FINALMENTE COLORADO! O dia 12 de junho de 2023 ficará marcado para sempre no coração dos torcedores do Denver Nuggets: após 47 anos, a franquia conquistou seu primeiro anel de campeão da NBA. Com grande e inspirada dupla — Nikola Jokić e Jamal Murray —, o time do Colorado não teve dificuldades durante os playoffs e entrou para o seleto grupo de campeões ao superar a equipe sensação da temporada e três vezes campeã, o Miami Heat.
O favoritismo no Oeste
Depois de uma eliminação logo na primeira fase dos playoffs passados — para o campeão Golden State Warriors —, mesmo com Nikola Jokić eleito MVP (Most Valuable Player — jogador mais valioso, em português) da temporada regular pelo segundo ano consecutivo, o Denver Nuggets chegou para a temporada atual envolto em dúvidas. Apesar de ter um dos melhores quintetos titulares da liga, o banco de reservas não possuía profundidade para manter o nível quando estava em quadra. Além disso, as lesões que atingiram o elenco nos anos anteriores preocupavam os analistas e os torcedores.
Nikola Jokić, Bruce Brown e Jamal Murray [Imagem: Reprodução/Instagram @nuggets]
Mas, quando a temporada começou, todas as dúvidas deixaram de existir. A equipe do Colorado mostrou-se uma grande favorita ao título da Conferência Oeste desde o início. Terminou na liderança, com 53 vitórias e 29 derrotas. Nikola Jokić, mais uma vez, ficou entre os melhores jogadores da liga e terminou em segundo lugar para o prêmio de MVP. O fantasma das lesões, também foi embora.
Campanha nos playoffs
Denver não enfrentou muitas dificuldades nos playoffs da Conferência Oeste. Nas quartas de final, despachou o Minnesota Timberwolves em apenas cinco jogos — Jamal Murray foi o jogador mais decisivo da série. Na semifinal contra o Phoenix Suns, brilhou a estrela de Jokić. Com médias de triplo-duplo, o sérvio garantiu a classificação da equipe para a final da conferência em seis jogos.
A final da Conferência Oeste, entre Denver Nuggets e Los Angeles Lakers, repetiu o confronto de 2021 — a “temporada da bolha”. Porém, o cenário era o oposto desta vez: os Nuggets eram os favoritos, já que os Lakers sofreram com uma temporada repleta de problemas. Como previsto, os Nuggets se classificaram com facilidade. Venceram os quatro jogos e, pela primeira vez em sua história, chegaram para disputar a final da NBA.
A superação no Leste
O Miami Heat começou a temporada com grandes expectativas. No ano anterior, a equipe conquistou o primeiro lugar da Conferência Leste e chegou até as finais de conferência. Mesmo com a derrota para o Boston Celtics em sete jogos, a manutenção das grandes estrelas, Jimmy Butler e Bam Adebayo, assim como a do técnico duas vezes campeão da NBA, Erik Spoelstra, deixava os torcedores ansiosos para mais uma temporada de sucesso. Outro ponto positivo foi a ascensão de Tyler Herro, peça fundamental do time de rotação e nomeado Sexto Homem do Ano de 2022.
Jimmy Butler e Bam Adebayo [Imagem: Reprodução/Instagram @miamiheat]
A excelente pré-temporada — de quatro vitórias em cinco jogos — deu esperanças aos torcedores. Mas a franquia não correspondeu em quadra e, nos primeiros dez jogos da temporada regular, o Heat conquistou apenas quatro vitórias. A temporada inteira foi de altos e baixos e a equipe brigou por uma posição mais baixa na conferência. No fim, depois de acumular 44 vitórias e 38 derrotas, Miami conseguiu a classificação para o play-in, na sétima posição da Conferência Leste.
Dificuldade no play-in
O Miami Heat tinha a vantagem e, para se classificar para os playoffs, tinha que vencer a primeira partida do play-in. Mas a equipe saiu derrotada pela conturbada equipe do Atlanta Hawks. Dessa forma, o time teve uma segunda chance de ganhar a última vaga para o mata-mata do Leste, contra o Chicago Bulls. Com Jimmy Butler e Max Strus inspirados, o Heat venceu o jogo e carimbou o passaporte para os playoffs.
