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A fascinante batalha pela conquista do público

Começo esta coluna citando o jornalista Clóvis Rossi (1943-2019) muito conhecido nos cursos de Jornalismo por sua trajetória como repórter especial, coberturas internacionais, passagens pelo Jornal do Brasil, Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, neste onde mantinha uma coluna diária, mas também pelo livro  O que é jornalismo (1980). Imagino que todo calouro tenha …

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Começo esta coluna citando o jornalista Clóvis Rossi (1943-2019) muito conhecido nos cursos de Jornalismo por sua trajetória como repórter especial, coberturas internacionais, passagens pelo Jornal do Brasil, Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, neste onde mantinha uma coluna diária, mas também pelo livro  O que é jornalismo (1980). Imagino que todo calouro tenha recebido a indicação de leitura dessa obra por parte de algum professor.

Apesar de parecer datado, afinal sua primeira edição é de 1980, acredito que a leitura desse livro nos traz uma reflexão importante sobre o papel do Jornalismo e, por isso, reproduzo aqui um trecho da introdução: “Jornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos: leitores, telespectadores ou ouvintes. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência extremamente inofensiva: a palavra, acrescida, no caso da televisão, de imagens. (…)”

Hoje, além da escrita, imagens, o que mais precisamos oferecer? Como conquistar a mente e os corações de nossa audiência nesse universo gigantesco de informações? Independente do formato, da época, ou do tipo de público, continua sendo fundamental saber contar boas histórias.

E quem nos ajuda a contar essas histórias? As fontes, sejam elas especializadas ou “comuns”. As fontes são os “portadores de informação”.

É “obrigação” dos jornalistas, desde os segundos iniciais da sua formação, encontrar essas pessoas. Afinal, qual professor ou editor nunca “derrubou” uma pauta porque o aluno, ou repórter, não tinham fontes ou boas fontes? Mas, é importante deixar claro também que as fontes não são apenas pessoas. Documentos, relatórios, dados, instituições, grupos também são importantes referências nessa busca por boas histórias.

Todas as cinco matérias (Maradona: o luto de uma nação; ‘Duna’: Um grande filme que decorre de uma grande história; A diferença na adesão à vacina nos Estados Unidos e no Brasil; A psicologia por trás da polarização política e Pioneira do “feminejo”, Marília Mendonça inspira fãs e novas cantoras que desejam entrar no ramo) mais acessadas para produzir esta coluna trazem fontes, mesmo quando não utilizam aspas. Fica claro que cada um dos repórteres buscou “portadores de informações”, sejam pessoas ou não, para construir seus textos.

Mas, como numa batalha, para vencer é preciso superar muitas etapas. O trabalho do jornalista nunca acaba. Ele pensa na pauta, busca as fontes, ouve as fontes, escreve o texto, edita, busca mais fontes, reescreve, edita e, assim, sucessivamente. O trabalho só “acaba” porque há um deadline (prazo final para a publicação).

E é a partir daqui que começam as minhas sugestões/observações. Sempre penso e falo que a pauta “chama” as fontes. Tem pauta que de imediato pede especialistas. Outras, de pessoas comuns, os personagens. E, num mundo ideal, um texto que traga pluralidades.

Sei o quanto é difícil conseguir esse equilíbrio. Na rotina jornalística há muito o que fazer, portanto, nem sempre o tempo do repórter é o mesmo das fontes.

Dito isso, senti falta da fonte personagem em três textos: Maradona: o luto de uma nação; A diferença na adesão à vacina nos Estados Unidos e no Brasil e A psicologia por trás da polarização política.  Por que?

No texto sobre Maradona a fonte especializada é ótima e entende muito do assunto, mas acaba ficando “repetitivo” ouvir só uma voz o tempo todo. A reportagem traz exemplos, falas do próprio atleta, mas a pluralidade aqui daria mais fluidez. Nesse caso, o bom e velho fã.

Já na reportagem sobre a adesão à vacina no Brasil e EUA há pluralidade, pois temos três fontes especializadas que nos ajudam muito a tentar compreender toda essa conjuntura. Mas, e as pessoas comuns? O que pensam a respeito? Não sei se cabe ao formato, ao que a editoria comporta, mas uma enquete, pesquisa a respeito poderia ser interessante como complemento ao texto. Essas “falas” poderiam estar no texto mesmo ou poderiam ser a base para um infográfico.

