Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Um dos filmes em evidência na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é Rustlers (Cuatreros, 2017), um documentário argentino dirigido, roteirizado e narrado por Albertina Carri. Ele fala, em um primeiro ângulo, sobre a produção de um longa baseado na história de Isidrio Velásquez, revolucionário e bandido argentino morto pela polícia nos anos 60. Entretanto, como a própria Carri diz, Rustlers é “uma instalação cinematográfica”, a qual mais do que documentar a vida de um personagem histórico, mostra todo o contexto sócio-político da América Latina nos conturbados anos 60.
Albertina Carri, filha do ativista e escritor Roberto Carri, em cujo livro ela se inspirou para sua tentativa de cinebiografia de Velásquez, mostra como a Argentina sobreviveu durante anos de ditadura e repressão, através de arquivos visuais dos mais variados, desde filmes até comerciais de TV. Além de falar da história de seu país, ela conta a história de sua família e como tudo isso foi necessário para que esse documentário ganhasse vida.
A produção do filme é bem interessante, porque mescla, em uma mesma tela, vários vídeos simultaneamente. Entretanto, certas referências só serão entendidas por argentinos que viveram esse período. Também, a narração de Carri tem uma dramaticidade que só acrescenta ao enredo.
A história de Velásquez acaba por ficar em segundo plano, diante de tudo o que é contado. Carri mostra as ditaduras latino americanas, na segunda metade do século XX, incluindo o Brasil, com arquivos que desmontam a imagem vilanizada de Isidrio, explicando todo o contexto de sua luta.
Rustlers, além de um documentário sobre a tentativa de produção de um filme, é uma enorme aula de história, que mostra, por diferentes ângulos e fontes, as revoluções, lutas e repressões fervilhantes em uma América Latina coberta de ideologias em choque. Albertina Carri usa sua vida e a de Velásquez para contar a história do povo argentino em um período conturbado e sangrento do país.
Por Maria Carolina Soares
mcarolinasoares@uol.com.br