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41ª Mostra Internacional de Cinema de SP: The Square

Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui. A apreensão desenvolvida pela série de fatores que The Square (2017) explora pode ser precedida por uma certa expectativa de fechamento ou conclusão. “O Quadrado”, nesse sentido, pode ser entendido como o próprio título do longa …

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Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

A apreensão desenvolvida pela série de fatores que The Square (2017) explora pode ser precedida por uma certa expectativa de fechamento ou conclusão. “O Quadrado”, nesse sentido, pode ser entendido como o próprio título do longa do sueco Ruben Östlund, ou, ao mesmo tempo, como o da exposição sobre a qual o enredo gira em torno. “O Quadrado é um santuário de confiança e carinho. Dentro dele dividimos direitos e obrigações iguais”: esse é o conjunto de valores que definem a exposição a ser inaugurada em um importante museu de arte contemporânea de Estocolmo. Ao mesmo tempo, ela passa a ser um ponto importante no decorrer da trama de Östlund, por conseguir conectar diferentes pontos do enredo.

The Square
Imagem: reprodução

A metáfora parece dialogar com diversos momentos do longa, mas, como é possível perceber com seu desenvolvimento, ela mesma parece ser uma satirização. Porque algo que The Square deixa claro é a sensação de ambiguidade e incerteza: tanto em relação ao que efetivamente pode ser considerado real ou irreal, quanto para a mensagem que está sendo passada.

De início, a personagem de Christian (Claes Bang) nos é apresentada como se imaginaria um curador-chefe de museu na Suécia: impecável, inteligente e com um ar de superioridade. Esse ar é evidenciado, ao mesmo tempo, com presença de arrogância e pretensão, imperceptível a ele mesmo. Até a entrevista de Christian com a jornalista americana Anne (Elisabeth Moss), The Square encontrava-se relativamente estático, com uma ou outra ironia e satirização que marcariam o filme inteiro, mas muito longe do que aconteceria após o momento do roubo do seu celular.

É porque esse momento parece ser a porta de entrada (mesmo que indireta) para a série de absurdos isolados que irão permear o filme até seu fim. Em certos momentos parece se estruturar, inclusive, como uma série de pequenas  sketches de comédia. Isso se deve à falta de continuidade direta, mas claro que todos contribuem para imprimir cada vez mais sentido ao todo e são cuidadosamente pensados. As críticas e provocações são várias, umas mais implícitas e satíricas que outras.

Mesmo com a grande quantidade de informação presente durante os momentos, algo que une a todos da melhor forma possível é a ideia subentendida de hipocrisia, que pode ser direcionada a contextos específicos (o mundo da arte ou da propaganda), temas específicos (o interesse seletivo da população e a contradição de um comportamento politicamente correto insustentável), ou à forma de vida ocidental no geral. Esse fator é ainda potencializado quando a sociedade apresentada é a sueca, conhecida internacionalmente pelo seu avanço em questões sociais e humanas no geral, mas que The Square consegue desmascarar com facilidade, seja pela presença forte de mendigos claramente negligenciados ou pela reafirmação pretensiosa da elite e, mais especificamente, pela elite artística.

The Square
Imagem: reprodução

Independente da crítica a ser feita, algo presente em diversos momentos é o absurdo e o surreal. Ou seja, o contexto de ironia é levado a um ponto em que a crítica não é feita através de cenas objetivas e sérias, mas por meio da criação de situações tão extremas que a separação entre aquilo que é real ou irreal torna-se difícil de realizar mas que, ao mesmo tempo, cumprem seu papel em provocar.

 

Por vezes a absurdidade é tão grande que chega a ser questionável: será que essa série de fatos tem um sentido concreto? A noção de que o filme em si pode estar zombando não apenas dos elementos que critica mas ao mesmo tempo do seu próprio espectador não é uma possibilidade distante.

Mesmo assim, não é pela sua surrealidade que deixa de haver momentos sérios ou de tensão. Pelo contrário: por vezes, esse fator contribui para uma maior apreensão em quem assiste.

Ao mesmo tempo, a ideia da metáfora do quadrado estar presente durante todo o longa torna-se mais plausível ao percebermos a aparição da figura em momentos diferentes. É vista diversas vezes no decorrer do filme, principalmente em momentos de maior divergência para Christian. Além disso, ao usar enquadramentos em plano fechado em momentos mais tensos, parece haver algo fora desses que atrapalha a comunicação entre as personagens. De certa forma, a ideia de que o próprio enquadramento (ou o que ocorre dentro dele) estaria relacionado à metáfora da exposição é explorada. Ou seja, dentro dele tudo deveria funcionar idealmente, e sempre há fatores externos que acabam por complicar essa relação.

The Square
Imagem: reprodução

The Square foca na inversão de prioridades e na hipocrisia de suas personagens, por vezes de uma forma tão meticulosamente planejada que pode ser inacessível e faz o filme se virar contra ele mesmo. Porém, a dramatização absurda e surreal ajuda a complementar as críticas, expor contradições e em certos momentos até envergonhar a sociedade que retrata e aqueles que assistem.

Trailer:

por Daniel Medina
danieltmedina@gmail.com

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