No caso do texto sobre polarização política, as informações compartilhadas pelas especialistas são fundamentais e a associação com as torcidas de futebol foi uma ótima sacada. Mas, ouvir alguém que passou ou passa por isso seria fundamental. É só olharmos ao redor para vermos gifs, memes, “brincadeiras” sobre o rompimento com familiares e amigos por causa dessa polarização, principalmente agora com a aproximação das festas de final de ano. Seria importante ouvir essas pessoas para entender como lidaram (ou tem lidado) com isso. Essa polarização, em muitos casos, tem sequelas psicológicas e físicas.

Não quero que os repórteres ou mesmo o público acreditem que a produção dos textos jornalísticos seja uma guerra, mas achei interessante pensarmos na batalha como uma metáfora. Para vencer, cada um dos lados faz uso de armas e estratégias.

Portanto, para conquistar cada vez mais as mentes e corações do público, a equipe da Jota pode considerar essa estratégia de buscar pluralidade de vozes. Seja pensando na categorização das fontes (especialistas ou comuns), seja no recorte social, étnico, gênero.

Que fique claro que não são regras fechadas, afinal, cada texto tem sua característica, mas fica a orientação para que os repórteres e editores pensem a respeito.

 

Observações gerais

Sempre é bom que o jornalista leia, releia seus textos porque sempre escapa alguma coisa. Até porque estamos tão envolvidos que deixamos de enxergar certos pontos. Portanto, sugiro que observem as palavras repetidas, uma pontuação equivocada, o uso de frases não muito bem editada (nem sempre tudo que a fonte fala, do jeito que a fonte fala pode ser colocado no texto), uso de duas aspas seguidas e até a maneira como apresentamos nossas fontes. Nos é ensinado na faculdade de Jornalismo que quando uma fonte aparece mais de uma vez no texto devemos chamá-la pelo sobrenome ou até mesmo pelo cargo/função. Ok, isso não está errado. Mas usar o primeiro nome é sempre mais pessoal, principalmente quando se trata de mulheres. É mais próximo você mencionar Carla, do que Tôzo (uso aqui meu nome apenas como exemplificação).

Essa personalização junto com a pluralidade de fontes são boas “armas” para a conquista do público.

E para finalizar: Boas festas! Que 2022 possa ser mais leve para todos nós.

 

O outro lado

À ombudswoman, os editores escrevem: “Acredito que utilizar o primeiro nome das fontes, ao mencioná-las, seja algo mais pessoal, de fato! Mas a utilização desse recurso especialmente para fontes femininas é algo que me gera algum incômodo – e sei que também incomoda outros colegas meus. Temos conhecimento de que isso é comum no jornalismo, mas consideramos uma padronização machista – não sei se você concorda. Como é bastante comum adotar sobrenomes de fontes masculinas e prenomes femininos, é difícil escapar desse padrão quando escrevemos profissionalmente, fora da faculdade. São poucas as oportunidades de escapar disso, e a Jota nos parece uma delas! No Laboratório, geralmente deixamos que o repórter escolha entre mencionar suas fontes por prenome ou sobrenome – só padronizamos isso dentro do texto, para mencionar fontes masculinas e femininas da mesma forma. E acredito que outros diretores de redação da Jota também trabalhem da mesma maneira. (…)”

 

Refletindo sobre a questão

É interessante quando os editores escrevem que sentem incômodo quando consideramos a padronização de nomes masculinos serem chamados pelo sobrenome e nomes femininos pelo prenome. Por que? Porque eu tenho a sensação contrária.

Na minha formação e início de carreira me foi passado (e em alguns manuais de redação isso ainda persiste) que – independente de ser homem ou mulher – a partir da segunda citação, a fonte deveria ser mencionada pelo sobrenome.

E é daí que vem meu incômodo. A “imposição” da mulher ser citada somente pelo sobrenome (seja do marido ou pai) me faz sentir que ela deixa de ser a Maria, a Carla, a Juliana e passa a ser somente a Tôzo, Gomes, Silva (sobrenomes muitas vezes oriundos do marido e/ou pai), ou seja, é quase como se perdesse o direito a sua identidade. É nesse sentido que refleti.

Mas, com as discussões cada vez mais plurais e a conquista de espaços diversos, as pessoas ganham o direito de serem referenciadas da maneira que quiserem. Com as fontes não é diferente, elas podem ser nomeadas pelo prenome, sobrenome e até apelido. Consequentemente, a editoria decide a melhor maneira de “padronizar” o texto e se comunicar com seu público.

*Carla de Oliveira Tôzo é jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, doutoranda em Comunicação pelo PPGCOM-ECA-USP, professora universitária no Centro Universitário FMU|FIAMFAAM. Foi repórter freelancer em revistas cobrindo temas ligados a beleza, saúde e estética.

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