Produtora dos maiores clássicos da animação, a Walt Disney Pictures encontrou em acertos do passado uma fórmula de sucesso no presente. Reviver obras através de uma tradução quase literal em live action (filme com atores de carne e osso) tem sido uma constante lucrativa dos últimos anos, a exemplo de Aladdin (2019) e A Bela e a Fera (Beauty and the Beast, 2017). O Rei Leão (The Lion King, 2019) é outra dessas apostas, desnecessário artisticamente, mas com toda a pinta de mais um sucesso de bilheteria.
Claro que a necessidade artística de uma obra é bem subjetiva, mas se a questão é criatividade, há de se questionar um filme que conta exatamente a mesma história 25 anos depois da obra matriz. Mesma narrativa, mesmas piadas, mesmos ângulos de câmera, o que há de original aqui é muito pouco.
E não me leve a mal, o conteúdo é incrível: atuações impressionantes, tanto do veterano James Earl Jones (Mufasa) quanto dos novatos Billy Eichner, Seth Rogen e John Oliver que roubam a cena como Timão, Pumba e Zazu, respectivamente; as escassas alterações no roteiro aprofundam o que era raso na animação de 94, as soluções tornam-se melhor explicadas e mais maduras; o humor é atualizado, ganha um vigor (ri muito na sessão e não fui o único).

A parte visual é simplesmente um deslumbre. Dentro da proposta realista dá para se sentir facilmente num documentário de vida animal, alguns ângulos e trilhas até sugerem isso. O difícil é dar tanto crédito à um filme que já era magistral nos anos 90. Aliás, fazer algo no mínimo do mesmo nível é praticamente obrigação, considerando que não passa de uma cópia bem arrumada.
Uma narrativa de mensagem tão importante, a jornada do pequeno príncipe (aqui o leão Simba) que tem que lidar com a perda, com a culpa e com tantos outros desafios para, ao final, entender que é necessário abraçar as responsabilidades, poderia facilmente encaixar-se em outra história, com outros personagens, mas com originalidade.
“Isso, canta, garoto!”, é o que diz Pumba ao pequeno Simba, mas que poderia ser dirigido à qualquer um da plateia. As músicas clássicas estão de volta, com o mesmo espírito de antes, seja na doçura do amor quase mágico de “Can You Feel The Love Tonight?” (o talento de Beyoncé dispensa apresentações), no humor marcante de “Hakuna Matata” ou na atualização de “Be Prepared”, adaptada para melhor explicar os planos malígnos de Scar. Além das para cantar, a trilha instrumental de Hans Zimmer é muito presente, cria uma ambientação forte para o longa.
Como defeitos da própria obra, talvez as hienas, um tanto genéricas e sem muita expressão. Efeito colateral do hiper-realismo. De resto, a sensação ao sair do cinema é a melhor possível: o filme emociona e diverte muito. Mesmo com todas as ponderações, a Disney conseguiu encantar de novo.
O longa estreia dia 18 de julho no Brasil. Confira o trailer: