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44ª Mostra Internacional de SP: ‘Mate-o e saia desta cidade’

Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.  Se você por algum acaso já se interessou em saber o que outra pessoa estava pensando ou como ela formou sua lembrança de algo, o filme Mate-o e saia desta …

44ª Mostra Internacional de SP: ‘Mate-o e saia desta cidade’ Leia mais »

Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. 

Se você por algum acaso já se interessou em saber o que outra pessoa estava pensando ou como ela formou sua lembrança de algo, o filme Mate-o e saia desta cidade (Kill It and Leave This Town, 2020) talvez possa te proporcionar algo parecido. Dirigida pelo animador Mariusz Wilczynski, a animação polonesa que demorou mais de 10 anos para ser produzida narra as memórias da vida do diretor na década de 1970.

Trata-se da história da relação conflituosa de Mariusz (Mariusz Wilczynski) com a morte. No filme, o personagem se encontra em uma conexão tão forte com aqueles que morreram e que foram significativos em sua vida — em especial Barbara (Barbara Krafftówna), sua mãe — que cria em sua mente uma cidade para todos esses personagens reais e fictícios. Apesar de conseguir essa relação em sua imaginação, acompanhamos o profundo processo de desprendimento do protagonista desse mundo para a realidade.

Trem que conduz os personagens pela cidade imaginária de Mariusz [Imagem: Reprodução/Mariusz Wilczynski]
Em uma cena emblemática de Mariusz e sua mãe, Wilczynski se vale da metalinguagem e deixa claro ao telespectador que o filme é sobre suas lembranças: ele comenta que a obra que está produzindo é uma animação que conta com a trilha sonora de Tadzio Nalepa, que na vida real é o compositor Tadeusz Nalepa, o qual também tem suas músicas no longa. A trilha de Napela, em um tom mais calmo, passa ao espectador uma sensação de envolvimento, monotonia e de melancolia próprios dos pensamentos do protagonista.

A animação do filme se caracteriza por ser na maior parte do tempo chapada, ou seja, em 2D, por trazer o aspecto de papel com a sobreposição de imagens — as quais dão a impressão de colagem — e também pelo desenho dos personagens e elementos da cena terem a aparência de um rascunho. Embora conte com esse aspecto de rascunho, é justamente isso que confere expressividade aos personagens — aqui cabe ressaltar as formas mais triangulares e com pontas, que ressaltam as impressões mais “sombrias” das imagens. Considerando os momentos de tela preta que marcam transições de cena, esse desenho mais riscado se aproxima da ideia de representação da memória, enquanto lapsos e algo não definitivo.

A respeito das transições há de se destacar uma que ocorre na simbólica cena de Barbara na cama, em que a transição usada é a match cut (fundição entre cenas), a mesma usada no filme de Stanley Kubrick, 2001: Uma Odisseia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), na qual o osso lançado se transforma em uma espaçonave. Na obra, a fundição das cenas pôde ser vista através de gotas.

Em meio ao desenho chapado predominantemente em tons sóbrios, quando surge alguma luz ou cor vibrante, esses elementos ganham notoriedade, e não à toa. Pela luz, mais precisamente por seu apagar, podemos notar a marcação de início e fim da animação: no começo um explícito acender e ao final um sútil apagar, ambos relacionados a história de Mariusz em sua cidade imaginária. Pela cor, o vermelho é a que mais se destaca seja pelo sangue, pelo característico laço de Barbara, ou pelo cigarro.

[Imagem: Reprodução/Mariusz Wilczynski]
Por ter uma proposta íntima e de memória com a vida do diretor, o filme brinca com o tempo: vai e volta sem muitas vezes ter o compromisso de explicar para o espectador esses movimentos. A animação prende a atenção também por sua estranheza, com  inversões dos papéis normalmente desempenhados por humanos e pelos animais, desproporções propositais dos elementos das cenas, nudez e perspectivas empregadas — como focar em só um personagem e não nos mostrar o outro que também está participando.

Ainda sobre a forma de Mariusz lidar com a morte, temos a presença do relógio em alguns momentos, além da odiosa relação com as moscas, que aparecem a indicando. A abordagem que o filme adota para tratar do envelhecimento, com vai e vens entre as idades ajuda o espectador a entender a angústia do protagonista, e isso se faz claro, pois os personagens sabem que estão em uma cidade imaginária e se intrigam por Mariusz ser jovem e tão triste, o que nos indica que talvez permanecer naquela cidade não seja o ideal.

Mate-o e saia desta cidade é um filme particular, por isso não sempre fácil de se entender, já que nem todos os momentos possuem seus significados dados explicitamente. O espectador é escolhido para o compartilhamento de uma memória fragmentada que chega a ele através da animação em uma linguagem característica e marcante.

Confira o trailer:

*Capa: [Imagem: Reprodução/Mariusz Wilczynski]

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