por Ana Luísa Fernandes
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Michel Ocelot é um animador francês que tem um jeito bem diferente de fazer seus curtas e longas. Misturando sempre a fantasia e o místico, Ocelot se diferencia em uma época em que as superproduções se destacam pelos seus sofisticados efeitos visuais e precisão. Ganhador de diversos prêmios como o César (prêmio atribuído aos melhores filmes franceses em diversas categorias), ele afirma que apesar de fazer animações, seu público alvo nunca foi o infantil. E segundo ele, talvez seja por isso que faz tanto sucesso entre os menores, já que frequentemente crianças gostam de ser tratadas como adultos, e é isso que suas animações fazem.
Uma das peculiaridades de Ocelot é que cada filme produzido possui uma técnica diferente. Ele garante que não quer fazer a mesma coisa em todas as produções, por isso cada uma explora um jeito diferente de contar uma história. E confessa que gosta que as pessoas saibam que aquela história não faz parte da realidade, para que assim, possam entrar no jogo da fantasia. Mas uma coisa é certa: as animações desse francês nunca deixam a produção ser maior que a história contada.
Um de seus mais importantes filmes, Kiriku e a feiticeira (Kirikou et la sorcière, 1998) vem de uma lenda africana. O recém-nascido Kiriku quer salvar a sua aldeia da feiticeira do mal Karaba. Astuto e inteligente, o pequeno Kiriku nasce por conta própria (“Mãe, eu quero nascer” “Uma criança que pede para nascer pode nascer sozinha”) e é sempre subjugado por ser pequeno demais. Apenas sua mãe acha que ele pode sim, derrotar a feiticeira. E o apoia, mesmo com medo de perde-lo.
Kiriku descobre que Karaba é malvada porque há algum tempo homens colocaram um espinho na sua coluna. O espinho, além de provocar uma dor enorme, também era envenenado e dava poderes a feiticeira. Para se libertar, alguém teria que arrancar esse espinho com a boca, e Kiriku estava disposto a fazer isso.
Ocelot já disse que o espinho era uma metáfora para os estupros que Karaba já havia sofrido, e por isso tinha se tornado triste e malvada. Sabendo que um de seus principais públicos é o infantil, o artista disse que esse foi o melhor modo que encontrou para mostrar o assunto para as crianças, mas sem magoa-las. Muitas vezes, ele diz, as crianças entendem assuntos como esses melhores que os adultos. O final do filme é surpreendente.
Além dos longas, Michel Ocelot também é famoso pelos seus curtas. Os três inventores (Les Trois Inventeurs, 1979) foi um curta feito com papel e rendas que enfeitam bolos. Apesar, da simplicidade, o enredo bem construído faz críticas que ainda são atuais, mas sem perder o encantamento e a simplicidade. Já A lenda do pobre corcunda (La Légende du pauvre bossu, 1982) é quase que completamente composta por fotos em sequência. Poucas são as partes em que vemos algum dos personagens se movendo. O curta, que não possui falas, possui uma temática delicada sobre um corcunda que tenta conquistar uma princesa. Humilhado e maltratado pela população, o corcunda descobre através das agressões sofridas sua verdadeira condição e surpreende todos.
Os filmes de Ocelot fogem dos padrões Hollywoodianos por vários motivos: ele preza pelo simples, mesmo quando se aventura em algo mais sofisticado como o 3D. Suas histórias, que envolvem contos de fadas, o imaginário das pessoas, e até mesmo a sua própria vida (ele já disse que todos os seus heróis são versões melhoradas dele mesmo) sempre são impactantes e bem construídas. E ele acerta ao dizer que não direciona suas animações especificamente para nenhum público: todos devem e merecem assisti-lo.