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A importância de um bom começo no cinema

Escrever o início de um filme pode parecer algo simples e, até certo ponto, óbvio. Porém, a responsabilidade do roteirista quando constrói essa parte específica do longa é grande. Afinal, os primeiros momentos de um filme devem ser aqueles encarregados de prender o espectador ao espetáculo, devendo apresentar o necessário ao mesmo tempo em que …

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Escrever o início de um filme pode parecer algo simples e, até certo ponto, óbvio. Porém, a responsabilidade do roteirista quando constrói essa parte específica do longa é grande. Afinal, os primeiros momentos de um filme devem ser aqueles encarregados de prender o espectador ao espetáculo, devendo apresentar o necessário ao mesmo tempo em que contextualiza o público de maneira menos previsível. Por isso, entenda um pouco mais a respeito das técnicas por trás da construção de um começo a partir dos melhores exemplos na sétima arte.


2001: Uma Odisseia no Espaço
(2001: A Space Odyssey, 1968)

 

Para iniciar a lista, por que não lembrar de um começo aparentemente sem sentido? Certamente os primeiros minutos da obra-prima de Stanley Kubrick foram marcados pelo absurdo em termos visuais. Afinal, um grupo de macacos explorando um monolito no meio do deserto não é tão comum de aparecer nas telonas. Mas são nos momentos iniciais de 2001: Uma Odisseia no Espaço que o espectador se empolga e provavelmente se incomoda com tantos mistérios apresentados a ele.

As analogias de Kubrick ー tão comuns em sua filmografia ー aqui marcam presença, tornando o início da obra de 1968 um verdadeiro objeto de investigação. A evolução da humanidade, o instinto de autodestruição, sobrevivência e inovação acabam sendo as nuances principais exploradas no roteiro adaptado do livro homônimo de Arthur C. Clarke. Produzido poucos anos antes da primeira viagem do homem à Lua, 2001 diz muito a respeito da maneira pela qual o ser humano lida com o progresso.

Impossível também não lembrar do poético tema musical de Richard Strauss, Also sparach Zarathustra (“Assim falou Zarathustra”), em meio à primeira sequência do filme. A intensa música faz uma simples cena como a de um macaco quebrando ossos parecer uma verdadeira epopeia. É um início que empolga o público e o estimula a entender as quase três horas que irão se suceder.

 

O Rei Leão (The Lion King, 1994)

 

Ainda na linha de poucas palavras, mas um verdadeiro espetáculo audiovisual, chegamos a uma das mais memoráveis introduções da história do cinema. A cena inicial de O Rei Leão é um dos melhores exemplos da técnica de gancho, isto é, o momento em que o público é levado ao universo da obra. Nele, é possível presenciar uma reunião de animais para algo que ainda não se sabe, mas que pelas primeiras notas de “Ciclo sem fim”, espera-se algo grandioso. A expectativa vai aumentando gradativamente até chegar ao ápice que é a apresentação do futuro rei para todos os animais daquele reino.

Em termos técnicos, é um início que sabe prender seu espectador perfeitamente. A música, as vívidas cores daquele universo, o senso de pertencimento à fraternidade daqueles personagens e muito mais é bem explorado para trazer o espectador aos eventos do filme. E o melhor de tudo: é empolgante e emocionante sem precisar de palavras e muito menos de personagens humanos. Além, é claro, de ser uma introdução que, mesmo após 25 anos depois do lançamento, ainda se encontra viva na mente de quem já assistiu ao clássico da Disney.


Star Wars: Uma Nova Esperança
(Star Wars: A New Hope, 1977)

https://www.youtube.com/watch?v=yHfLyMAHrQE&t=126s

 

Que Star Wars é, ainda hoje, uma das maiores sagas da história do cinema todos já sabem, mas será que ela teve um começo ideal, tendo em vista um novo tipo de público e um novo tipo de história que surgiam no momento de seu lançamento? Nos primeiros minutos do clássico de 1977, a audiência, pouco acostumada com efeitos especiais tão revolucionários, presencia um conflito espacial entre duas naves.

A imponente trilha sonora de John Williams envolve o público por completo, o qual passa a conhecer um pouco mais daquele universo a cada minuto da obra. Os efeitos práticos e especiais também contribuem para isso. Assistir a uma batalha espacial nas telonas, com direito a robôs, princesas e um vilão de primeira qualidade era impensável para época, principalmente se considerarmos que tudo isso aparece nos primeiros minutos do longa. A simplicidade da trama, combinada à autenticidade visual criam um começo empolgante para a maior franquia de ficção científica e fantasia dos cinemas.


Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida
(Raiders of the Lost Ark, 1981)

 

Um arqueólogo deve ir a mais uma perigosa missão para capturar um artefato histórico. Basicamente, essa seria a maneira mais superficial para definir a primeira sequência de Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida. Porém, a ação envolvente de Spielberg marca presença e se torna um deleite para os aficcionados por uma boa história de aventura. O protagonista, interpretado por Harrison Ford, deve enfrentar um grupo de trapaceiros, uma tribo de nativos e até armadilhas seculares para concluir sua missão, e é impossível negar que assistir a tudo isso se torna divertido.

