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26° Festival É Tudo Verdade: documentários premiados retratam as consequências de regimes autoritários

'Os Arrependidos' e 'Presidente' são os ganhadores das categorias nacional e internacional na premiação de documentários

No último domingo (18), foi transmitida a premiação do É Tudo Verdade 2021 — 26° Festival Internacional de Documentários — no YouTube. O anúncio dos premiados foi mediado por Amir Labaki, jornalista, curador e fundador do É Tudo Verdade, que iniciou a cerimônia com um apelo por uma solução institucional que garanta a reabertura da CINEMATECA Brasileira e a manutenção do acervo audiovisual presente nela

A Jornalismo Júnior foi convidada a assistir os documentários vencedores da Competição Brasileira de Longas e Média-Metragens e também da Competição Internacional de Longas e Média-Metragens, além de participar da coletiva de imprensa com os diretores dos documentários premiados do festival.

 

Documentário brasileiro Os Arrependidos é o vencedor da categoria nacional do Festival É Tudo Verdade.
Os Arrependidos é o vencedor da categoria nacional da 26° edição do Festival É tudo Verdade [Imagem: Reprodução/ Festival É Tudo Verdade/ Facebook]
Na categoria nacional, o filme premiado foi Os Arrependidos (2021), de Armando Antenore e Ricardo Calil. O documentário reconta a história de jovens ex-militantes da luta armada brasileira que foram presos e torturados durante a ditadura militar. O nome do filme é sagaz, pois ironiza o arrependimento imposto pelo uso da força ao qual os jovens foram submetidos, arrependimento este destinado à juventude brasileira como propaganda política a favor do governo autoritário na época.

O conteúdo presente nele é sensível, mas potente. As fontes primárias obtidas presentes no documentário ressignificam este marco histórico um tanto esquecido. Há relatos de lembranças dolorosas dos momentos de tortura física e psicológica que os jovens passaram, contados diretamente por eles ou por familiares dos que já faleceram. Além da reformulação histórica do termo “arrependidos”, o longa também traz cenas pavorosas das propagandas do regime militar divulgadas na época e reafirma a importância, para a memória e criação histórica, dos arquivos audiovisuais da CINEMATECA Brasileira. 

O filme é forte e contém relatos terríveis de tortura, mas em sua essência registra pontos de vista nunca antes obtidos dos julgados traidores e ex-terroristas, respectivamente pela esquerda e direita. No geral, o documentário é bem temperado, mas é preciso um paladar treinado para lembrar e saborear as nuances amargas de uma digestão passada, mas semelhantes ao atual momento político brasileiro. 

Para Antenore, o objetivo inicial do filme era discutir as questões da esquerda na época da ditadura, mas, com a guinada política brasileira a partir de 2018, o rumo da narrativa mudou. “Foi a partir do primeiro corte, quando a gente percebeu que o Brasil tinha guinado para a extrema-direita, que a gente sentiu a necessidade de um posicionamento nosso e estabelecer um diálogo mais claro”, relatou em coletiva de imprensa.

 

Documentário Presidente é o vencedor da categoria internacional do Festival É Tudo Verdade.
Presidente é o vencedor da categoria internacional da 26° edição do Festival É tudo Verdade [Imagem: Reprodução/ Festival É Tudo Verdade/ Facebook]
Na mesma temática de regimes ditatoriais, o vencedor da categoria internacional foi Presidente (2021), dirigido por Camilla Nielsson. O filme mostra a disputa eleitoral do jovem político Nelson Chamisa e o velha-guarda Emmerson Mnangagwa na cidade de Mugabe, no Zimbábue. 

O documentário explora não só a situação dos agentes políticos durante a disputa eleitoral pela presidência do país africano, como também contextualiza uma suposta eleição democrática em um país historicamente marcado por fraudes eleitorais. Presidente também é perspicaz ao aflorar as questões de rivalização e perseguição política, influência da mídia e da administração global na política nacional do Zimbábue e por fim a manipulação do sistema eleitoral nacional por um partido casado com o autoritarismo

O filme capta cada momento de forma única e cria uma narrativa de suspense que muitas vezes transita entre os vários gêneros da produção cinematográfica. A história é envolvente e a revolta com a influência política que certo partido tem sobre as instituições do país nos coloca na realidade do Zimbábue, além de nos injetar um estado de catarse ao retornar à realidade brasileira no final do documentário. Camilla Nielsson revela que a narrativa do filme foi construída de acordo com a observação dos acontecimentos. “Nós apenas observamos, filmamos o que aconteceu e então construímos a história. Foi assim que o documentário foi feito”, revelou na coletiva.

Os dois documentários caminham para trajetórias trágicas em razão dos regimes autoritários que narram e descrevem e, coincidência ou não, ganharam a competição. A intersecção dos filmes é a potencialidade deles em destacar os perigos de regimes ditadores e autoritários, que são ainda mais amplificados diante da pertinência, visibilidade e urgência do debate acerca do tema.

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