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Unfaithful: “a gente ainda é a gente mesmo quando a gente mente”

Unfaithful inicia-se assim que você entra no teatro, e a atmosfera já se mostra envolvente. Nos sofás espalhados pelo palco, quase no mesmo nível da plateia, os casais esperam a chegada do público. São dois, um de jovens e um de meia-idade. A princípio, separados uns dos outros. Cada um preocupado com sua dinâmica interna: …

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Unfaithful inicia-se assim que você entra no teatro, e a atmosfera já se mostra envolvente. Nos sofás espalhados pelo palco, quase no mesmo nível da plateia, os casais esperam a chegada do público.

São dois, um de jovens e um de meia-idade. A princípio, separados uns dos outros. Cada um preocupado com sua dinâmica interna: o trabalho, a volta para casa. O interessante, em um primeiro momento, é como esses casais começam a se interligar de forma direta e indireta.

A traição parece ser, de início, a trama da peça. É sobre esse assunto que se desdobram os diálogos e interações entre as personagens. Porém, o mais cativante é como isso passa a ser explorado, se estendendo para muito mais do que apenas a traição, chegando essa a ficar, inclusive, em segundo plano diante de todo o eco emocional posterior.

Tudo na construção do enredo incita ao pensamento: o fato de serem quatro personagens em relacionamentos entre si, a diferença de idade, a construção e dinâmica dessas relações, as experiências de vida, as prioridades de cada um. Isso torna a obra ainda mais interessante, como as distâncias entre cada um se fazem de complemento para identificá-los e relacioná-los diversas vezes ao longo da peça.

No decorrer do tempo, a noção desenvolvida sobre cada personagem e seus relacionamentos vai se quebrando sucessivamente, a tal ponto que é quase impossível discernir ou definir uma certeza para o que está se observando. A irregularidade dos momentos pode até provocar uma sensação de desconforto, mas é justamente esse que torna tudo mais emocionante.

A peça conversa com aspectos coletivos e individuais das relações interpessoais: a frustração, a raiva, o amor, e ainda te faz questionar qualquer definição preconcebida a respeito dessas ideias. Por que traímos? Por que desejamos? O que é o desejo? É quase inevitável relacionar a experiência pessoal ao que se desenvolve no palco em quase todos os momentos, e não se limita a uma visão romântica de relacionamento, permeando também as relações sexuais, familiares e até profissionais da vida humana.

Um ponto merecedor de destaque é a noção da mentira trazida com o desenvolver da trama. Ela aparece sucessivamente enquanto cada personagem vai se afetando pelo que ocorre ao seu redor, muitas vezes de forma negativa, ao que é normalmente associada, mas ao mesmo tempo, também questiona-se a origem dela e qual seria sua verdadeira natureza: por que mentimos? Mentir machuca? Por que? A punição dela é sempre o caminho?

As frustrações e angústias de cada personagem parecem se transmitir a quem assiste e incitam a pensar na forma como cada um de nós lida com os sentimentos próprios e alheios, e como há um condicionamento direto em separá-los entre “bons” e “ruins”. Até que ponto essa classificação emocional faz sentido se são apenas isso: emoções?

O intangível do embaralhado de sentimentos que surgem ao longo da peça faz com que seja até difícil absorver tudo o que ela propõe, e a possibilidade do esclarecimento é um compromisso a ser assumido pelo espectador após seu fim. Mesmo para aqueles que não se impressionem com a apresentação, o simples sentir, seja qual for a sensação trazida por ele, parece ser uma vitória para a proposta do encontro.

Por Daniel Medina
danieltmedina@gmail.com

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