Na prática, depois de assistir o clássico de 1981 mais de uma vez, muitos podem concluir que essa cena possui somente um valor de entretenimento. Ou seja, a história poderia começar muito bem com a cena seguinte, na qual Indiana encontra-se em uma sala de aula pronto para receber a missão que guiará os eventos do filme. Mas assim seria muito simples. O espectador teria uma impressão de que o arqueólogo que protagoniza o longa é alguém mais reservado, que passa longe de uma aventura. Impressões essas que caem por terra em uma alucinante sequência de abertura.


Up – Altas Aventuras
(Up, 2009)

 

Quando se fala em começo emocionante, é quase impossível não lembrar de uma das principais obras da Pixar. Up – Altas Aventuras ainda emociona muitas pessoas principalmente pelos seus primeiros minutos. Na história, Carl Fredericksen (Ed Asner, Jeremy Leary) vai embarcar em uma inesperada aventura envolvendo seu passado junto a Russell, um menino de 8 anos. A primeira cena nada mais é que um grande flashback da vida do senhor Fredericksen, onde o público pode conhecer o seu primeiro amor e os tristes problemas que apareceram em sua vida.

A tocante melodia do piano acompanha os altos e baixos da vida do protagonista e, combinada a uma cena sem nenhum diálogo, consegue envolver o espectador de uma maneira que poucos filmes fizeram. A partir das primeiras cenas, o longa contextualiza e prende a audiência para que ela acompanhe os desdobramentos dessa emocionante história.


Matrix
(1999)

 

Partindo do sentimental para algo mais enérgico, chegamos a um dos grandes clássicos da ação e ficção científica dos últimos anos. Quando chegou aos cinemas, Matrix foi revolucionário por diversas maneiras: os efeitos especiais e práticos, as cenas de ação, e uma trama que consegue juntar os principais elementos do universo da ficção científica são só algumas delas. Com tanta coisa para aparecer nas telonas, seria imprescindível começar bem a aventura.

Na primeira cena, o espectador entra de cara naquele sombrio universo das irmãs Wachowski com uma eletrizante sequência de ação em que a personagem Trinity (Carrie Anne Moss) deve derrotar agentes da Matrix, um sistema artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real. 

Os primeiros passos daquela narrativa servem para estabelecer o tom e o rumo que o longa vai tomar. A sequência de luta, somada a uma montagem que remete ao lado científico de Matrix, introduzem perfeitamente a subversão com a qual o espectador terá contato.


Batman: O Cavaleiro das Trevas
(The Dark Knight, 2009)

 

Ainda no clima de ação, seria incoerente não lembrar do incrível começo de um dos principais longas de heróis. As primeiras cenas da trilogia do Batman de Christopher Nolan sempre foram marcadas pela forma na qual o público é inserido nos eventos do filme. Mas talvez pelo personagem que o protagoniza, o início de O Cavaleiro das Trevas se destaca.

Na sequência, um grupo de criminosos vai assaltar um banco. Porém, com o passar do tempo, descobrimos que tudo não passava de um plano do líder do grupo que fazia seus parceiros matarem uns aos outros até que somente ele sobrasse. As coisas ficam ainda mais intrigantes quando se revela que o líder dos bandidos é ninguém menos que o Coringa, interpretado por Heath Ledger

A trilha sonora de Hans Zimmer acompanha a tensão do público e potencializa o envolvimento dele com a obra. O roteiro é preciso ao apresentar um pouco da mente e dos planos daquele que se tornou um dos principais vilões da história do cinema, criando uma expectativa para seu possível encontro com o herói do título.


Bastardos Inglórios
(Inglourious Basterds, 2009)

 

A obra prima de Quentin Tarantino marca presença na lista não somente pela boa apresentação de enredo e personagem, mas pela primorosa construção de uma cena. O início de Bastardos Inglórios é pura tensão. Um homem francês é interrogado em sua casa por um dos mais temidos comandantes da força armada nazista, a SS. No diálogo, o homem é forçado a abrir o jogo e revelar que abriga debaixo de sua casa uma família de judeus.

Muito provavelmente a cena não seria a mesma sem o talento de Christoph Waltz. Interpretando um sádico oficial nazista, o ator instiga o ódio e o medo em seu público. Somado a isso, temos o intenso diálogo escrito por Tarantino que faz referência à forma que um nazista é treinado para capturar judeus e até mesmo a simplicidade de um copo de leite.

Uma cena memorável com um final arrebatador criam o início perfeito para o longa de 2009. Com os traços de dois dos mais importantes personagens da trama já estabelecidos, o público está pronto para os próximos eventos.

Entre os vários prazeres que o cinema pode proporcionar, o aprendizado em relação à forma pela qual ele guia o seu espectador possa ser um de seus principais. Além de uma narrativa envolvente, um filme deve ter um bom começo para que seu público entenda o que ele está assistindo e por que ele deve assistir. Por isso, não é só um desfecho e um desenvolvimento que importam no cinema, uma boa introdução também é essencial.

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