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45ª Mostra Internacional de SP | ‘Capitães de Zaatari’

A produção egípcia é uma porta de entrada para a realidade em um campo de refugiados e também um retrato do esporte como esperança de um futuro melhor

Fawzi e Mahmoud vivem no campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, e sonham em se tornarem jogadores de futebol profissionais. Para isso, treinam todos os dias em uma quadra improvisada. Ao longo da trama, acompanhamos as emoções dos dois ao participarem de uma seletiva que os leva a treinar profissionalmente no Catar e também as decepções que se apresentam nessa jornada desafiadora.

Dirigido pelo estreante Ali El Arabi, o filme Capitães de Zaatari (2020, مخيم الزعتري,) comunica muito a cada cena. Se, do camarote de nossas casas, guerras distantes parecem apenas mais um espetáculo pirotécnico na televisão, El Arabi consegue quebrar barreiras da camarotização e entregar ao espectador a proximidade com o cotidiano de quem sofre as consequências de destruições aparentemente momentâneas.

O campo de refugiados é cenário central em boa parte do longa, e, por central, quero dizer que o enquadramento da imagem parece muitas vezes priorizar o cenário, e não os personagens. É quase como se a mensagem transmitida fosse “os personagens que se arrumem nesse recorte, pois o cenário não vai mudar de lugar”. E de fato, o que se nota a todo tempo — desde as ações mais simples, como marcar um exame, ou até as mais complexas, como planejar uma carreira — é a influência limitadora do status de refugiados em suas vidas.

 

Cena de Capitães de Zaatari, em que uma fila de pessoa se encontra dentro de muros gradeados.
Fawzi e Mahmoud na fila para a entrega de suprimentos. [Imagem: Reprodução/Mostra Play]
O futebol é um refresco dessa realidade. Meninos jogam sobre a areia e se imaginam em vastos gramados; olham para o sol no horizonte e procuram um futuro para si além daqueles limites. Contudo, é impossível separar o esporte das condições em que estão inseridos, afinal Zaatari é tão protagonista quanto os capitães. A esse ponto, o futebol é, acima de tudo, a esperança de ter os direitos de um cidadão.

Retidos por cercas e morando em habitações precárias, sair daquela área delimitada para trabalhar ou buscar um serviço básico representa o risco da deportação. Quando a educação formal parece não valer à pena porque, naquele país, tudo o que os define é serem refugiados e, aos olhos dos nativos, cidadãos incompletos, a excepcionalidade de tornar-se um astro do esporte parece agregar a qualquer um valor suficiente para ser querido como integrante da sociedade. 

 

Cena de Capitães de Zaatari, em que meninos jogam futebol em um campo de terra.
Meninos do campo de Zaatari jogando na seletiva. [Imagem: Reprodução/Mostra Play]
Por meio de enquadramentos oscilantes, que se aproximam e se afastam dos personagens, do foco em elementos periféricos e de uma sonoplastia simples, que orienta a atenção aos ritmos e silêncios dos diálogos, o espectador pode imaginar que são seus próprios sentidos capturando tais detalhes. A essência silenciosa dos elementos faz de quem assiste parte ativa da obra, traduzindo emoções que não precisam de legenda para serem compreendidas.

Capitães de Zaatari traz como plano de fundo a forma em que a geopolítica determina minúcias até então imperceptíveis a quem não as vive. Em primeiro plano, são apenas dois adolescentes como quaisquer outros que jogam, amam e se esforçam para realizar um sonho. E quando Mahmoud diz, em uma coletiva de imprensa após seu primeiro jogo televisionado, “criem oportunidades para todos os refugiados do mundo”, vê-se que o futebol é também sua forma de contribuir para que outros jovens tenham a oportunidade de escolher ser o que quiserem.

Nota do Cinéfilo: 4,5 de 5. Ótimo!

 

Esse filme faz parte da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Reprodução/Mostra Play

 

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