A princípio, Beleza Oculta (Collateral Beauty, 2016) é sobre um homem bem-sucedido: Howard Inlet (Will Smith), sócio majoritário de uma bela agência de publicidade. Experiente no mundo da propaganda, ele afirma basear seu negócio nas três grandes abstrações da vida: amor, tempo e morte. Então, cheio de segurança, deixa claro que seu trabalho é conectá-las, usá-las para tocar as pessoas – o que já era uma pista dos caminhos que o filme seguiria.
Esse homem inabalável não tardará a ir embora. A vida de Howard desmorona abruptamente, metaforicamente quando o protagonista impulsiona uma peça de dominó e a faz atingir todas as outras que estavam em sequência. A partir de então, não veremos mais Will Smith sorrindo. Com uma aparência sempre acabada e o mesmo casaco, ele consegue passar a exaustão emocional do pai que perdeu a filha de 6 anos e não encontra mais sentido em sua vida.
A tragédia faz Howard entrar em depressão e começar a questionar tudo o que imaginava conhecer, escrevendo cartas para as três grandes abstrações e confrontando-as. Preocupados com seu sócio e amigo, além de apreensivos quanto à saúde financeira da agência, Whit (Edward Norton), Claire (Kate Winslet) e Simon (Michael Penã) contratam três atores para conversar com Howard e representarem o “Amor” (Keira Knightley), o “Tempo” (Jacob Latimore) e a “Morte” (Helen Mirren).
Cenas divertidas das visitas dos três a Howard são mescladas a outras em que ele está sozinho, comoventes por sua angústia. Muito rapidamente o cinema vai de risadas a silêncios, e a montagem inteligente em captar a própria transitoriedade da vida. Não se atendo apenas a Howard – o que poderia ficar tedioso –, o enredo ainda nos deixa acompanhar as histórias de seus três sócios. Com isso, percebemos que aqueles que queriam ajudá-lo tinham seus próprios problemas em cada uma das esferas: amor, tempo e morte.
Mesmo que o filme tenha bastante cara de autoajuda, lidando com o tema das três grandes abstrações, em certos momentos, ele cumpre o papel de nos emocionar. Facilmente, porém, cai em picos de exagero, como na cena em que uma personagem fala a Howard sobre toda a “beleza oculta” que existe ao seu redor. Um close no rosto dela e a expressão em inglês sendo dita lentamente fazem o diálogo soar forçado, quando, ao contrário, deveria ter sido forte o suficiente para nos causar a aprovação do nome do filme – que não deixa de ser um título fraco, de sonoridade estranha.
Beleza oculta passa dos limites em sua tentativa de recorrer a sentimentos e dúvidas genuinamente humanos para conquistar o espectador. No mais, os discursos proferidos pelo Amor, pelo Tempo e pela Morte são bastante clichês e poderiam estar em livros de autoajuda. E, embora o final guarde uma revelação bem construída, não deixa de guardar também uma decepção: um novo apelo desnecessário.
O longa estreia em 26 de janeiro. Confira o trailer:
por Iolanda Paz
iolanda.rpaz@gmail.com
Nossa adorei a dica muito obrigada pela informação
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