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Catar 2022 | Argentina vence França nos pênaltis e conquista o tricampeonato mundial na maior final da história das Copas do Mundo

Mbappé fez três gols e deu esperanças aos franceses, que acabaram sucumbindo diante da força dos argentinos; Messi consagra carreira brilhante com título no Catar

Argentina e França chegaram à Copa do Mundo de 2022 como favoritas. Isso se provou nas seis partidas feitas tanto por argentinos quanto por franceses no caminho até a final no Catar. A França fez sua estreia já com uma goleada: quatro gols contra a Austrália, em jogo que confirmou o protagonismo de Mbappé na seleção e colocou Giroud entre os artilheiros da primeira rodada. Ainda na fase de grupos, a equipe francesa venceu a Dinamarca, grande decepção do torneio, por 2 a 1 e, já classificada para a próxima fase, foi derrotada pelos tunisianos por 1 a 0.

Nas oitavas, os franceses derrotaram a seleção da Polônia sem muitas dificuldades. Com um gol de Giroud no primeiro tempo e dois de Mbappé no segundo, a partida terminou em 3 a 1, com um gol de pênalti do polonês Robert Lewandowski no nono minuto dos acréscimos finais.

Na fase seguinte, foi a vez de a Inglaterra ser vencida. O jogo permaneceu empatado até os 78’, quando Giroud mudou o placar para 2 a 1 e colocou a França nas semifinais da competição. Na semi, contra Marrocos, Theo Hernández e Kolo Muani marcaram os gols que eliminaram a seleção marroquina.

A Argentina, por sua vez, começou a Copa com uma derrota: depois de abrir o placar com uma cobrança de pênalti de Messi, a equipe albiceleste teve três gols anulados por impedimento e sofreu dois gols sauditas. A partida acabou em 2 a 1 para a Arábia Saudita — a primeira zebra de muitas na competição. Nos jogos seguintes no grupo C, venceu México e Polônia, ambos por 2 a 0.

Já nas oitavas de final, os hermanos venceram os australianos por 2 a 1 em um jogo com três gols argentinos — Messi e Julián Álvarez marcaram a favor; Enzo Fernández, já na reta final da partida, fez contra. Nas quartas, Holanda e Argentina protagonizaram uma partida de ânimos exaltados: a seleção sul-americana segurou a vitória por 2 a 0 até os momentos finais do segundo tempo, mas em menos de dez minutos Weghorst deixou tudo igual para os europeus. O jogo foi para a prorrogação e posteriormente para a disputa de pênaltis, vencida por 4 a 3 pelos argentinos, que foram brilhantemente defendidos pelo goleiro Dibu Martínez.

Na semi, a Argentina enfrentou os croatas — que haviam derrotado os brasileiros nos pênaltis na fase anterior. No primeiro tempo, Messi cobrou o pênalti que abriu o placar. Cinco minutos depois, Julián Álvarez marcou o segundo e, aos 69’, fez o terceiro, para cravar a ida dos argentinos para a final da Copa do Catar. 

Era difícil apostar em um vencedor na final entre França e Argentina. De um lado, jogariam o jovem craque Kylian Mbappé — em busca de sua segunda Copa aos 23 anos de idade —, Giroud e Griezmann. Do outro, Lionel Messi, ídolo de uma geração em sua última oportunidade de conquistar o mundo com seu país, contaria com a parceria de grandes nomes, como Ángel Di María e Emiliano Martínez — trunfo argentino para uma possível disputa de pênaltis. Ambas as equipes poderiam conquistar o tricampeonato ao fim da partida. A única certeza era de que o embate entre as duas seleções resultaria em um jogo digno da grandiosidade de uma decisão.

Pré-jogo

Ao final do dia 18 de Dezembro, o mundo conheceria a mais nova seleção tricampeã da Copa do Mundo. Enquanto as torcidas de França e de Argentina se preparavam para acompanhar a partida de encerramento da edição de 2022, o Arquibancada conversou com torcedores das duas seleções para entender suas expectativas e anseios. 

