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44ª Mostra Internacional de SP: ‘La Francisca, Uma Juventude Chilena’

Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.  Uma mesma praia e dois vislumbres diferentes: um, com as cores naturais da paisagem e outro, marcado por um filtro rosado.  Intercalados, esses dois pontos de vista introduzem o espectador …

44ª Mostra Internacional de SP: ‘La Francisca, Uma Juventude Chilena’ Leia mais »

Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. 

Uma mesma praia e dois vislumbres diferentes: um, com as cores naturais da paisagem e outro, marcado por um filtro rosado. 

Intercalados, esses dois pontos de vista introduzem o espectador ao olhar e às aspirações de Francisca (Javiera Gallardo), com seus charmosos óculos de sol rosas. Ela é a jovem de 19 anos que dá título e corpo a La Francisca, Uma Juventude Chilena (La Francisca, Una Juventud Chilena, 2020). Um retrato, realizado por Rodrigo Litorriaga, de uma juventude enclausurada, entediada e com o simples desejo de poder ver mundo por outras perspectivas.

O longa-metragem de estreia do diretor chileno (co-produção chilena, belga e francesa) se passa na pequena Tocopilla, no deserto do Atacama. Lugar onde moradores já estão acostumados com abalos sísmicos que podem despontar a qualquer instante. Francisca vive ali com a família: uma mãe indiferente, calada na maior parte do tempo, um pai alcoólatra e violento e um irmão mais novo, recém diagnosticado com autismo. 

A família é sustentada pelas peças de costura produzidas pela mãe e pelo pequeno posto de gasolina localizado na área externa da casa — em tese, administrado pelo pai. À Francisca, cabe auxiliar nessas tarefas. Quando não está no posto, atendendo os vários viajantes ali somente de passagem, exaladores de uma liberdade invejável, a garota passa a maior parte do tempo como a segunda mãe de seu irmãozinho, Diego (Aatos Flores).

Sobrepondo-se muitas vezes à paralisia e indiferença dos pais, seu relacionamento com Diego é um ponto emblemático do filme. O garoto, que por conta de sua síndrome se comunica mais por desenhos do que com palavras, sempre recorre a Francisca quando o mundo fica barulhento ou confuso demais. Nessas horas, “feche seus olhos”, ela sempre diz. As cenas representativas do mundo visto por ele — quando passa a vigorar um silêncio de fundo — ajudam a pincelar a confiança que deposita na irmã.

 

Francisca e seu irmão, Diego, deitados na cama dormindo juntos. A relação dos dois é um dos pontos fortes de Francisca, Uma Juventude Chilena. [Imagem: Divulgação/Dolce Vita Filmes]
A relação de confiança entre Francisca e seu irmão, Diego, é um dos pontos fortes do longa. [Imagem: Divulgação/Dolce Vita Filmes]

Para Francisca, o irmão é um dos únicos motivos que a prende naquela cidade. Ela representa uma juventude de “vida Francisca”: fadada a seguir os empregos dos pais e que têm a praia e uma única boate como escapes da mesmice. Em um contexto de marginalidade econômica profunda, a garota junta cada gorjeta conquistada e passa o tempo folheando mapas e roteiros de viagem, preparando-se para ir a qualquer lugar que não Tocopilla.

Nessa saga em busca de novas oportunidades, a história toma novos rumos quando um novo professor de Diego, Fernando (Francisco Ossa), meticuloso e engomado, se oferece para dar aulas particulares para o garoto. Francisca incentiva a participação do irmão nas aulas e usa de seu próprio dinheiro para pagá-las, pensando na melhora de desenvoltura do menino.

 

Francisca, Fernando e Diego interagindo. Diego sentado no banco e os outros dois, agachados a seu nível. [Imagem: Divulgação/Dolce Vita Filmes]
Francisca, Fernando e Diego. A atuação de Aatos Flores para o personagem de Diego surpreende. [Imagem: Divulgação/Dolce Vita Filmes]

O que acontece, no entanto, é o contrário. Diego fica cada vez mais introspectivo e Fernando vai se mostrando cada vez menos engomado. Ao longo do filme, é montado inclusive um jogo metafórico: passagens lentas, que mostram a geografia de uma Tocopilla vista de cima, calma e organizada, acompanhadas por uma narração que destaca números dos terremotos daquele território instável, marcando um contraste com os tremores que se desenrolam por baixo da terra.

Nessa alegoria, está representado o drama que se instauraria na trama. Quando, em meio ao silêncio e a uma calmaria aparente, um princípio de terremoto familiar estaria prestes a eclodir. Sem dúvidas, um ponto marcante na produção, mesmo apresentando um desenrolar apressado que não desperta tanta surpresa pela obviedade de algumas sequências.

La Francisca, Uma Juventude Chilena fica marcado pela imersão em uma das realidades da juventude chilena, possivelmente representativa de tantas outras no contexto latino. E deixa o recado de que, quando vistas somente “por cima”, certas perturbações existentes nas relações, muitas vezes sutis, podem passar despercebidas.

Confira o trailer:

 

*Imagem de capa: Divulgação/Dolce Vita Filmes

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