Caminhada nos playoffs
Nos playoffs, a franquia teve como primeiro adversário um grande favorito ao título, Milwaukee Bucks. Porém, mesmo com a lesão de Tyler Herro no primeiro jogo, Jimmy Butler chamou a responsabilidade e foi o rosto da equipe que eliminou Giannis Antetokounmpo (eleito duas vezes MVP e uma vez campeão da NBA). Na segunda rodada, o Heat enfrentou o New York Knicks e, em seis jogos, passou de fase. Mais uma vez, Butler foi o jogador mais dominante e decisivo da série.
Na final da Conferência Leste, pelo segundo ano consecutivo, o confronto foi entre Celtics e Heat. Mesmo com a troca de treinador, o time de Boston era o favorito. Mas Miami fez a experiência valer a seu favor. Jogadores como Max Strus, Gabe Vincent e Caleb Martin — além das estrelas Jimmy Butler e Bam Adebayo — foram fundamentais na série.
O Heat chegou a abrir 3 a 0, mas deixou os Celtics empatarem, com o jogo sete a ser disputado no TD Garden. Devido ao favoritismo da franquia de Boston, havia grandes expectativas para que eles ganhassem o jogo decisivo em casa — pela primeira vez na história, uma franquia ganharia uma série após estar perdendo por 3 a 0. Entretanto, o Miami Heat dominou o jogo do início ao fim e se classificou para a final da NBA — Jimmy Butler foi eleito o MVP da Conferência Leste.
Jogo 1: início de imposição dos Nuggets
A conquista do título da Conferência Oeste sem grandes dificuldades e a melhor condição física conferiu a posição de favorito aos Nuggets — o Heat conseguiu descansar somente dois dias depois da série de sete jogos contra o Celtics. Outro fator importante foi a invencibilidade na Ball Arena durante as partidas disputadas nos playoffs.
Aaron Gordon começou a partida quente. Com um time de estatura mais baixa, Miami sofreu com as infiltrações do ala-pivô, conhecido pela movimentação sem a bola para receber as assistências de Jokić. Apenas no primeiro quarto, ele conseguiu 75% de aproveitamento nos arremessos de quadra, 12 pontos e quatro rebotes.
Nikola Jokić, maior pontuador dos Nuggets nos playoffs, com mais de 30 pontos de média, começou tímido nesse quesito. No primeiro tempo, ele tentou somente três arremessos e converteu todos. Para compensar, distribuiu dez passes. Já no tempo complementar, tentou arremessar nove vezes. Encerrou a noite com 27 pontos, 14 assistências e dez rebotes. Foi o segundo jogador da história da NBA que estreou com um triplo-duplo em uma final de NBA, ao lado de Jason Kidd em 2002.
O Heat sofreu com o baixo aproveitamento de seus arremessadores de três. Max Strus, Caleb Martin e Duncan Robinson, juntos, tentaram 16 arremessos do perímetro e acertaram somente dois. O destaque ficou para Bam Adebayo, que somou 26 pontos e 13 rebotes. Mesmo com a agressividade do pivô — ele tentou 25 arremessos de quadra — a equipe foi mais passiva no garrafão e bateu o recorde de menos lances livres arremessados em uma final de NBA: apenas dois em toda a partida.
O melhor momento da equipe da Flórida aconteceu no último quarto. Haywood Highsmith, parte do time de rotação, conseguiu 12 pontos. Na defesa, a equipe optou pela marcação por zona — nesse caso, os jogadores ficam responsáveis por marcar um determinado local da quadra ao invés de um atleta específico. Porém, esse ajuste gerou resultados apenas quando Jokić foi para o banco. Com o sérvio em quadra, a equipe do Colorado retomou o controle da partida e assegurou a vitória por 104 a 93.
Jogo 2: a resposta de Miami
A segunda partida foi marcada por altos e baixos de ambos os times. Miami começou melhor. Max Strus, que no primeiro jogo errou todos os arremessos, acertou quatro bolas de três seguidas. A adição de Kevin Love ao quinteto titular — Caleb Martin sofreu um mal-estar antes da partida — aumentou a estatura da equipe e limitou Aaron Gordon a somente dois pontos.
