Esse filme faz parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto.
Como reagir a emoções que inundam a cabeça pela primeira vez? Ou melhor, como reagir a elas quando falar não é uma possibilidade? Verão Branco (Blanco de Verano, 2020), longa de estreia do diretor mexicano Rodrigo Ruiz Patterson, é um drama sobre o fim da infância. Ali, o amor, a dependência emocional e ciúmes são sentidos pela primeira vez e coexistem de maneira conflituosa no introvertido Rodrigo (Adrián Rossi), de 13 anos.
Filho único, a mãe parece ser sua melhor amiga. Com ela, Valeria (Sophie Alexander-Katz), Rodrigo compartilha uma intimidade profunda, construída delicadamente ‒ e de maneira dançante ‒ logo nos primeiros momentos da trama.
Inseparáveis, o filho reproduz até o ato de fumar da mãe (não que ela soubesse disso). Se Freud fosse vivo talvez dissesse que a relação dos dois é coisa-meio-de-Édipo, mas ela não foi construída desta forma no longa. Parece que os realizadores demarcaram logo no início esse laço indestrutível, preparando o clima para o desalento que estaria por vir.
Em certo momento, Rodrigo depara-se com um desconhecido dentro de casa. Era Fernando (Fabián Corres), engravatado com quem Valeria começa a se relacionar e que logo viraria namorado. Em tempo mais curto ainda, ele já despejava todos os seus móveis e pertences na calçada daquela casa antes pertencente à mãe e ao filho. Da perspectiva do garoto, maneira pela qual o longa é guiado, Fernando era um intruso.
Essa mudança brusca, que simbolicamente recobriu as paredes coloridas com o insosso “branco verão” ‒ cor de tinta que dá título ao longa ‒, acaba criando uma disputa de espaços. Aos poucos, aquele laço quase tão potente quanto o umbilical vai se desatando, abrindo espaços para atritos intensos.
![A imagem é uma cena de Verão Branco. Na imagem, Rodrigo aparece de costas, observando o fogo que ele mesmo criou e com o trailer ao fundo. Rodrigo acaba encontrando refúgio em um trailer abandonado. [Imagem: Reprodução/Centro de Capacitación Cinematográfica]](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Rodrigo-de-Varao-Branco-Imagem-Reproducao-Centro-de-Capacitacion-Cinematografica.png)
O garoto, sempre munido de um isqueiro para alimentar o vício herdado da mãe, parece fazer do fogo um escape aos borbulhos internos. Um pré-adolescente moderadamente piromaníaco: talvez essa tenha sido a maneira pensada pelos roteiristas para retratar um sentimento de rebeldia e revolta que, assim como as proporções das chamas, só cresceria ao longo do filme.
Isso acaba sendo um jogo interessante que dá ainda uma caracterização mais particular a Rodrigo, personagem mais próximo dos espectadores. Além disso, a fotografia enquadrada por María Sarasvati Herrera vai variando entre espaços de cores de fogo e outros mais gelados, como um misto de sensações daquele garoto que guardava para si toda confusão.
![Rodrigo e Fernando ganham destaque nas cenas em que o padrasto tenta ensinar o garoto a dirigir. Na imagem, os dois dentro do carro, Fernando dirige e Rodrigo segura um cigarro. [Imagem: Reprodução/Centro de Capacitación Cinematográfica]](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2020/12/Rodrigo-e-o-padrasto-Fernando-Imagem-Reproducao-Centro-de-Capacitacion-Cinematografica.png)
Direcionando a atenção para os diálogos fortes e intensos, Verão Branco vai mostrando como as relações humanas podem ser complicadas: cada mínimo gesto e ação podem derrocar em explosões violentas. Com uma história honesta, que intercala momentos divertidos e suspenses suscitadores de uma agonia considerável, o diretor estreante dá vida a uma narrativa única com apenas três personagens que habitam uma das muitas casas padronizadas da cidade mexicana retratada.
Você pode conferir o trailer aqui:
*Imagem de capa: Divulgação/Centro de Capacitación Cinematográfica