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Demon – Se temer, não case

por Natan Novelli Tu natunovelli@gmail.com Tentando disfarçar o nítido transtorno (sobrenatural) pelo qual o noivo passa, a família da noiva esforça-se ao máximo em distrair os convidados com músicas, bebidas e risadas. Como se participasse junto da festa, o espectador é levado a presenciar brigas, declarações inoportunas e até mesmo ataques epilépticos, sem nunca deixar de …

Demon – Se temer, não case Leia mais »

por Natan Novelli Tu
natunovelli@gmail.com

Tentando disfarçar o nítido transtorno (sobrenatural) pelo qual o noivo passa, a família da noiva esforça-se ao máximo em distrair os convidados com músicas, bebidas e risadas. Como se participasse junto da festa, o espectador é levado a presenciar brigas, declarações inoportunas e até mesmo ataques epilépticos, sem nunca deixar de lado a compostura esperada de um cidadão civilizado. O resultado disso é uma das festas de casamento mais desconfortáveis do cinema desde Relatos Selvagens (Relatos Salvajes, 2014). Assim, fugindo dos sustos baratos dos filmes de terror “mainstream”, Demon (Demon, 2015) investe no medo psicológico, extraindo do macabro metáforas acerca da insegurança do comprometimento e do laço matrimonial.

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Apaixonado por Zaneta (Agnieszka Zulewska), Piotr (Itay Tiran) decide se mudar para a Polônia a fim de se casar e conhecer os familiares da mulher. No entanto, durante os preparativos da festa, ele descobre ossadas humanas que passarão a possuí-lo. Com um elenco de atores muito expressivo, o filme é encabeçado por uma atuação central extremamente cuidadosa. Surgindo como um Piotr arteiro, Tiran vai de forma muito natural dando pequenos sinais de insanidade, fazendo-nos até mesmo questionar se suas ações são de fato obra de uma possessão, ou se elas não são simplesmente consequência do álcool. Sem pressa também, Zulewska é certeira na transição da felicidade do casamento para uma melancolia decorrente da condição do marido.

O roteiro também dá suporte para que essa construção seja bem detalhada, uma vez que cada uma das situações apresentadas impõe um ritmo que conjuntamente dá maior dramaticidade às inquietudes do filme. Por exemplo, em determinado momento, alguns dos familiares vão cuidar de Piotr dentro da casa. Conforme o surto piora, eles se afastam com medo do noivo, apertando-se nas paredes do quarto. Ao mesmo tempo, a chuva lá fora aperta, invadindo o estábulo onde ocorria a festa. Com isso, todos acabam tendo que se abrigar também dentro da casa, tornando o ambiente ainda mais claustrofóbico e desconfortável. Um detalhe narrativo sutil, mas vital para que a sensação de aperto fosse melhor ressaltada.

Finalmente, essa preocupação de ritmo expressa-se também nas decisões técnicas do filme. Mesmo com uma montagem relativamente dinâmica, o diretor Marcin Wrona e seu editor Piotr Kmiecik, sempre que possível, mantêm a câmera fixa (no máximo com uma rotação ou um “zoom”) a fim de que o trabalho dos atores possa ser melhor valorizado do que se o filme tivesse cortes que quebrassem constantemente o fluxo natural da interpretação. Precisão esta também presente na magnífica trilha sonora de Krzysztof Penderecki − responsável por alguns segmentos das trilhas de O Exorcista (The Exorcist, 1973) e O Iluminado (The Shining, 1980). Utilizando-se predominantemente de cordas, Penderecki nunca tenta se sobressair à cena, funcionando pelo contrário como um reforço da tensão experimentada pelo espectador.

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Infelizmente, a tensão tão bem construída durante os dois primeiros terços do filme não permanece no ato final. Intercalando acontecimentos simultâneos, o filme alterna entre a possessão de Piotr e narrativas secundárias e desimportantes, tornando a conclusão bastante arrastada. Por outro lado, mesmo com uma condução final bem anti-climática, é engenhoso como, mesmo aqui, Demon ainda invista em comentários metafóricos acerca dos perigos de um casamento prematuro. Como é possível constatar na primeira conversa que Piotr tem com o pai da moça, a relação do casal é ainda muito recente. Conforme o roteiro se desenrola, são apresentados sinais de que os vínculos poderiam ser até mais superficiais do que aparentavam − como no momento em que o suposto melhor amigo de Piotr revela ao pai que eles não passavam de meros conhecidos. Frente à fragilidade da união, é pertinente questionar se a “possessão” de Piotr não passava de um reflexo da instabilidade emocional do esposo.

Em outras palavras, embora pretenda em primeira instância adaptar um mito judaico de possessão, Demon acaba entregando um rico estudo de personagem que, excedendo qualquer choque gráfico, nos apresenta um terror ainda mais assustador: aquele psicológico e sensorial. Ademais, o filme ainda ganha mais impacto quando constatamos que Piotr podia muito bem ser qualquer um de nós, afinal, não é qualquer um que sabe lidar com as responsabilidades de um casamento; na verdade, estes são poucos…

Demon estreia nos cinemas dia 12/05. Confira o trailer:

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