Outro ajuste defensivo ocasionado pela mudança foi a liberação de Jimmy Butler para marcar Jamal Murray. Um dos principais pontuadores dos Nuggets, o atleta sofreu com dobras de marcação e pressão durante suas posses de bola. A solução encontrada por ele foi fazer jogadas rápidas de transição. Murray encerrou a partida com 18 pontos.
Os reservas da equipe dos Nuggets foram responsáveis por manter o equilíbrio do jogo. Christian Braun, Bruce Brown e Jeff Green somaram 16 pontos, enquanto o banco adversário fez apenas dois. Além disso, a defesa de Denver conseguiu quatro roubos de bola e forçou cinco erros de Miami no segundo quarto. A equipe do Colorado terminou o primeiro tempo na frente por três pontos.
O terceiro quarto foi um show particular de Nikola Jokić. Com 60% de aproveitamento dos arremessos de quadra, ele fez 18, dos seus 41 pontos, somente nesse período. Porém, não foi o suficiente. No último quarto, o Heat foi mais eficiente. Duncan Robinson fez dez pontos, com duas bolas de três. Jimmy Butler e Bam Adebayo acertaram os arremessos no clutch time. Apesar das duas bolas de três de Jamal Murray no último minuto, a equipe da Flórida assegurou a vitória por 111 a 108.
Jogo 3: a dupla de Denver mostra sua força
O terceiro confronto foi disputado no Kaseya Center, a arena do Miami Heat. Depois de acabar com a invencibilidade dos Nuggets na Ball Arena durante os playoffs e com o apoio dos torcedores, o cenário parecia perfeito para a equipe da Flórida tomar a dianteira da série. Mas a noite foi histórica para Jamal Murray e Nikola Jokić.
O ponto mais forte e mais explorado da dupla durante a partida foi o pick and roll — nesta jogada, um dos atletas conduz a bola e o outro faz um corta-luz, um bloqueio feito com seu corpo para impedir a ação do defensor adversário e liberar a passagem do armador. Miami tentou pressionar Murray no meio da quadra e impedir sua progressão até o garrafão — e conseguiu forçar sete turnovers do jogador —, mas não foi suficiente. Jokić encerrou a partida com 32 pontos, 21 rebotes e dez assistências, enquanto Murray acumulou 34 pontos, dez rebotes e dez assistências. Pela primeira vez na história da NBA, uma dupla de jogadores fez um triplo-duplo de mais de 30 pontos.
Outro ajuste ofensivo de Denver foi uma resposta para a defesa de zona do Heat. Na partida anterior, Jokić recebeu bolas entre as linhas da zona, longe do garrafão. Nesse jogo, ele se posicionou mais perto do fundo da quadra, nas laterais. Nos momentos em que Bam Adebayo saiu para pressioná-lo, um jogador dos Nuggets cortava para a cesta para receber a bola embaixo dela. O principal beneficiado foi o calouro Christian Braun, que fez 15 pontos, com mais de 87% de aproveitamento nos arremessos.
O ataque de Miami foi irregular. Apesar dos 28 pontos de Jimmy Butler, que aproveitou as movimentações de bola da equipe para favorecer o matchup entre ele e Murray, o elo mais fraco da defesa de Denver, o aproveitamento da equipe foi baixo. Adebayo acertou apenas sete de 21 arremessos. Gabe Vincent e Max Strus, somados, acertaram apenas duas das dez bolas de três tentadas. No final, vitória do Denver Nuggets por 109 a 94.
Jogo 4: Miami Heat sem respostas
O jogo quatro foi cheio de oportunidades para o Heat. No primeiro tempo, a equipe buscou infiltrações no garrafão. Kyle Lowry foi essencial ao acelerar a transição ofensiva e Bam Adebayo conseguiu mais de 50% de aproveitamento dos arremessos de quadra. Eles conseguiram 13 e 12 pontos, respectivamente. Porém, no segundo tempo, a estratégia não funcionou. Miami cometeu nove turnovers. Lowry errou os três arremessos que tentou e a eficiência de Adebayo caiu pela metade.
