Por Gabriela Barbosa (gabriela.barbosa18@usp.br) e Lucas Lignon (lucas.lignon@usp.br)
Na 15ª edição da Campus Party Brasil (CPBR15), a competição gastronômica Printer Chef inovou ao utilizar alimentos bio-impressos em 3D. Em parceria com a empresa BioEdTech, responsável pelas bio-impressões, a competição queria aproximar o público de uma possível alimentação do futuro. Ainda no início do desenvolvimento, a tecnologia pode trazer soluções para problemas como a falta de alimento para a população e o baixo índice nutricional dos alimentos ultraprocessados.
Os participantes deviam criar pratos que complementassem o alimento impresso pela startup parceira. Chocolate, caramelo, frango e massas foram alguns dos alimentos à base de plantas gerados por uma impressora 3D e que foram harmonizados pelos competidores com alimentos tradicionais.
Letícia Charelli, biotecnologista e uma das responsáveis pelo projeto da BioEdTech, afirma que essa tecnologia representa o futuro da gastronomia mundial. Segundo ela, com o aumento expressivo da população, em poucos anos não haveria matéria prima o suficiente para a produção da quantidade de alimentos necessária. Com o desenvolvimento da técnica, a fabricação em larga escala de alimentos em laboratórios, não dependendo dos recursos naturais, seria possível.
A Jornalismo Júnior experimentou dois desses alimentos: um foi um dadinho de tapioca e o outro, um doce de leite. Ambos eram completamente iguais aos alimentos tradicionais e geraram grande surpresa no sabor.
A competição ocorreu em três fases. Nos dias 26 e 27 de julho foram realizadas as seletivas estaduais de São Paulo. Participantes amadores (a maioria estudantes de tecnologia ou gastronomia) participaram da confecção de um prato que, obrigatoriamente, deveria conter um elemento bio-impresso. Cada uma das provas teve um elemento diferente: em uma delas, a escolhida foi uma pasta de mandioquinha crocante.
No dia 29 de julho, aconteceu a final estadual do Printer Chef. Nesta etapa, os vencedores das seletivas dos dias anteriores tinham o desafio de criar um prato salgado com uma massa de macarrão bio-impressa e uma sobremesa com doce de leite nessas mesmas condições. O ganhador avançou para a grande final da competição, no dia seguinte.
A grande final do Printer Chef ocorreu entre as campeãs de São Paulo, Goiás e Brasília. O grupo de jurados do dia era composto por: Tanya O’Callaghan, baixista irlandesa e ativista do veganismo; Derrick Green, vocalista do Sepultura e ativista ambiental; Fabio Chaves, infoativista vegano, e Angela Oliveira, jornalista e idealizadora do Printer Chef.
A proposta da última etapa era preparar o complemento para um frango à base de planta impresso em 3D — com textura e gostos parecidos aos do animal. Com o objetivo de respeitar a bancada de jurados majoritariamente vegana, nenhum produto derivado de animais foi utilizado no dia.
O debate sobre alimentação do futuro e os impactos ambientais causados pelo atual padrão de consumo foi pautado enquanto as três cozinheiras preparavam seus pratos. Os jurados internacionais fazem parte de uma iniciativa chamada “Highway to Health”, que busca alternativas de alimentação ao redor do mundo.
No encerramento da CPBR15, o resultado foi anunciado: Giovanna Coradini, de Goiânia, ganhou a competição. Ela preparou um canelone de berinjela recheado para acompanhar o frango impresso e um mil folhas de maçã com mousse de tangerina de sobremesa. Giovanna, estudante de gastronomia, afirma que não esperava ganhar: “Estou em choque. Eu estou muito feliz por ter ganhado aqui e em Goiânia”. Ela recebeu também um curso de culinária na Argentina e um da EBAC para administrar seu negócio.
Em entrevista à Jornalismo Júnior, Angela Oliveira, jurada e idealizadora do Printer Chef, conta que a ideia surgiu a partir de pesquisas sobre questões como a alimentação do planeta no futuro e a crueldade com os animais. Ela explica como a impressão de alimentos em 3D funcionaria: “A gente expande a proteína de uma célula tronco da pele de um animal, passa por uma impressora 3D e imprime um bife de picanha sem hormônios e sem antibióticos”.
A ideia do Printer Chef na Campus Party era a de levar essa tecnologia para mais perto da população. “A gente fez o público provar, porque é a primeira coisa que a gente pensa ‘eu quero provar!’ ”, afirma. No futuro, ela acredita que isso se popularizará: “A ideia é a gente ter uma impressora assim como a gente tem um liquidificador em casa”.
Devido à legislação vigente no Brasil, os alimentos impressos na edição do evento eram gerados com base em plantas — e não com a proteínas de células tronco.
Fabio Chaves, infoativista vegano, explica à Jornalismo Júnior os benefícios de carnes alternativas: “São mais sustentáveis, não causam sofrimento aos animais, são mais saudáveis e, em determinado momento, serão mais baratas também”. Ele ressalta a importância de alterar os padrões de alimentação para garantir um futuro sustentável: a alimentação vegana emite, efetivamente, 75% menos gases do efeito estufa que a alimentação com carne animal.
“Eu acredito que essa informação já deixa claro que, para evitar o aquecimento global, a alimentação é crucial — inclusive, mais que o transporte.”
Fabio Chaves
Confira outras matérias da nossa cobertura da CPBR15:
http://jornalismojunior.com.br/campus-party-2023-um-acampamento-que-nao-dorme/
http://jornalismojunior.com.br/campus-party-2023-a-tecnologia-no-espaco-e-nas-artes/
*Imagem da capa: Acervo Pessoal/Lucas Lignon
