No último sábado, 10, Santa Bárbara d’Oeste estremeceu. A cidade recebeu, em sua cativante Estação Cultural, a primeira edição do festival Onde Pulsa a Nova Música, que além de dar espaço a bandas nacionais independentes, promoveu um bate-papo sobre música, jornalismo e produção cultural. O debate contou com a presença dos grandes Carlos Miranda (produtor musical, muito conhecido por sua participação como jurado do programa Ídolos), Pablo Miyazawa (editor-chefe da Rolling Stone Brasil) e Lucio Ribeiro (do blog Popload).
Grande parte da discussão girou em torno da questão da cena musical independente no Brasil e, principalmente, em São Paulo. Para Miranda, ela está muito longe de ser consolidada de fato. “Falta, hoje, um entorno para a música ter mais pernas para se sustentar”, afirmou o produtor, que por entorno quis fazer referência às figuras dos produtores, agentes e também a casas de show abertas para as bandas independentes. Além disso, Miranda buscou desmistificar os conceitos de música boa e ruim. “Em arte não tem ruim e bom. Tem o que te toca ou não”, afirmou. Sobre axé, sertanejo e funk, gêneros musicais que geralmente sofrem preconceito na cena alternativa, o produtor foi bastante polêmico: disse, em tom de recado, que é necessário prestar atenção nos artistas desses gêneros que fazem sucesso, pois “pode ser que ali tenha uma lição (a ser aprendida)”.
Entre um divertidíssimo causo e outro contados por Miranda, a conversa fluiu de uma maneira leve. Pablo Miyazawa levantou a questão da música brasileira jovem não depender mais da guitarra – ela vai além da formação tradicional baixo, guitarra e bateria. Lucio Ribeiro questionou a maneira tradicional de se fazer crítica musical – para ele, não existe mais crítica e, sim, curadoria: em seu blog, ele apresenta apenas bandas de que gosta, para quem quiser ler. Ou seja, para ele as críticas negativas são desnecessárias.
Os shows
A banda Quinta Que Vem foi a primeira a subir ao palco do festival. Com uma espontaneidade sincera, a banda, que foi formada no início do ano, mostrou uma maturidade surpreendente para seu pouco tempo de existência. “A expectativa era X e a realidade foi duas vezes X, muito mais legal do que a gente esperava”, afirmou o vocalista André Ribeiro. O baterista Guilherme Garofalo acrescentou: “é muito difícil ver um evento dessa magnitude em São Paulo, e num lugar legal assim. Lá e desconfortável”.
Logo após foi a vez da About a Soul, que trouxe uma pitada de folk ao festival em um show muito bonito. Apesar do início mais contido, não deixaram de pôr à tona todo o seu potencial para ir cada vez mais longe. O maranhense Phill Veras e sua banda foram os próximos a subir ao palco e fizeram, com certeza, um dos shows mais envolventes do dia. Phill é bastante introvertido e canta muitas vezes com os olhos fechados, e é justamente isso, em conjunto com o lirismo sincero de suas letras, que torna o show bastante intimista. É preciso dar destaque, também, à bateria incrível e marcante de André Grolli (que chegou a tocar, inclusive, com as mãos – sim, sem as baquetas!), que combina com o cantar delicado de Phill.
Com a chegada da banda Oito Mãos teve início a pegada mais rock do festival. Era comecinho da noite, e as guitarras mais pesadas e os vocais sincronizados em alguns momentos entre os quatro membros da banda mostraram o grande show que ela é capaz de fazer. A Soulstripper, que veio em seguida, trouxe uma performance divertida com solos de guitarra marcantes, uma batida levemente inspirada no rock dos anos 60 e muitos fãs cantando, em coro, as músicas da banda – principalmente o hit “Não trocaria um sorvete de flocos por você”, famosa por conta desse clipe bonitinho:
A primeira edição do festival não poderia ter sido fechada de maneira mais grandiosa. Foi a Nevilton, banda do interior do Paraná, a última a subir ao palco da Estação Cultural. Com gritos de “Sacode, Santa Bárbara!” – fazendo alusão ao seu último disco, lançado neste ano, intitulado “Sacode!” – Nevilton fez com que ninguém ficasse parado. À beira do palco, alguns fãs dançavam e cantavam as músicas; um pouco mais atrás, quem não conhecia observava a banda com muito interesse e curiosidade. Se o público já não parava de dançar, o vocalista, que dá nome à banda, com sua incrível presença de palco não parou por um minuto durante a uma hora e meia de show.
Para Christian Camilo, um dos principais organizadores e realizadores do festival, é difícil medir sua importância – e isso é muito bom. “A gente reuniu pessoas que estão atrás de um computador, espalhadas; bandas que vêm de longe, tem banda do Maranhão aqui, de Campinas… As pessoas que vieram aqui representam uma cultura e uma comunidade. E o intuito do Pulsa é ajudar todo mundo a crescer”, afirmou.
Por Ana Carla Bermúdez
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