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‘Demarcando as telas’: a luta do cinema indígena

Instituto Moreira Salles demonstra necessidade e relevância das narrativas cinematográficas indígenas em nova mostra

O cinema indígena, ainda pouco conhecido, conseguiu tomar proporções globais nos últimos anos pela necessidade de proteger os povos originários, grupos relevantes para a proteção do ambiente e da cultura humana. O Instituto Moreira Salles (IMS) é sede da mostra Demarcação das Telas e Revolução das Imagens: Celebrando a Produção Audiovisual Indígena no Brasil, que busca promover grandes obras dos povos originários. A proposta, que será reprisada ao longo do mês de maio, contou com uma coletiva de imprensa realizada no dia 25 de abril.

“Queríamos fazer uma retrospectiva de todo esse cinema indígena, que não olhasse só para trás, mas também para frente”, conta um dos curadores, o professor e pesquisador Christian Fischgold, ao lado de Takumã Kuikuro e Graci Guarani, em um bate-papo ao final do espetáculo. Com diversas abordagens, a coletânea audiovisual propõe uma exaltação de grandes títulos de criações indígenas e procura reforçar as lutas constantes da autodeterminação das populações originárias e da conquista por suas terras.

Os eixos abordados pela mostra são: Meio Ambiente, Resistência Política, Clássico, Imagens-espíritos, Linguagens Artísticas e Animações. Ao todo, são 30 obras audiovisuais de criadores indígenas, dentre elas longas-metragens, curtas-metragens, cartas abertas e relatos documentais. A Jornalismo Júnior foi convidada para participar do primeiro módulo no dia 25 de abril, que contou com quatro obras de perspectivas únicas acerca das filosofias indígenas e da relação desses povos com a terra.

A obra Kaapora – O Chamado das Matas (2020) foi selecionada para abrir a mostra. O filme de Olinda Muniz Wanderlay trata do mutualismo entre terra e espiritualidade para o seu povo, passando por histórias e criaturas da cultura local. Com uma leveza e um sincretismo sutil, a mensagem transmitida entra como um abre-alas para a mostra, que já indica a sua intenção de exaltar o povo indígena como os grandes patronos do meio ambiente brasileiro e latino-americano. 

Em seguida, o espectador é convidado para uma viagem ao Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, pelo filme Yarang Mamin (2019), com o cotidiano exaustivo do Movimento das Mulheres Yarang, participantes da Rede de Sementes do Xingu. O projeto retratado na obra já plantou mais de um milhão de árvores e coletou cerca de 3,2 toneladas de sementes. Essa imersão constrói a imagem dos indígenas como protetores da natureza pelo tratamento sustentável com a terra, que está cada vez mais ameaçado com o avanço do agronegócio. 

A abordagem profética da terceira obra, Sonho de Fogo (2020), convida o espectador a relembrar as dificuldades da pandemia, mas em contextos completamente diferentes. Como uma espécie de premonição, a tradição do povo Guarani-Nhandewa aborda que o simbolismo por trás de sonhar com o fogo é a prévia de uma doença maligna. A relação entre fogo e doença está na fumaça, que pode ser absorvida pela floresta. Gravado antes da explosão de contágios de Covid-19 no mundo, o filme demonstra os conhecimentos aprofundados do povo indígena sobre a natureza mesmo sem o rigor científico ocidental e completa com a necessidade de respeito a esses saberes. Além disso, a trama também aborda a expansão e a exploração do homem branco nas terras indígenas, que expõe os povos originários a diversos perigos e os força a modificar seus ritos e cotidiano.

Para finalizar o módulo, Amne Adji papere mba – Carta Kisêdjê para Rio+20 (2012) surge como um gancho para a sessão politizada, segundo Christian. O filme traz os relatos das mulheres Kisêdjê contra o desmatamento contínuo da Amazônia, com grande apreensão sobre o futuro do seu povo, dos seus familiares e do ecossistema. Kamikia Kisêdjê e o coletivo de cinema de seu povo organizaram uma obra audiovisual para a Rio+20, a conferência de renovação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS17), para transmitir críticas sobre o processo de uso da terra pelo agronegócio e denunciar as lutas constantes que seu povo sofre para demarcar suas terras e permanecer nelas.

Os curadores da mostra comentaram, ao final da exibição das obras, sobre a relevância do trabalho cinematográfico indígena. “A falta de referência, de não ter ninguém como eu lá [nas telas] é como se eu não existisse” afirma Graci, exaltando a participação indígena e feminina no audiovisual. Takumã completa como essa retrospectiva apresenta grande relevância para a autodeterminação e a representatividade de seus povos: “Trouxe essa seleção para que nós pudéssemos ter esse espaço de importância para a comunidade”. Para Christian, a intenção de “reflorestar o imaginário” abre o leque do cinema indígena, que proporciona uma nova visão decolonial para demarcar as terras pela demarcação das telas. 

A mostra está em reprise no Instituto Moreira Salles. Confira a programação no site.

*Imagem de capa: Divulgação/Instituto Moreira Salles 

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