Não há quem resista ao olhar dócil de um belo gatinho. Há quase um consenso entre a humanidade de que o felino é a criatura mais fofa que existe na face da terra, prova disso é a infinita quantidade de fotos, vídeos e gifs, que vira e mexe, aparecem no seu feed do Facebook, acompanhados de milhares de likes e comentários fofos. Uma animação onde o protagonista é um gato seria, então, uma explosão de fofura, certo? Errado! Gato Sórdido (Bad Cat, 2016) pode ser qualquer coisa, menos um filme fofo. A animação turca tem origem nos quadrinhos chama a atenção pelo enredo fora do comum e humor levemente ácido.
A história começa quando Shero — um gato “vira-lata”, que leva a vida dando golpes e se metendo em encrencas, ao lado de seu comparsa Cemil — tenta afanar comida da residência de um jovem e distraído desenhista. Enquanto o rapaz tira um cochilo em cima de seus desenhos, Shero invade a cozinha da casa e pega tudo o que consegue. Nesse meio tempo, o jovem é acordado pela sua bela gata de estimação e sai para o trabalho. Tudo ocorria como o planejado para o protagonista, até que surge a bela felina, e o instinto galanteador de Shero fala mais alto.
No universo de Gato Sórdido, animais falam, bebem, fumam, roubam bancos e brigam como seres humanos. No entanto, apesar do elemento fantasioso, mesclado a realidade, em muitos momentos o longa fica muito mais próximo do mundo real do que do imaginário.
Depois de uma série de desventuras, que envolvem despencar da janela de seu apartamento, o jovem desenhista vira uma espécie de zumbi, tomado pelo ódio e em busca de vingança contra Shero. Daí em diante, ele inicia uma caça incansável pelo gato encrenqueiro, a qual perdura durante todo o filme, enquanto o protagonista continua sua vida malandra pelas ruas apertadas de Istambul. No meio disso tudo, o gato fanfarrão ainda se vê apaixonado por uma sedutora gata pedigree.
Paixões, problemas familiares, dinheiro. Gato Sórdido é uma animação que fala de coisas do cotidiano, comuns a vida de todos, mas com uma razoável dose de humor e fantasia. Os personagens escrachados tornam a história ainda mais engraçada e atraente, em um longa que não exatamente é voltado as crianças. Há uma série de referências ao mundo contemporâneo, como quando um dos comparsas do gato pretende criar o “Gatinder”, uma versão para gatos do famigerado aplicativo de encontros. O ponto alto do longa, no entanto, é a excelente qualidade gráfica da animação: os quatro anos de produção renderam um belo e divertido longa, que prova que gatos além de fofos, também podem ser hilários.
Gato Sórdido foi exibido durante o Festival Anima Mundi 2016.
por Igor Soares
digorsoares@gmail.com