Benja Mattar, que é argentino, disse: “É difícil prever um resultado para a partida porque ela será muito difícil. A França tem jogadores muito bons. Obviamente quero um resultado favorável para nós argentinos, seja como for. Ficaria muito feliz com uma vitória por 2 a 0.” O argentino declarou acreditar que Messi foi o melhor jogador do torneio por ter levado, aos 35 anos, sua seleção a mais uma final de Copa do Mundo. Ressaltou, porém, o mérito dos jogadores franceses, especialmente o de “seu condutor” Antoine Griezmann. 

Em contrapartida, o francês Rico Florian apostou na vitória francesa por 3 a 2. De acordo com suas previsões, a Argentina seria resistente, mas a França teria vantagem por possuir um “técnico melhor” (Didier Deschamps). “Não acredito que Mbappé seja o melhor da equipe. Eu o amo, mas sem os outros jogadores ele não é nada. Apesar disso, ficarei feliz pelo Messi caso a Argentina vença. Ele merece uma Copa do Mundo”. 

Primeiro tempo: Argentina soberana, França inexistente

Antes da partida, houve novidades nas escalações: contra a Croácia, na semifinal, Scaloni optou por escalar um meio-campo mais sólido, com Paredes como titular. A mudança se mostrou efetiva à medida que os croatas não tiveram a mesma liberdade nas quartas de final diante do Brasil. Para a final, o treinador argentino promoveu o retorno do craque Di María. Aos 34 anos, ele chegou à Copa após uma lesão e teve que sair na partida contra a Polônia, na fase de grupos. Desde então, ficou no banco contra Austrália, Holanda e Croácia e jogou apenas oito minutos ao todo, na partida diante dos holandeses. Do lado francês, Upamecano e Rabiot, que ficaram fora da semifinal contra Marrocos, retornaram, recuperados de sintomas gripais. Varane, outro acometido, foi titular. Apesar de todos os desfalques pré e durante a Copa, a França foi a campo, em Lusail, com o que tinha de melhor. 

O jogo começou tenso, como era de se esperar. Diferentemente do que se projetou antes da partida, Di María jogou pela esquerda do campo, e não pelo setor direito. Isso já havia sido feito no confronto com a Itália na “Finalíssima” de 2021, e fazia total sentido: pela direita ele teria, como seus opositores, Mbappé e Theo Hernández, jogadores de muita volúpia ofensiva, que sobrecarregariam Molina, na lateral, e De Paul, como volante de cobertura. Pela esquerda, o camisa 11 tinha pela frente Koundé, que pouco avançava, facilitando seu jogo da esquerda para o meio. 

E foi assim que, aos 8’, a Albiceleste teve sua primeira jogada perigosa: Julián Álvarez tocou para Di María, que fez jogada individual e cruzou. De Paul dominou e bateu de fora da área com desvio. A bola foi para fora.

Aos 16’, nova oportunidade para a Argentina. Theo Hernández errou na saída de bola e foi interceptado por De Paul. O camisa sete da Argentina tabelou com Messi e cruzou na entrada da área para Di María, que é canhoto, pegar mal com a perna direita e chutar para fora. Em quase metade do primeiro tempo, a França sequer chegara perto de finalizar ao gol adversário. 

Logo, veio o castigo: aos 21’, Di María recebeu na ponta esquerda, fez lindo drible sobre Dembélé, entrou na área e foi derrubado pelo mesmo. Pênalti infantil e a chance para os hermanos abrirem o placar na grande final, pelo ,pés de Lionel Messi. O camisa 10, que completava 26 jogos em Copas do Mundo, um recorde que antes pertencia a Lothar Matthäus (25 jogos entre 1982 e 1998), foi para a cobrança e bateu no canto esquerdo de Lloris. O goleiro pulou para o lado oposto e restou a Messi celebrar seu primeiro gol em finais com a camisa argentina. 1 a 0! 

O jogo seguiu com amplo domínio argentino e Les Bleus pareciam não ter entrado em campo. Com 36’, após recuperação no campo de defesa, a Argentina partiu para o ataque: Mac Allister tocou para Messi, que abriu ótimo passe para Álvarez. O atacante dominou e lançou o companheiro, livre, nas costas da desorganizada defesa francesa. Ele chegou na bola e tocou para a área, dando a Di María a missão de empurrar a bola para as redes. 2 a 0, um baile argentino e mais um gol decisivo em sua carreira internacional – ele já havia marcado o gol do título contra a Nigéria, nas Olimpíadas de 2008, na China, contra o Brasil, na Copa América, um dos gols do título contra a Itália, na Finalíssima, e prometera à sua esposa que repetiria o feito na final da Copa. 

