Por Maria Eduarda Lameza (duda.lameza@usp.br)
Em junho, a casa de shows “Vibra São Paulo” recebeu por três dias o “Despertar Empreendedor”, evento organizado pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL) — plataforma de cursos e agência de notícias independente. O congresso, que reuniu cerca de 4 mil pessoas segundo a organização, buscou estimular o networking — construção de redes de relacionamentos e conexões — e oferecer uma imersão no universo do empreendedorismo por meio de palestras técnicas, artísticas e inspiradoras.
Comandado pelo empresário e ex-banqueiro Eduardo Moreira, fundador do ICL, o evento recebeu palestrantes das mais diversas áreas. Eles compartilharam suas trajetórias, seus conhecimentos e suas dicas para aqueles que querem empreender ou que já são empreendedores.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro do Empreendedorismo, Márcio França, marcaram presença no evento. Além disso, participaram as personalidades Chico Pinheiro, Denise Fraga, Fátima Bernardes, Serginho Groisman, Bela Gil, Thedy Corrêa e Nando Pradho. Também palestraram os empresários Rodrigo “Mocotó”, Nina Silva, Otávio Antunes, Rafael Donatiello, João Paulo Pacífico, Marco Schultz, Diógenes Lucca e Natália Dias, assim como o deputado Renato Freitas, a nadadora Joanna Maranhão e o professor de economia Pedro Rossi.
Processo criativo e saúde mental
A necessidade do ócio, ou seja, do descanso, foi um dos temas mais abordados ao longo dos três dias de evento. Cada um em sua palestra, os cantores Thedy Corrêa e Nando Pradho, assim como a atriz Denise Fraga, elencaram a criatividade como uma das características mais importantes que um empreendedor precisa ter. Algumas dicas para alcançá-la foram anotar todas as ideias, tentar sair do óbvio e aumentar seu repertório. O ócio também foi apontado como uma das principais formas de alavancar o processo criativo.
Já o palestrante João Paulo Pacífico — fundador da Gaia Investimentos — ressaltou a importância do ócio para a saúde mental e falou sobre como criar um ambiente de trabalho saudável. O professor de yoga Marco Schultz deu dicas de meditação para manter a calma em meio à rotina intensa de um empreendedor.
No Brasil, a Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, acomete 30% dos trabalhadores, de acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt).
Empreendedorismo feminino: desafios em dobro
“Empreender já é difícil. Para uma mulher, ainda mais”. Foi o que disse Natália Dias, diretora de mercado de capitais e finanças sustentáveis do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A administradora, que já foi CEO de bancos internacionais, relatou que enfrentar a dupla-jornada, receber salários menores e levar mais tempo para chegar em cargos de liderança foram desafios que ela mesma encontrou em sua trajetória.
Após uma apresentação com dicas de como captar investimentos para abrir um negócio, Natália comentou sobre os planos futuros do BNDES. Transição energética e qualidade de vida são algumas das pautas: “Não existe desenvolvimento sustentável que não inclua toda a população”, afirmou.
A dona de restaurante e ativista alimentar Bela Gil abordou a economia do cuidado, nome dado ao trabalho doméstico não remunerado. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 76% dessa atividade é realizada por mulheres e essas jornadas correspondem a cerca de 11 trilhões de dólares por ano. Para Bela, esse tempo e dinheiro poderiam ser investidos no empreendedorismo feminino.
Nina Silva, executiva de tecnologia, fundadora do Movimento Black Money e eleita a mulher mais disruptiva do mundo pelo Women in Tech Global Awards, afirmou que, para mulheres negras, empreender é ainda mais difícil. Segundo ela, as disparidades são muito maiores e as oportunidades, menores. Nina explicou que, entretanto, a diversidade pode funcionar como uma alavanca para a performance dos negócios. Isso porque, com uma equipe diversificada, a empresa passa a entender as necessidades de uma base maior de consumidores e, dessa forma, consegue aumentar seu número de clientes
“Não investir de forma diversa gera menos lucro ao próprio mercado”
Nina Silva
Afinal, o que é empreender?
“Eu detesto a palavra empreendedor”. Em sua palestra, o jornalista Chico Pinheiro fez críticas à plataformização e à uberização — fenômenos que descrevem relações de trabalho baseadas em contratos independentes de prestação de serviços por intermédio de plataformas digitais, como Uber ou iFood, por exemplo.
Para ele, essa é uma “prática neoliberal” que passa a chamar o trabalhador de colaborador sob a premissa de incentivar o empreendedorismo quando, na verdade, retira seus direitos trabalhistas. Chico afirma que, para debater sobre o verdadeiro empreendedor, é necessário dar-lhe um significado que exclua essa precarização.
Fátima Bernardes, por sua vez, leu a descrição da palavra “empreender”. Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, trata-se de uma “atitude de quem, por iniciativa própria, realiza ações ou idealiza novos métodos com o objetivo de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer atividades”.
Em sua palestra, a jornalista e apresentadora concluiu, então, que é possível empreender em qualquer área, mesmo já sendo funcionário de uma empresa, por meio de iniciativas inovadoras: “Minha marca é meu nome”, pontuou. O também jornalista e apresentador Serginho Groisman considerou que o programa “Altas Horas” é seu maior empreendimento, pois ele desenvolveu um projeto inovador e de sucesso.
O empreendedor nacional e os ministros da economia
O atual ministro do Empreendedorismo, Márcio França, também esteve presente no Despertar e falou sobre a justiça tarifária. Segundo o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, esse é um “princípio jurídico que prevê que as tarifas cobradas pelo serviço público precisam ser justas, partindo de uma ideia de equidade entre o serviço prestado e o valor pago por cada usuário”.
O ministro afirmou que a injustiça tributária, na forma de elevados impostos, é um empecilho para o desenvolvimento de pequenos e médios empresários e, por consequência, para o crescimento do país. Para atenuar esse cenário, Márcio França anunciou uma nova medida do Governo Federal: o ProCred 360. O programa consiste em uma linha de crédito com taxa de juros reduzida para o pequeno e médio empreendedor, com auxílio especial às mulheres, de acordo com o França.
O nome mais aguardado pelo público foi o do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele contou a história de sua família e sua trajetória individual. O ministro afirmou que começou a aprender sobre economia com o pai, imigrante libanês que era comerciante na 25 de Março, uma das ruas comerciais mais movimentadas de São Paulo.
Ex-ministro da educação e ex-prefeito da cidade de São Paulo, o também professor Fernando Haddad discutiu o potencial sócio-ambiental do Brasil em meio às mudanças climáticas dentro do cenário econômico.
“A falta de sustentabilidade será um freio para o desenvolvimento e para o lucro das empresas e do país”
Fernando Haddad