Assim como a moda, o esporte está ligado com o corpo e com o estético, e ambos refletem um estilo de vida e comportamento. Essa relação entre moda e esporte é mais visível a partir dos anos 1920, quando grandes nomes da moda começam a incorporar em suas marcas tecidos e modelos de roupas predominantemente esportivas que se popularizaram para além das quadras.
A Converse e o basquete
O All Star, da Converse, é considerado o primeiro tênis criado para se jogar basquete, projetado com sola de borracha e cano alto. Em 1921, a Converse patrocinou Chuck Taylor, que deu nome ao famoso modelo usado nas quadras profissionais até a década de 1960.
Nas décadas posteriores, houve um boom na indústria dos tênis, e outras marcas e modelos estamparam o basquete – como o Adidas Superstar, Puma Clyde e o Nike Blazer, primeiro tênis de basquete da Nike. Um dos mais famosos e reconhecidos modelos até hoje foi o Air Jordan, linha lançada pela Nike em parceria com Michael Jordan.
Nos anos 1950, o movimento do Rock’n’Roll incorporou o All Star surrado em seu figurino, combinado com o jeans e a jaqueta de couro. Com o passar do tempo, tornou-se peça básica na geração de roqueiros, skatistas e jovens rebeldes. Hoje, independente da personalidade, idade ou geração, o All Star se tornou um clássico no vestuário citadino e cotidiano.
Tênis e a camisa Polo
Ganhador de duas Taças Davis, o célebre tenista francês René Lacoste criou a primeira camisa polo ao encurtar as mangas de uma camisa típica de tênis na década de 1920. A mudança da manga longa para a curta permitiu maior liberdade de movimento e conforto em campo. Os modelos claros e confortáveis criados por Lacoste provocaram desejo não somente pela elegância associada ao esporte, mas também pela adaptabilidade das camisas para o dia a dia. Devido à performance voraz do tenista, ele ganhou o apelido de “crocodilo” pelos seus fãs. O animal veio a ser símbolo de sua marca de roupas.
Cavalgadas britânicas e o tweed
O tweed ou jérsei, tecido grosso predominantemente masculino, era usado em trajes esportivos da aristocracia britânica para cavalgadas, caçadas e outros esportes. A estilista Coco Chanel o transformou em um de seus maiores sucessos: o tailleur de tweed. A composição, que consiste em saia e casaco de mesmo tecido, se destacou em todo o ocidente, sendo revolucionário para a época devido ao seu conforto e a liberdade de movimento que proporcionava as mulheres.
[A história do tailleur de tweed e o impacto dessa peça na moda]
A moda esportiva hoje
Ao sairmos nas ruas, é comum vermos pessoas com roupas e sapatos esportivos, como tênis, leggings e tops. Mas por que o uso dessas roupas são tão comuns fora do ambiente esportivo?
A designer de moda Júlia Novaes nos ajuda a responder essa pergunta. “Antes de tudo, é importante lembrar que muitas pessoas resumem a moda como roupas, acessórios, shoppings. A moda é muito mais do que isso, é um estilo de vida e representa a maneira como vivemos”.
Para contextualizar essa discussão, Júlia nos dá o exemplo de Michael Jordan, que elevou os níveis de palco da NBA a partir dos anos 1980 e se tornou ícone mundial. Grandes marcas fizeram parcerias com Jordan, inclusive a Nike, que lançou a linha de roupas, tênis e bonés Air Jordan. Mais do que peças, a campanha vendia a imagem do atleta. Isso resultou em uma das mais bem sucedidas e lucrativas da história, elevando a moda no esporte para outro patamar. “A cultura do basquete é muito forte nos Estados Unidos e o estilo dos jogadores começa a estampar o street style (estilo de rua)”, explica Júlia. “A partir daí, pessoas começam a identificar a moda esportiva como uma área da moda”.
Sendo assim, marcas que só faziam uniformes esportivos começam a produzir linhas casuais e pessoas urbanas incorporaram essas peças em seu estilo de vida. Esse grupo passa uma imagem moderna, divertida, descolada. De acordo com a designer, “nosso visual é nosso passaporte social, já que antes de tudo, vemos o outro. O esporte influencia a moda e vice versa por causa desse resultado imagético e visual, que ambos trabalham e almejam”.
O poder das grandes marcas esportivas
A Nike, seguida da Adidas e Puma, é a maior fabricante mundial de artigos esportivos. Mas não “só” isso: é também a marca de vestuário mais valiosa do mundo pelo sexto ano consecutivo, de acordo com a Brand Finance. Aliada a excelentes estratégias de marketing e a artigos de qualidade, isso também reflete o quanto a moda esportiva passou a ser atrativa e a impactar o mercado.
[A História da Nike em 3 minutos, produzido pela Fast Company]
“Esse mercado ganha força com a junção da imagem e do status da marca com o conforto. Essas peças são confortáveis, mas também caras. É um mercado de luxo”, comenta a designer.