Este filme faz parte da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
Michael (Georg Friedrich) é um pai divorciado. Manteve-se na Alemanha enquanto seu filho e ex-esposa mudaram de país e não tiveram nenhum contato por anos. Com a morte de seu pai e o funeral acontecendo no norte remoto da Noruega, Michael enxerga uma chance de se reaproximar do filho, Luis (Tristan Göbel). É assim que os dois, vindos de mundos, gerações e vivências diferentes, embarcam em uma viagem pelo país nórdico e protagonizam Noites Brilhantes (Helle Nachte, 2017), filme alemão e norueguês presente no Festival de Cinema de Berlim e na 41ª Mostra Internacional de São Paulo.
A relação entre pai e filho é o ponto principal do filme. Ela é complicada, distante, cheia de espinhos e mágoas. Os dois não conhecem nada um do outro e o abismo entre eles é claro para o público. Michael faz incessantes tentativas de aproximação, mas Luis não as recebe de maneira aberta e reage como qualquer adolescente magoado faria:, com rejeição. Ambos possuem traumas e problemas passados não resolvidos, o que causa um clima de estranhamento no início, certo constrangimento. Aos poucos percebemos que Michael, que não teve uma boa relação com seu pai e agora não tem mais chance de consertá-la, não quer repetir o mesmo erro com o filho. Obrigados a ficarem juntos naquele ambiente longínquo, os dois não têm outra alternativa a não ser tentar se dar bem. E é com essas pequenas aberturas, especialmente por parte de Luis, que uma gradual aproximação acontece. Mesmo com todos os defeitos e erros dos dois – afinal, são humanos – isso não impede o perdão e a chance do recomeço rumo à conciliação.
Além disso, a natureza também é protagonista do longa. Só por se tratar de uma viagem pela Noruega, lugares extravagantes e de tirar o fôlego já são esperados. Os cenários se comportam como uma extensão dos personagens, ora cinzentos e melancólicos, ora quentes e cheio de vida. Tomadas longas e amplas nos revelam toda a grandiosidade da Noruega e proporcionam cenas contemplativas muito bonitas. Outro destaque positivo é a cinematografia: belos enquadramentos, ângulos e a iluminação feita pela luz natural do solstício de verão.
Com todo esse cenário intimista, não espere muita ação. O filme é basicamente composto por cenas de Michael e Luis sozinhos em meio à natureza e são poucos os personagens coadjuvantes. O ritmo chega a ser lento e um pouco arrastado, principalmente pelas longas cenas contemplativas. Mas a lentidão é apenas o reflexo do gradual reconhecimento e aproximação entre os dois. Além disso, o silêncio é bastante importante na obra, dizendo às vezes muito mais do que qualquer diálogo e amplificando a sensação de constrangimento entre pai e filho. As atuações são comedidas e os atores revelam suas emoções sutilmente por olhares e atitudes, de modo a conferir um Urso de Prata de melhor ator para Georg Friedrich.
O filme acaba com um clima otimista e esperançoso. O final é aberto e o público fica em dúvida até onde essa aproximação e contato podem chegar. No final das contas, Noites Brilhantes consegue entregar um filme visualmente bonito, sensível e humano, retratando as relações afetivas de forma sutil e verídica.
Confira um trecho do filme:
https://vimeo.com/201516666
por Giovanna Simonetti
g_simonetti@usp.br