O filme Os anos 20 (Années 20, 2021), acompanha uma tarde de vários personagens que voltam a percorrer as ruas de Paris durante o contexto pandêmico. A obra destaca as transformações sociais causadas pelo isolamento e pela quarentena na capital francesa, por meio do novo cotidiano das pessoas.
O que desperta a atenção inicial é a multiplicidade de personas, o longa Os anos 20 conta com 24 atores, que aparecem aos pares dialogando. Os que estão em cena são os protagonistas do momento, enquanto os outros somem da trama.
A pluralidade de personagens, de um lado, é extremamente positiva, pois traz um contato com muitas culturas, temas e estilos de vida diferentes e comuns da cidade. Do outro, tal dimensão torna inviável o desenvolvimento das personas com o pouco tempo de filme, assim alguns possuem o risco de parecer desinteressantes ao público.
A representação de Paris é o ponto máximo de Os anos 20. As escolhas visuais, com uma fotografia e iluminação natural, dão uma imersão total à Cidade Luz. Nesse sentido, o espectador cria laços com a localidade mesmo sem ter nenhuma experiência prévia. O tempo da ficção acompanha o tempo real, ver o filme significa viajar e passar uma tarde por lá.
Tudo isso só é possível porque a seleção dos cenários parisiense também é certeira, os ambientes escolhidos apresentam muitas das suas mazelas: bairros de diferentes classes econômicas, transporte público, o rio Sena e um dos mais famosos ambientes da cidade, a praça da República.
A narrativa histórica da capital francesa ainda se faz presente na trama de Os anos 20 , Paris é historicamente um símbolo de liberdade e do caos. Dado o contexto da obra, Os anos 20 aproveita bem essa concepção para trazer reflexões dos efeitos do isolamento aos moradores.
Na retomada das relações concretas, tanto a liberdade como o caos estão pressupostos nos diálogos entre os personagens. Existe sempre a liberdade de se falar de questionamentos de problemáticas da sociedade e na abordagem de temas tabus, ao mesmo tempo que as angústias das imperfeições da vida e toda efemeridade por trás da existência também estão presentes.
Ambos são responsáveis por criar uma relação intimista com certos personagens, que diante das falas complexas e ricas, conseguem enunciar ao público aprendizados e boas reflexões sobre a vida.
No entanto, a complexidade nos diálogos também cria outro ponto negativo: há um distanciamento do falar popular. Ao priorizar um roteiro com muitos temas reflexivos, as situações menos abstratas do dia a dia, isso é as conversas menos maçantes, sem profundidade e sem nenhuma finalidade, ficam restritas a poucas cenas.
Esse filme faz parte da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação / 21juin Cinema