Ao chegar no primeiro andar do Museu da Imagem e do Som (MIS), depois de uma entrada escura, se tem a visão de duas portas: Uma delas, branca, na qual a palavra “White” (Branco) está escrita em seu topo. Ao lado desta, uma porta preta com a palavra “Colored” (De cor) escrita também em seu topo. O visitante pode escolher por qual das portas começar.
Ao adentrar a porta branca, o indivíduo se depara com um quadrado de aproximadamente 1x1m com um texto que indica a entrada pela outra porta. Já ao passar pela porta preta, percebe-se logo uma mudança do clima: O ar quente e imagens de plantações de algodão nas paredes dão início à exposição “B.B. King: um mundo melhor em algum lugar”.

Realizada pelo MIS, a exposição se encontra disponível até o dia 8 de outubro. A história de B.B. King, o Rei do Blues, é contada e usada como um fio condutor para demais temas como preconceito e segregação racial, a partir de uma experiência sensorial.
O projeto tem curadoria de André Sturm e Cacau Ras, consultoria de Chris Flannery, planejamento do Atelier Marko Brajovic, também responsável pelo projeto expográfico, e pesquisa e textos de Gabriela Antero. O MIS fica localizado no Jardim Europa e seu acesso por transporte público é fácil devido às diversas linhas de ônibus que passam na avenida do museu.
A classificação indicativa é de 16 anos, e a mostra pode ser visitada das 10h às 19h nos dias úteis, das 10h às 20h aos sábados e das 10h às 18h aos domingos e feriados. Os ingressos custam R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia) e podem ser adquiridos diretamente no site do MIS. Às terças-feiras, a exposição é gratuita para todos.
A história de B.B. King e o cenário de segregação
B.B. King é o nome artístico de Riley Ben King, nascido em 16 de setembro de 1925, em Berclair, no Mississipi, nos Estados Unidos. O cantor conhecido como Rei do Blues é considerado o maior guitarrista do gênero de sua geração. Em quase 60 anos de carreira, B.B. King gravou mais de 50 discos.
O contexto em que o artista fez sua história foi no auge das políticas de segregação racial nos Estados Unidos, na primeira metade do século XX. Pessoas negras eram privadas de frequentar os mesmos espaços que brancos, desde escolas e restaurantes até ônibus e hotéis.
A mostra ilustra, juntamente com a trajetória do cantor, outros movimentos de luta contra a segregação ao redor do mundo. Diversos nomes da luta pelo fim do preconceito racial são representados na exposição, tais como Rosa Parks e Martin Luther King.
Para a criação conceitual do projeto, foi feita uma linha do tempo e do espaço que percorre a história do artista e dos desdobramentos social e cultural da segregação, desde 1919 até 2023. O fluxo foi inspirado no curso meândrico do rio Mississipi, onde está localizada, às margens, a cidade de Memphis, conhecida como uma das capitais do blues.

As cores utilizadas na mostra evidenciam uma narração da mudança dos tempos rumo a um futuro mais plural e colorido. No começo da exposição, o público se depara majoritariamente com oposições entre o preto e o branco. Pouco a pouco, essa configuração se transforma em uma paleta de diversidade de cores, criando um espaço que celebra a diversidade e convida ao diálogo, mas que também indica o que ainda precisa ser superado.
O espaço e a experiência sensorial
O espaço da exposição é quase como um labirinto. Há um direcionamento, porém o público pode fazer o seu próprio roteiro. Este envolve mais ou menos 6 pontos temáticos que tratam sobre momentos diferentes da vida de B.B. King e o contexto da época.
Nas paredes se encontram diversos textos, que explicam e contextualizam o público acerca das imagens e instalações. Todos os textos contém tradução para o inglês, sendo acessíveis para estrangeiros. A experiência conta também com vídeos complementares em todos os pontos, a partir dos quais os visitantes podem ter uma melhor exemplificação do conteúdo exposto.
O som é um recurso presente em toda a mostra, seja pelas obras que tocam por todo espaço ou por aparelhos individualizados. O espaço agrega alto-falantes localizados em cabines e fones de ouvido conectados a CDs, trazendo uma experiência auditiva imersiva nas músicas do Rei do Blues.

Estão presentes também diversos objetos que marcaram a trajetória de B.B. King. Sua primeira guitarra, denominada Lucille, se encontra em destaque na exposição. As guitarras pretas da Gibson viraram uma marca registrada do músico e todas ganharam o mesmo nome. O astro foi um dos pioneiros da guitarra elétrica no blues, um gênero nascido no campo e tocado majoritariamente no violão.
A mostra “B.B. King: um mundo melhor em algum lugar” é um mergulho na vida e no contexto social em que viveu o artista. A exploração dos sentidos visuais e sonoros permite que o público aproveite profundamente a exposição. A visita termina com um amplo espaço, onde se tem uma visão panorâmica de projeções do astro. Junto a ela há um grande disco de vinil giratório instalado no chão e músicas tocando continuamente, tal qual uma pista de dança.

*Imagem de capa: Arquivo Pessoal/Sofia Zizza