A Lavanderia (The Laundromat, 2019), distribuído pela Netflix, é uma tentativa de sátira sobre as leis tributárias americanas que permitiram uma sequência de fraudes, descobertas com o caso dos Papéis do Panamá (Panama Papers) em 2016. O roteirista, Scott Z. Burns, faz uma escolha ousada no método de narrativa ao conectar todas as histórias, aparentemente aleatórias, com um elemento narrativo simplório dos narradores, também personagens.
O filme começa com uma abertura clássica hollywoodiana dos anos 1970: dois homens de terno (Antonio Banderas e Gary Oldman) andam em direção à câmera se afastando cada vez mais da tela verde ao fundo enquanto realizam um monólogo sobre a ironia do dinheiro moderno, e o fato de ser nada mais nada menos que um acordo social sobre o invisível.
Depois disso, temos a história de Ellen (Meryl Streep) e Joe (James Cromwell), um casal de idosos que visita o lugar da sua lua de mel e embarca num passeio de barco. O passeio rapidamente acaba com o naufrágio do barco no lago e resulta na morte de Joe e outros 20 passageiros a bordo.
O conflito principal do longa surge quando o capitão do barco ― também dono da empresa responsável pelo passeio, Shoreline Cruises, ― descobre um problema com a seguradora que o impossibilita de pagar a indenização. Para tirar satisfação com a seguradora, Ellen começa a investigar e então somos levados para o enredo principal.
A produção é separada em cinco histórias, intituladas como cinco segredos. Todas elas são apresentadas e narradas por Gary Oldman e Antonio Banderas, que mais tarde são apresentados como Mossack e Fonseca, respectivamente, advogados que possuem uma firma de advocacia no Panamá e realizam o serviço de criação de empresas fachadas para depósito de grandes fortunas de diversos clientes globais para manterem seus dinheiros em paraísos fiscais.
A trama tem uma sensação didática ao explicar, de forma extremamente simples, o significado de diversos conceitos, tais como paraíso fiscal, empresas fachadas (offshores), evasão tributária, entre outros.
Não há, no entanto, uma sensação dinâmica. Os altos e baixos esperados em filmes não estão presente. Tudo acontece de forma linear, e as histórias contadas ― que se mostram como uma tentativa de dinamizar os eventos ― acabam se tornando apenas mais um recurso para a estabilização da obra ao introduzir a narração dos advogados.
De início ao fim o longa não possui um clímax, um conflito principal propriamente dito, ou mesmo uma história. É apresentado como uma junção de fatos e acontecimentos colocados em um grande embaralhador para uma tentativa de crítica ― pouco criativa e original ― do sistema tributário americano. Para uma sátira, ou tentativa de crítica despojada, falta humor e criatividade.
Além do filme não ter nada marcante na sua construção e não passar de mais uma vítima das produções em massa da Netflix, as atuações de Streep, Banderas e Oldman combinam com esse padrão. Performances genéricas, medíocres quando comparadas ao histórico dos atores. Com o roteiro extremamente fraco teria sido um milagre se elas tivessem sido qualquer coisa a mais do que ok. De fato, o que resume o longa é isso: genérico, da trilha à fotografia, performances e construção do enredo.
Apesar de ser baseado em fatos reais, envolvendo casos até como o da Odebrecht, o roteirista e o diretor pouco se aproveitam disso. Continuam, por 96 minutos, jogando casos e histórias rápidas demais para despertar interesse ao telespectador e pouco relevantes para o final que Mossack e Fonseca possuem.
A Lavanderia já está disponível para os assinantes da Netflix. Confira o trailer:
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