todas as linhas narrativas e, sobretudo, manifesta o ponto de vista do narrador sobre sua história. É o momento de avaliação, em que o ato de narrar se justifica para o público” afirma Roberto.

 

Clube da Luta (Fight Club, 1999)

A relação peculiar entre Jack (à direita) e Tyler (à esquerda) [Imagem: Reprodução]
Além de O Sexto Sentido, o ano de 1999 também nos revelou outra obra prima do cinema contemporâneo. Estrelada por astros como Edward Norton, Brad Pitt e Helena Bonham Carter, a trama de Clube da Luta gira em torno de Jack, um investigador de seguros que deve enfrentar os males de sua existência medíocre.

Tudo muda quando o protagonista conhece Tyler Durden, homem misterioso com quem Jack inicia um grupo secreto que reúne violência e caos como válvula de escape para a opressão do sistema.

Diferenciado e visceral, Clube da Luta não se tornou um clássico cult por acaso. Depois de um enredo mirabolante, descobrimos a verdade por trás da relação entre Tyler e Jack. Tudo isso com uma das mais inventivas sequências de conflito da sétima arte.

Se identificar, em quaisquer escalas, com Jack e suas frustrações se torna um dos pontos-chave para que Clube da Luta atraia tantos fãs até hoje. Assim, o desfecho de sua história não podia ser mais satisfatório. Sobre isso, Josie Conti, psicóloga e editora do Psicologias do Brasil, comenta: “Essa questão da identificação e da projeção da própria vida podem fazer com que a pessoa consiga compreender melhor até as próprias questões mal resolvidas da vida dela. Assim, é possível que um filme mude a vida do espectador”.

 

Um final reflexivo

Sem Destino (Easy Rider, 1969) 

Wyatt (Peter Fonda) e Billy (Dennis Hopper) na estrada [Imagem: Reprodução]
São poucas as vezes em que Hollywood representou tão bem a geração sexo, drogas e rock n’ roll. As músicas, roupas e a ideologia fizeram o charme de filmes que retratavam a geração crescida em meio à hostil ordem bipolar da Guerra Fria. No clássico estrelado e roteirizado por Peter Fonda e Dennis Hopper, dois motociclistas vão em busca de um dos carnavais mais famosos do mundo com o dinheiro da entrega de drogas.

Com sequências filosoficamente reflexivas e personagens marcantes, Sem Destino se tornou uma obra essencialmente inovadora: era um dos primeiro retratos cinematográficos da “sociedade alternativa” que emergia naquele período. 

Depois de uma road trip para o Carnaval de Nova Orleans marcada por encontros com hippies libertários, drogas alucinógenas e muita música, os dois protagonistas voltam para a estrada. Porém, tudo muda quando eles se deparam com dois caminhoneiros que se recusam a aceitar os novos ares da juventude.

Chocante e extremamente emocional, o final de Sem Destino mostra como os mais otimistas e utópicos sonhos de liberdade podem acabar repentinamente.

 

A Origem (Inception, 2010)

Arthur (Joseph Gordon-Levitt) em meio a uma das missões de se infiltrar nos sonhos [Imagem: Reprodução]
Deixar a resolução do filme no ar talvez seja um dos recursos mais poderosos para manter o espectador preso à obra que ele acabou de assistir. Porém, é preciso ter muito cuidado para que essa proposta de fato funcione.

Em Hollywood, o que não faltam são exemplos de finais assim. A última sequência de O Iluminado (The Shining, 1980), de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman or The Unexpected Virtue of Ignorance, 2014), ou de de Mãe! (Mother!, 2017) são só alguns exemplos. Porém, talvez aquele final que melhor sintetiza esse tipo de impacto seja A Origem

Obra-prima do diretor Christopher Nolan, o longa termina deixando o público em dúvida em relação ao que realmente acontece no final da obra. É o espectador que deve tomar a iniciativa. Assim, Nolan transporta o clima de ficção explorado pelo filme para os pensamentos do espectador.