Nikola Jokić converteu apenas oito dos 19 arremessos que tentou. Em determinado momento da partida, o sérvio torceu levemente o pé e perdeu minutos de quadra. Para piorar, no último quarto, chegou na quinta falta e ficou cinco minutos fora. Miami, porém, foi mais uma vez ineficaz. O ataque acertou apenas oito bolas de três das 25 arremessadas. Apesar da pressão em Jamal Murray, desta vez, o canadense não cometeu nenhum erro e deu 12 assistências.
As falhas defensivas do Heat foram punidas por Aaron Gordon. O ala-pivô dos Nuggets foi mais agressivo, cortou mais em direção a cesta e bateu seus defensores. Ele fez 15, de seus 27 pontos, no segundo quarto. Outro destaque foi Bruce Brown. No momento mais complicado para Denver, no final da partida e sem Jokić, a bola foi para as mãos do ala-pivô. Ele foi essencial: recebeu duas faltas, acertou quatro de seus cinco arremessos e uma bola de três. Dessa forma, o Denver Nuggets assegurou mais uma vitória, de 108 a 95.
Jogo 5: Nikola Jokić resolve
O Miami Heat começou melhor a quinta partida. Com a obrigação de vencer para continuar na disputa pelo título, a equipe foi mais agressiva. Bam Adebayo fez 18 pontos durante o primeiro tempo, com 61% de eficiência nos arremessos. Denver sofreu com o nervosismo de seus atletas e cometeu nove turnovers, além de apenas uma bola do perímetro convertida de quinze arremessadas antes do intervalo.
No clutch time, as estrelas das duas equipes chamaram a responsabilidade. Jimmy Butler, mesmo com um baixo aproveitamento de apenas 27% dos arremessos de quadra, atacou mais a cesta e buscou o contato dos marcadores. No último quarto, ele converteu duas bolas de três seguidas. Na terceira tentativa, sofreu a falta e converteu os três lances livres. Pouco tempo depois, recebeu outra falta e fez os dois lances livres. Com outro arremesso de quadra convertido, Butler marcou 13 pontos e deixou o Heat na frente por um ponto.
Mas Nikola Jokić também brilhou. Em uma noite na qual os jogadores erraram muitos arremessos, o Joker (Coringa) precisou assumir o papel de pontuador da equipe. Com 75% de eficiência ao longo da partida, ele foi o responsável por acertar os arremessos complicados no último quarto — fez dez de seus 28 pontos no período. Sua grande atuação ofensiva, somada ao roubo de bola providencial de Caldwell-Pope no passe de Butler, nos últimos segundos da partida, asseguraram o título inédito do Denver Nuggets.
O Coringa e a Flecha
“É bom, é bom. O trabalho está feito, podemos ir para casa agora”.
Esta foi a resposta de Jokić sobre a sensação de conquistar o troféu da NBA. Sua personalidade mais reservada ou o fato de ter sido a 41ª escolha no draft de 2014, não o impediram de alcançar o status de estrela.
Jokić foi o primeiro jogador da história a liderar os playoffs em números totais de pontos, assistências e rebotes — 600, 160 e 270, respectivamente. Ele é o pivô com mais triplos-duplos da história da liga americana de basquete com 121. Desde Shaquille O’Neal, em 2002, um jogador desta posição não recebia um troféu de MVP das finais.
Outro jogador que se superou foi Jamal Murray, chamado de Blue Arrow (Flecha Azul) pelos torcedores. Depois de conseguir grandes atuações na “temporada da bolha” (2019/20), ele rompeu o ligamento cruzado anterior no joelho esquerdo. Essa lesão grave — que já afastou jogadores como Klay Thompson das quadras — colocou em dúvida seu retorno e em que condições isso ocorreria. Mas Murray voltou saudável e se emocionou muito durante a entrega do troféu.
O técnico do Denver Nuggets, Michael Malone, deixou claro que quer mais. Agora que o primeiro título finalmente chegou, o treinador quer construir uma nova dinastia. Com os principais jogadores do elenco ainda abaixo dos trinta anos e a possibilidade do elenco de rotação melhorar ainda mais, pode-se estar diante de uma nova hegemonia.
*Imagem de capa: Reprodução/Instagram @nuggets