Se há quem acredite que o primeiro filme de um diretor determina toda sua trajetória cinematográfica posterior, Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992) é um bom exemplo para embasar tal crença. O “primogênito” já continha as principais características do Tarantinos’ Way of Life, sem deixar nada a desejar às suas atuais obras. Violência pra dar e vender, alusão à cultura pop, utilização verborrágica de palavrões – especialmente da expressão “fuck”- e narrativa não-linear se fazem presentes desde esse primeiro momento do cineasta.
Cães de Aluguel começa revelando algumas idiossincrasias “tarantinescas”: oito homens em um restaurante discutindo assuntos de extrema futilidade. Mr. Brow (Quentin Tarantino) disserta sobre sua tese a respeito do conteúdo e das referências da música “Like a Virgin” da cantora Madonna. Enquanto isso, Mr. White (Harvey Keitel) e Joe Cabot (Lawrence Tierney), um gângster de Los Angeles, discutem sobre sua agenda de endereços e Mr. Pink (Steve Buscemi) faz quase uma moção de repúdio à prática moralmente obrigatória de dar-se gorjetas aos garçons e garçonetes. A personalidade do diretor já pulsa nessa primeira cena. Os diálogos de banalidades tratados como discursos de suma importância e a “palhinha” de Tarantino como ator começam a revelar sua maneira de se fazer cinema.
As cenas seguintes narram, de uma maneira não-sequencial, os acontecimentos antecedentes e subsequentes a um roubo de diamantes. Joe Cabot e seu filho, Eddie Cabot (Chris Penn), “alugam” seis criminosos profissionais para realizar o assalto. Todos não se conhecem e usam nomes de cores como apelidos – Mr. Pink, Mr. Brown, Mr. White, Mr. Blonde (Michael Madsen), Mr. Orange (Tim Roth) e Mr. Blue (Edward Bunker) – para que não haja intimidade alguma entre os assaltantes e o crime possa ocorrer como o planejado. Entretanto, a gangue é surpreendida pela chegada repentina da polícia, o que os faz acreditar em uma suposta traição por parte de algum dos integrantes do grupo. Mas quem os teria traído?
O filme que apresentou Tarantino para o mundo dos diretores foi consagrado pela Revista Empire como o maior filme independente de todos os tempos e se tornou um pop-cult para os fãs de cinema underground. Tendo como referência obras consagrados, tais como O Grande Golpe (The Killing, 1956) de Stanley Kubrick, Os Quatro Desconhecidos (Kansas City Confidential, 1952) de Phil Karlson e O Império do Crime (The Big Combo, 1955) de Joseph H. Lewis, Cães de Aluguel demonstra a maneira que o mais famoso dos cineastas por trás da revolução de filmes indies da década de 1990 conseguiu utilizar-se do “clássico” para criar o seu próprio estilo, devastando o mundo das telonas.
por Beatriz Moura
bia.vlm@gmail