Sobre a presença de finais ambíguos que nos colocam a pensar na obra e a nossa possível frustração com eles, Josie comenta: “a frustração, que é decorrente da falta de controle, significa construção, porque ela nos faz pensar, e ela nos tira da posição de meros espectadores e consumidores de um produto finalizado e entregue digerido para a gente, e nos coloca na posição de produtores, porque daí vamos ter que pensar e produzir em nossa mente”.

Do ponto de vista cinematográfico, Roberto pontua: “mesmo o final ambíguo nos faz refletir sobre nossa condição, sobre a dificuldade de compreender nosso lugar no mundo. Um final ruim é insignificante”, explicando a linha tênue que existe entre um final ambíguo e um mal-resolvido.

 

Três Anúncios para um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri, 2017) – Com spoilers

Mildred (Frances McDormand) e Dixon (Sam Rockwell) [Imagem: Reprodução]
Entre os principais concorrentes às grandes premiações do ano de 2018, um dos que mais ganhou destaque foi Três Anúncios para um Crime. Com sete indicações ao Oscar, incluindo de Melhor Filme, o longa aborda a jornada de uma mulher que, quase sozinha, busca pressionar as autoridades a encontrar o assassino e estuprador de sua filha.

Sem se furtar de críticas ao racismo e machismo institucionalizados, a obra também chamou a atenção pelas performances e pelo roteiro envolvente. Em seu final, a mãe, Mildred Hayes (Frances McDormand), vai com um policial Dixon (Sam Rockwell) à casa do principal suspeito de cometer o crime. 

Questionado por Mildred se os dois realmente devem matar o homem, Dixon em busca de sua redenção depois dos eventos do filme afirma não ter certeza. Mildred também compartilha desse sentimento e o longa acaba com um diálogo simples, mas profundo.

“A gente pode ouvir a mesma frase cinquenta vezes e essa frase nunca fazer sentido. Um belo dia a gente ouve aquela frase e nos dá um estalo, e aquilo passa a fazer sentido. [Isso] Se for um momento em que se está com as barreiras mais desarmadas, um pouco mais relaxado, e o cinema ajuda nisso, porque o cinema é entretenimento” comenta Josie Conti. 

Assim, um simples diálogo, como o da sequência final de Três Anúncios para um Crime, nos mostra que não é sempre que um desfecho importa, no caso, o que vai ser feito com o suspeito. No fim, a jornada e evolução para chegar até ele, ou seja, o caminho percorrido pelos personagens para que eles cheguem àquelas decisões pode ser mais relevante. Isso certamente não se aplica somente a uma produção cinematográfica.

 

Um final ruim

O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (The Amazing Spider-Man 2, 2014) – Com Spoilers

Paul Giamatti como o vilão Rhino [Imagem: Reprodução]
A segunda saga do Homem-Aranha nos cinemas foi uma das mais polêmicas. Apesar de pontos positivos como o visual e, até mesmo, a fidelidade a elementos dos quadrinhos, histórias duvidosas, tramas não convincentes e obras sem grande inspiração talvez tenham sido os principais fatores que desagradaram os fãs.

Para entrar nessa conta, temos o desfecho do último filme do Amigão da Vizinhança estrelado por Andrew Garfield. Depois de um apresentar um vilão construído de maneira rasa, o filme simplesmente joga Rhino, outro grande antagonista do Homem-Aranha, para o público. A tentativa de conquistar os fãs não funcionou como esperado.

Como resultado, uma sequência completamente desencontrada com o restante do filme e inverossímil, para dizer o mínimo. Um longa regular com um final ainda mais desconexo, mais ou menos como acontece com Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008).

“O fim é a última experiência e ela se projeta sobre todo o filme. Nós esquecemos facilmente um bom começo se o final é fraco” comenta Roberto, lembrando também de filmes bons com finais mal-resolvidos.

1 comentário em “Uma viagem através dos finais de filmes”

  1. Pingback: A importância de um bom começo no cinema - Jornalismo Júnior

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