O desastre foi tão grande para o lado francês que Didier Deschamps se viu obrigado a mexer na equipe ainda no primeiro tempo: aos 41’, o pouco acionado Giroud e o imprudente Dembélé saíram para as entradas de Marcus Thuram e Kolo Muani, substituições que já haviam sido feitas no decorrer do jogo contra Marrocos, na semifinal.

Com as alterações, Mbappé passou a atuar centralizado, com Kolo Muani pela direita e Thuram pela esquerda. Os argentinos foram para o vestiário confiantes e soberanos na partida, enquanto os franceses tinham muito a repensar sobre o que fizeram — ou o que deixaram de fazer — no jogo.

Para quem duvidava que o camisa 11 fosse ser útil no jogo, as grandes chances passaram por ele e os gols passaram por ele. De novo! [Foto: Reprodução/Twitter @goal]

Segundo tempo: jogo morno, até acordarem o homem, ou melhor, a “tartaruga

A catástrofe foi tão grande no primeiro tempo que Mbappé, aos 23 anos, teve que intervir, no vestiário, lembrando aos demais o que não poderia parecer mais óbvio: a postura da França não condizia com a de uma final de Copa. “Isso só acontece de quatro em quatro anos. Não podemos fazer pior. No campo, só eles estão jogando. Eles marcaram dois gols. Temos que fazer isso também”, disse, inconformado, a seus companheiros no intervalo da decisão.

No retorno das duas equipes o panorama da partida tardava a mudar. Aos 59’, Tagliafico dividiu e a bola sobrou para Di María, que acionou Julián Álvarez. O camisa nove bateu no canto e Lloris fez boa defesa, em dois tempos. Daquele momento em diante, houve poucas oportunidades da partida, mas algumas alterações a serem observadas: aos 64’, Scaloni sacou Di María, o melhor em campo até aquele momento, e colocou Acuña, que é lateral esquerdo de origem, em seu lugar. A Argentina perdia em potencial ofensivo e de criação, mas ganhava, teoricamente, na defesa.

Do lado francês, Deschamps mexeu na equipe aos 71’, quando Theo Hernández, quase inofensivo no ataque — sua principal característica — , e Griezmann, genial durante o torneio, mas pouco participou na grande final, saíram para as entradas de Camavinga e Coman. A ideia era clara: dar mais velocidade à equipe e tornar o time mais agressivo. Do outro lado, a Argentina tentava ganhar tempo, e cada falta sofrida por De Paul era motivo de reclamação e de tempo de jogo parado. A famigerada “catimba” dos argentinos era usada a pleno vapor. 

Para a França, se não na técnica ou na tática, o resultado veio na base da vontade. Após lançamento brilhante do igualmente brilhante Upamecano, Kolo Muani ganhou de Otamendi, outro de atuação impecável no Mundial até então. Vendo o adversário partir em direção ao seu gol, porém, o camisa 19 da Argentina não viu outra alternativa que não derrubá-lo na grande área. Pênalti para a França, excelentemente convertido por Mbappé, que sequer tinha ameaçado o gol de Emiliano “Dibu” Martínez até aquele momento. 2 a 1 e o que parecia uma final sem graça rapidamente ganhou ares de tensão, inverteu os ânimos e fez Les Bleus acreditarem que era possível reagir. 

Após a saída de bola, a Argentina tentou sair jogando, mas Messi perdeu a bola para o recém-promovido Coman. O atacante francês lançou a bola na entrada da área e Mbappé ajeitou de cabeça pra Thuram. O filho do jogador que marcou dois gols na semifinal da Copa de 1998 contra a Croácia devolveu pelo alto e Mbappé, novamente, acertou um magnífico voleio no canto esquerdo de Martínez para empatar a partida.

