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Observatório | Despreparo para ciclones causa estragos significativos no RS

CERCA DE 360 MIL PESSOAS FORAM AFETADAS PELO FENÔMENO, QUE CAUSOU MORTES, FERIMENTOS E OUTRAS GRAVES CONSEQUÊNCIAS

Nas últimas semanas, o estado do Rio Grande do Sul tem sido afetado por ciclones extratropicais, que geram chuvas torrenciais, enchentes e ventos fortes. O evento causou a morte de 49 pessoas e nove desaparecimentos, conforme informe do governo do estado no último sábado (23). Mais de 100 cidades registraram danos por causa das fortes chuvas.

O primeiro ciclone que atingiu a região se formou no dia 4 de setembro, com ventos que chegaram a ultrapassar 100 km/h. Além das fatalidades, deixou mais de 25 mil pessoas desabrigadas. 

Outras consequências causadas pelo acontecimento foram no setor econômico, já que mais de 29 mil animais de criação foram mortos pelo ciclone, como bovinos de corte e de leite, suínos e aves. Nas plantações, as principais perdas foram nos cultivos de milho e trigo, além do fumo, laranja, uva, hortaliças e eucalipto. Em números financeiros, o total de perdas na agricultura superou R$ 1 bilhão, enquanto que na pecuária o déficit foi de R$ 80 milhões. 

Não é um caso raro

As consequências do ciclone seguiram durante toda a semana  e pioraram na penúltima quarta-feira (13) com o retorno das fortes chuvas na região. A principal causa foi a presença de um novo ciclone vindo do Paraguai e norte da Argentina, que ainda provoca instabilidade climática no sul do país.

Apesar do enorme impacto causado, os ciclones não são uma surpresa para o estado sulista, já que não são raras as ocorrências de ciclones extratropicais na parte sul do Brasil e da América do Sul. 

Segundo Ricardo de Camargo, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), o que difere o ciclone dos vários que ocorrem nessas regiões é a sua intensidade, que depende da combinação de vários fatores – entre eles, a disponibilidade da umidade e os efeitos do El Niño – que fazem a região Sul do país ficar sujeita a condições mais propícias para a formação de nuvens e chuva.

“Por mais que a quantidade de vapor seja relativamente pequena no Brasil Central nessa época do ano, quando ela é transportada em direção ao sul pela circulação atmosférica, sua interação com a superfície faz ela adquirir umidade”, explicou Camargo sobre o porquê da umidade na região.

Nesse caso, o professor não atribui causas antrópicas, apesar de reconhecer a falta de preparo para o incidente. Para ele, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul deveria ter um papel fundamental na mitigação dos efeitos negativos trazidos pelos ciclones, por meio da divulgação de alertas e monitoramento da população que habita áreas de risco. Portanto, pensa também em uma medida de longo prazo – com políticas de estado sendo feitas por todas as instâncias.

“Uma coisa que efetivamente depende do planejamento de sucessivos governos é a realocação de pessoas que vivem em áreas de risco para que as perdas humanas [em casos de ciclones] sejam diminuídas. A exposição dessa população é um acúmulo de negligência dos governos com relação à habitação ao longo das últimas décadas”, acrescenta.

Enchente e fortes ventos em Rio Grande – RS durante o dia 26 (terça-feira) [Imagem/Instagram/postada por @aovivo_rg e capturada por @alexhirata1]

A falta de preparo

Para o especialista, caso os governos estivessem bem preparados para a sua chegada, os ciclones poderiam ser usados para beneficiar, na medida do possível – tendo em vista os seus pontos negativos – a sociedade no fornecimento de água e até mesmo na geração de energia, usando a água da precipitação gerada pelos ciclones e armazenando-as em um reservatório.

“Nós pensamos nos impactos mais destrutivos, mas esse tipo de sistema também faz com que a chuva fique mais bem organizada, e muitas vezes a abundância da chuva tem a ver com essa organização. As consequências negativas causadas pelo ciclone são principalmente por despreparo”, complementa Camargo.

Consequências Socioambientais

De acordo com o pesquisador e professor do programa de pós-graduação em educação ambiental da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), José Vicente de Freitas, durante o período eleitoral do ano passado, o tema socioambiental, vinculado a mudanças climáticas e desastres, foi tratado como uma pauta secundária.

Após o ocorrido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou o empréstimo de R$ 1 bilhão ao governo do Rio Grande do Sul e a liberação de R$600 milhões do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para atender aos mais de 350 mil trabalhadores afetados pelo ciclone. Também foi antecipado o pagamento do programa Bolsa Família para os beneficiários das regiões afetadas, auxiliando mais de 150 mil famílias.

Freitas complementa como os governos estão atuando frente ao ocorrido: “No que se refere ao governo estadual, há um apoio direto de atuação da Defesa Civil, abrigando os desalojados e constituindo uma força-tarefa na busca dos desaparecidos. Houve abertura de uma linha especial de créditos para o setor produtivo e um reforço da necessidade de pensar de forma mais adequada os seus planos de contingência”. Ele ainda acrescenta que os municípios decretaram estado de calamidade pública para ter acesso a outros tipos de recursos e financiamentos — como o rompimento do teto de gastos e o parcelamento de dívidas.

Apesar disso, na opinião do professor, o apoio ainda é insuficiente. Ele entende que o grande compromisso dos governos, daqui para frente, deve ser o desenvolvimento de uma cultura de prevenção de riscos. “Isto é um ato mais do que emergencial, são ações que devem ser pensadas no âmbito do ensino formal e informal, que devem ser feitas pelos governos, pelo setor produtivo e também pela sociedade civil. Esse é um compromisso de todos para evitar perdas no setor econômico e no social, fundamentalmente”, analisa.

A Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul divulgou em seu balanço do dia 23 de setembro, que foram afetados 106 municípios, o que resultou em um total de mais de 900 pessoas feridas, cerca de cinco mil pessoas desabrigadas e outras mais de 20 mil desalojadas. O número total de indivíduos afetados ultrapassa a marca de 390 mil.

Um recorte da enchente causada em Rio Grande – RS [Imagem/Acervo Pessoal/José Vicente de Freitas]

Imagem de Capa: [Imagem/Instagram/postada por @aovivo_rg e capturada por @smartinsjosi]

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