Foram dois minutos e 46 segundos entre a marcação do pênalti em Kolo Muani, diante de um jogo perdido, e o segundo gol de Mbappé. Entre o primeiro e o segundo tento, um minuto e 34 segundos. Era o futebol mostrando para todo o planeta a sua beleza, o seu valor, a sua paixão, o seu espetáculo: Argentina e França empatando em 2 a 2 e o camisa 10 francês, sumido por quase todo o jogo, apareceu para decidir, mais uma vez, por seu país. 

A explosão ao decidir. O segundo gol de Mbappé no jogo foi seu sétimo na Copa do Mundo. Naquele momento, ele empatava com Pelé em gols marcados em Mundiais até os 23 anos. [Foto: Reprodução/Twitter @_notsoccer]

Para quem achava que as emoções do tempo normal acabariam por ali, as equipes trataram de mostrar que não. Aos 94’, Coman fez linda jogada individual pela esquerda e sofreu falta de Enzo Fernández. O árbitro polonês deu vantagem e Camavinga rolou para Rabiot bater e Martínez defender, com o auxílio de Romero. Três minutos depois, foi a vez dos hermanos terem sua chance: Julián Álvarez tocou para De Paul, que só ajeitou para Messi dominar e bater com força para boa defesa de Lloris. Depois de 105 minutos de futebol, incluindo os acréscimos, e uma sequência de reviravoltas, o jogo estava encerrado, e a prorrogação decretada.

Prorrogação: nós te amamos, futebol!

Se muitas vezes as prorrogações no futebol não passam de um protocolo cumprido pelos jogadores, exaustos, para não correrem riscos e levarem a partida para os pênaltis, faltou avisar aos argentinos e aos franceses. Antes da prorrogação, Scaloni colocou Montiel no lugar de Molina, renovando a lateral direita, e antes do término do primeiro tempo da prorrogação promoveu as entradas de Paredes e de Lautaro Martínez nos lugares do incansável De Paul e do excelente Julián Álvarez. O intervalo entre a segunda etapa do tempo normal e a primeira da prorrogação certamente serviu para que o treinador argentino renovasse os ânimos abatidos de sua equipe. Do lado francês, Rabiot saiu, já na primeira etapa, para a entrada de Fofana, titular na semifinal, por conta de uma concussão do camisa 14 da França.

Com 105’, veio a primeira grande chance: Mac Allister fez bonita tabela com Messi e encontrou Lautaro. O camisa 22 dominou e bateu, mas foi travado por Upamecano. Ainda no primeiro tempo, Acuña encontrou ótimo lançamento para Lautaro, nas costas da defesa, bater para fora na saída de Lloris, novamente com interferência do gigante Upamecano. 

As principais emoções estavam reservadas para os 15 minutos finais. Aos 108’, Montiel fez lançamento despretensioso para o campo de ataque. Lautaro se adiantou à marcação, e rolou para Messi. O capitão tocou para Enzo Fernández devolver para Lautaro bater, com força, para grande defesa de Lloris. No rebote, a bola sobrou para Messi mandar para o gol de perna direita. Upamecano ainda tentou salvar, mas a bola já tinha passado da linha. O VAR apenas confirmou o sétimo gol de Lionel Messi no Mundial de 2022 — o quinto no mata-mata. Nas outras quatro edições que disputou, tinham sido seis – nenhum em mata-mata. 3 a 2 para a Argentina e a redenção máxima de um herói. 

Recordes. Com os gols da final, Messi se tornou o primeiro jogador a marcar em todas as fases da competição desde Jairzinho, que marcou em todas as partidas da Copa pelo Brasil, em 1970, quando não havia a fase de oitavas de final. [Foto: Reprodução/Twitter @giraltpablo]

Os minutos seguintes foram de pressão francesa: era tudo ou nada para Le Bleus. Com 113’, Varane, que assim como Rabiot não tinha jogado a partida anterior por desconfortos gripais, saiu, esgotado, após duelo no campo de defesa. Konaté entrou em seu lugar. Poucos acreditavam em mais um empate, em mais um milagre. Menos ainda acreditavam que Konaté seria essencial para isso. Mas ele foi! O camisa 24 brigou pela bola na entrada da área argentina. Jogando como um ponta, partiu para cima e ganhou um escanteio. Para se defender da bola aérea, Scaloni colocou Pezzella, de 1,90 m, no lugar de Mac Allister. Mal sabia ele, porém, que a bola aérea não seria o maior problema para a Albiceleste.

Do escanteio conseguido por Konaté, a bola foi afastada pela defesa e sobrou para Mbappé. O camisa 10 bateu e a bola foi interceptada, com o braço, por Montiel, dentro da área. Pênalti para a França aos 116’ e um filme sendo repetido na cabeça de argentinos, franceses e brasileiros — o gol da Croácia, que levou a semifinal para os pênaltis, saiu por volta do mesmo minuto.

Se não bastasse a pressão de ser um jovem de 23 anos vestindo a camisa 10 da França e de ser praticamente o único a tentar algo de diferente em uma equipe pouco agressiva, Kylian Mbappé tinha nos pés mais um pênalti decisivo na prorrogação de uma final de Copa do Mundo. Sim, Mbappé é marrento, mas também tem personalidade. Bateu no mesmo canto que o primeiro no tempo normal e empatou o jogo para a França.

Com o gol, Mbappé se tornou o maior artilheiro da história das finais de Copa do Mundo, com quatro gols, e o segundo a marcar um hat-trick (três gols) em uma só final – igualando Geoff Hurst, que fez três dos quatro da Inglaterra no título de 1966, contra a Alemanha, jogo que também teve gols no final dos 90 minutos e na prorrogação. Como se isso não bastasse, o astro do Paris Saint-Germain igualou Pelé em número de gols marcados em Mundiais, com o mesmo número de partidas: 12 gols em 14 jogos.  

Acabou? Ainda não. Aos 122’, restando menos de trinta segundos para o término da prorrogação, Konaté encontrou lindo passe por cima para Kolo Muani. A bola pingou e o camisa 12 pegou com força, com o peito de pé, no que era um gol certo de uma virada histórica da França frente a uma Argentina desiludida. Restou, então, ao enorme Emiliano “Dibu” Martínez protagonizar a maior defesa da Copa – para não dizer das Copas. Ele se esticou da melhor forma possível e defendeu, com o pé esquerdo, a finalização do atacante francês. 

Gigantesco. O cronômetro não mente: a França teve a chance de virar a partida no último lance da prorrogação, mas aquela era a noite de “Dibu” Martínez. [Fotos: Reprodução/Twitter @velhocronista]

Ainda deu tempo de a Argentina ter sua chance de matar o jogo. Em contra-ataque, Lautaro recebeu, sozinho, na grande área, mas cabeceou mal e mandou para fora. Definitivamente não era o Mundial do atacante argentino, que não marcou nenhum gol em seis jogos, apesar de ter convertido o pênalti decisivo contra a Holanda, nas quartas. Mbappé ainda tentou fazer mais um em jogada individual, deixando dois para trás mas sendo desarmado. Dybala, que entrou do lado argentino no final da prorrogação, claramente visando às penalidades, mandou para fora e Szymon Marciniak apitou o final da partida.

3 a 3, resultado da maior final de Copa do Mundo da história. Os pênaltis iriam decidir a Copa do Mundo pela terceira vez: em 1994, o Brasil derrotou a Itália após empate em 0 a 0, enquanto, em 2006, foi a vez de os italianos comemorarem o título diante dos franceses. 

Pênaltis: De hoje não passa, Leo!

Com o sorteio definido, a França começou batendo — já sem alguns de seus prováveis batedores, como Giroud e Theo Hernández, substituídos durante a partida. Mbappé foi para a bola e bateu no canto direito de Emiliano Martínez pela terceira vez. E pela terceira vez ele acertou o barbante. 1 a 0. Na vez da Argentina, também o craque e camisa 10 foi para a cobrança: Messi deslocou Lloris e empatou o marcador.

A partir dali, brilharia, mais uma vez naquela final e mais uma vez em pênaltis no Mundial, a estrela de Martínez. Coman bateu cruzado, à meia altura, e o goleiro defendeu. Do lado argentino, Dybala bateu rasteiro, com segurança, no meio do gol de Lloris, quebrando o estereótipo de que o jogador que entra apenas para bater pênaltis erra. O camisa 21 demonstrou personalidade; afinal, até a semifinal contra a Croácia, sequer tinha estreado na Copa.

Um goleiro não se destaca só por defesas: em um esperto movimento de tirar a bola de onde Tchouaméni a tinha ajeitado, “Dibu” desconcentrou o jovem de 22 anos, que bateu cruzado para fora. Dois pênaltis perdidos para a França e uma oportunidade para

a Argentina aumentar sua vantagem. A seguir, Paredes bateu forte, cruzado, sem chances para Lloris. Naquele momento um erro francês ou um acerto argentino confirmariam o título para a Albiceleste. Kolo Muani bateu forte, no meio do gol, e manteve as esperanças de Les Bleus. No entanto, na cobrança seguinte, Montiel — aquele mesmo, que cometera um pênalti faltando quatro minutos para o fim — deslocou Lloris e mandou para o gol, sacramentando o título mundial no Catar. Argentina tricampeã do mundo e Lionel Messi, capitão, campeão do mundo! 

Após a partida, o craque também foi eleito o melhor jogador da competição, enquanto Enzo Fernández levou o prêmio de reveleção e Emiliano Martínez de melhor goleiro. Apenas a premiação de artilheiro ficou longe dos domínios argentinos. Mbappé levou o prêmio de consolação, com oito gols em sete jogos.

Para a França, fica a reflexão sobre o quanto as inúmeras ausências por lesão podem ter feito falta durante o jogo, sobre como a seleção inexistiu por quase todo o tempo normal e sobre como uma simples mudança tática de Scaloni parece ter desestruturado seu plano. Tem também a questão Benzema e toda a polêmica que diz que Deschamps e parte dos jogadores não o queriam na seleção. Será que o melhor jogador do mundo na última temporada fez falta? Não se sabe, mas a geração francesa ainda é jovem, o trabalho é bom e Mbappé e companhia ainda têm muito o que conquistar.

A verdade é que nem combinaria com a cultura argentina, na vida, na arte e no futebol, vencer uma final sem grandes dificuldades e emoções. Era preciso sofrer, e isso faz parte da jornada do herói, seja ele qual for. Para a alegria dos argentinos e daqueles que torceram por Messi, o herói era ele, tinha que ser ele — e o roteiro foi perfeito!

Enormidades à parte, Mbappé já tem sua Copa do Mundo, já tem seus recordes e invariavelmente vai conseguir muitos mais. Mas a noite de 18 de dezembro estava reservada para o garoto de Rosário que era esnobado por nunca ter vencido por sua seleção e que, em um intervalo de um ano e meio, venceu e ergueu três troféus por seu país. Se desta vez não foi necessária “a mão de Deus”, de Maradona, La Gazzetta dello Sport definiu bem: “Messi: o pé de Deus. Argentina campeã do mundo na final mais linda de todos os tempos”.

A Celebração em terras albicelestes

Antes da decisão, Andrés D’Alessandro, argentino, ex-jogador e ídolo do Internacional, explicou, em participação no SporTV, o quanto o povo argentino precisava de algo para o alegrar. “A gente está passando fome na Argentina. A situação econômica é uma das piores da história do nosso país. O futebol sempre foi uma arma muito forte para dar essa alegria. E eles [jogadores da seleção] estão sentindo que o povo argentino precisa sorrir, comemorar alguma coisa”, disse. No Catar, não só os atletas convocados estavam presentes, como jogadores convocados ao longo do último ciclo de Copa do Mundo foram chamados a assistir à final e participar da festa. Sergio Agüero, que se aposentou por questões cardíacas, e Giovani Lo Celso, um dos principais nomes da equipe, mas que acabou se lesionando às vésperas do Mundial, foram alguns dos nomes presentes.

Da forma mais argentina possível, a alegria veio e a comemoração foi muito além do gramado em Lusail. Estima-se que quase cinco milhões de argentinos, 10% da população do país, foram às ruas, em Buenos Aires, para a celebração da conquista, após 36 anos de jejum. Foi uma mistura de desabafo com felicidade e orgulho de ver sua seleção campeã. O governo argentino decretou feriado nacional no país na terça (20) em razão da conquista e da chegada dos jogadores com o troféu. 

A festa seguiu e contou com carreata junto aos atletas, que teve que ser encerrada antes do esperado devido a problemas com a segurança. Alguns torcedores tentaram pular em cima do ônibus onde os campeões estavam e os jogadores tiveram que ser retirados de helicóptero antes de chegarem ao Obelisco, ponto turístico no centro da capital. Eles seguiram para o CT da Associação de Futebol da Argentina (AFA), em Ezeiza. Houve confrontos que resultaram em dezenas de prisões e de feridos. Na França, foi ainda pior: mais de 200 pessoas foram presas por conflitos após a final. 

Um mar azul-celeste e branco. Os 68 metros de altura do Obelisco ficaram pequenos diante da quantidade de argentinos que foram às ruas celebrar a conquista de Lionel Messi e companhia.  [Foto: Reprodução/Twitter @luchogarzo]

Curiosidades

Mais do que um espetáculo para os amantes de futebol, a partida entre Argentina e França gerou também diversos recordes. Depois de fazer um hat-trick — o primeiro em uma final de Copa desde 1966 —, Kylian Mbappé se tornou o maior goleador em finais do torneio com quatro gols (um deles na vitória francesa de 2018). Ele também é o jogador mais novo a marcar em duas finais.

Com um último jogo que fez as redes balançarem seis vezes, a Copa do Catar ultrapassou as Copas de 1998 e 2014 e se tornou a edição da competição com mais gols na história: foram 172 no total. A final de 2022 é uma das com mais gols, perdendo apenas para Brasil e Suécia, em 1958, que teve sete ao todo: cinco brasileiros e dois suecos.

Tanto Messi quanto Mbappé passam a figurar como alguns dos maiores goleadores das Copas: o argentino possui 13 gols na conta, empatado com o francês Just Fontaine; o camisa 10 da França tem 12, a mesma quantidade de Pelé. Ambos participaram de dez gols no Catar, o que os coloca também como dois dos jogadores que mais tiveram participações em gols no torneio. Foi a primeira vez em uma final que cada lado teve um jogador que marcou pelo menos dois gols: Mbappé e Messi.

Com o pênalti marcado aos 23’, a Argentina tornou-se a equipe com mais pênaltis a favor em uma edição da Copa: foram cinco ao longo da competição. Já Lloris ultrapassou o alemão Neuer e se tornou o goleiro a participar de mais partidas em Copas na história.

Ficha técnica:

Argentina (4-3-3): Emiliano Martínez; Molina (Montiel, 91’), Cristian Romero, Otamendi, Tagliafico (Dybala, 120’+1); De Paul (Paredes, 102’), Enzo Fernández, Mac Allister; Messi, Julián Álvarez (Lautaro Martínez, 103’) e Di María (Acuña, 64’). [Arte: Ricardo Thomé]

França (4-2-3-1): Lloris; Koundé (Disasi, 120’+1), Varane (Konaté, 113’), Upamecano, Theo Hernández (Camavinga, 71’); Tchouaméni, Rabiot (Fofana, 96’); Dembélé (Kolo Muani, 41’), Griezmann (Coman, 71’), Mbappé; Giroud (Marcus Thuram, 41’). [Arte: Ricardo Thomé]

Gols: Lionel Messi (23’ (P), 108’) e Ángel Di María (Alexis Mac Allister), 36’ARG / Kylian Mbappé (80’ (P) , 81’ (Marcus Thuram), 118’ (P)) – FRA

Pênaltis (4 a 2): 

ARG: Messi (O), Dybala (O),  Paredes (O), Montiel (O)

FRA: Mbappé (O), Coman (X), Tchouaméni (X), Kolo Muani (O)

Cartões amarelos: Enzo Fernández (45’+7), Marcos Acuña (90’+8), Leandro Paredes (114’), Gonzalo Montiel (116’), Emiliano Martínez (126’) – ARG / Olivier Giroud (banco), Adrien Rabiot (55’), Marcus Thuram (87’) – FRA

Banner da Copa do Mundo Catar 2022, que terá a final entre França e Argentina

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