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Dia 06 | 26ª Bienal Internacional do Livro: cultura indígena; empreendedorismo e maternidade

No sexto dia de Bienal, Pedro Bandeira, Babi Dewet, Ailton Krenak e Naiumi Goldoni foram alguns dos nomes que palestraram na Arena Cultural

Após uma pausa em decorrência da pandemia da COVID-19, a 26ª Bienal Internacional do Livro retorna a São Paulo com grande expectativa do público. Sediada na Expo Center Norte, o evento reuniu editoras e palestrantes diversos, e proporcionou aos visitantes uma experiência repleta de debates sobre o universo literário. Confira a cobertura feita pela Jornalismo Júnior das palestras reunidas no dia 07 de julho de 2022.

As aventuras de Mike

Um painel colorido da Bienal com os autores sentados de frente para o público.
Da esquerda para a direita, Babi Dewet, Manu Digilio, Gabriel Dearo e Robson, a capivara, conversaram com a plateia de fãs mirins que seguravam os livros de As Aventuras de Mike. [Imagem: Arquivo pessoal/Maria Vitória Faria]

 

Mediada por Babi Dewet, a primeira mesa do sexto dia da Bienal do Livro reuniu na Arena Cultural uma pequena, embora muito numerosa, turma para prestigiar os escritores de As Aventuras de Mike (Outro Planeta, 2019), Gabriel Dearo e Manu Digilio. Os autores agradeceram também aos pais pela presença e compartilharam com Babi como recebem relatos de pais emocionados e gratos ao verem os filhos deixando de lado itens tecnológicos pelos livros de Mike. 

Com obras publicadas recentemente em Portugal, Manu e Gabriel contaram como é emocionante ter leitores de outros países, e lembraram que as vivências de Mike são passíveis de reconhecimento em qualquer lugar, afinal, “criança é criança”, para eles. 

Além da conversa divertida e animada entre a apresentadora, os autores e a capivara Robson, personagem criado por Manu e por Gabriel que também marcou presença no palco, as crianças interagiram com os youtubers e ficaram, durante quase toda a mesa, com os livros de Mike levantados no ar.

Ao serem questionados sobre as inspirações para a criação das histórias, Manu e Gabriel comentaram que as vivências do Mike e de seus amigos são inspiradas nas deles da infância e na adolescência, o que permite uma conexão maior entre o público. 

 

Escrever para crianças

Um painel colorido da Bienal com os palestrantes sentados na frente.
Oscar Garcia, Pedro Bandeira e Ilan Brenman, da esquerda para a direita, em conversa sobre a importância da literatura infantil. [Imagem: Arquivo pessoal/Maria Vitória Faria]

 

Pedro Bandeira e Ilan Brenman, também autores de livros infantis, iniciaram a segunda mesa do dia compartilhando com o público como é escrever para crianças. Para eles, é uma grande responsabilidade, uma vez que “ ajuda o adulto do futuro a entender suas próprias emoções e a lidar com seus medos”. Ilan comentou, como, geralmente, as pessoas minimizam o trabalho dele por terem uma ideia incorreta de que escrever livros infantis é simples. Tal pensamento é justificado pela falta de reconhecimento dos professores da educação infantil, os quais, diferentemente do que ocorre em países mais desenvolvidos, como Japão e Escandinávia, não possuem o devido valor. 

Ao ser questionado por Oscar Garcia, mediador da mesa, sobre as redes sociais, Pedro comentou que não devemos ser como Dom Quixote, lido pelo autor em sua adolescência, e ignorar as mudanças tecnológicas. O escritor pontuou que, durante a pandemia, surgiu a necessidade, pela falta de contato físico, de se inserir nas redes sociais, e que, hoje, ele está em contato com diversos profissionais ao redor do mundo — cenário impossível sem as interferências tecnológicas. Já Ilan, embora também usufrua dos benefícios das redes, alertou para que pais e professores tenham cuidado para não se tornarem reféns de tais ferramentas, e para não deixarem de lado, completamente, o papel e o livro físico.

Embora a importância da leitura tenha sido afirmada tanto por Pedro, quanto por Ilan, eles lembraram o público da Arena Cultural que é preciso haver indicações específicas para cada pessoa, que vão ao encontro do gosto e do momento de vida o qual a criança está vivendo. Para isso, a figura do bibliotecário é essencial, haja vista o vasto conhecimento literário desse profissional, que pode auxiliar o leitor a continuar inserido no universo literário.

 

O Protagonismo da Mulher Negra e a Importância da Representatividade na Formação de Leitores

Um painel colorido da Bienal com as palestrantes sentadas falando em microfones.
Da esquerda para a direita: Flávia Martins de Carvalho, Elisandra Pereira, Majori Silva e intérprete de libras [Imagem: Arquivo Pessoal / Thais Morimoto].

 

Com mediação da professora Elisandra Pereira, as palestrantes e escritoras Flávia Martins de Carvalho e Majori Silva abordaram temas como racismo, machismo e inclusão social. Um dos destaques do debate foi a presença de uma intérprete de libras, o que corrobora com o ideal de inclusão defendido pelas mulheres presentes no palco. 

Divulgando o box de livros infantil Menina Sonhadoras e Mulheres Cientistas (Editora Mostarda, 2022), lançado no começo da Bienal, Carvalho, além de se apresentar, falou sobre como a etnia antecede o restante das características físicas quando uma pessoa entra em um espaço: “Nossa cor (negra) chega primeiro”, afirmou. Essa fala escancara o tratamento diferente dado a determinadas pessoas justamente por causa das suas etnias e foi uma das aberturas para que as palestrantes passassem a falar sobre racismo.

A escritora Silva debateu sobre o tema e, nesse viés, abordou o protagonismo das mulheres negras, o surgimento da sua vontade de escrever e o seu livro O Jardim de Marielle (Editora Mostarda, 2021). A obra conta sobre a política Marielle Franco de uma forma lúdica e infantil, por meio de uma série de analogias.

Por compartilhar dos ideais da palestra, Elisandra Pereira discorreu extensamente sobre os assuntos tratados, o que ocasionou em uma perda de espaço pelas palestrantes. Entretanto, as falas da mediadora foram relevantes, o que colaborou para o conteúdo da mesa, especialmente pelo fato dela ser professora, fato que lhe permitiu argumentar com propriedade sobre a formação de leitores. 

 

Mudança de Rota Pós-Maternidade

As três palestrantes sentadas no painel da Arena Cultural com roupas coloridas.
Da esquerda para a direita: Naiumi Goldoni, Samara Felippo e Caroline Dias. [Imagem: Arquivo Pessoal / Thais Morimoto]

 

Uma ex-chiquitita e uma ex-malhação. As atrizes Naiumi Goldoni e Samara Felippo palestraram na Bienal para mostrar que não podem ser definidas por títulos tão simples. A influenciadora digital e a apresentadora falaram sobre não só a maternidade e o pós dela, mas também aspectos privados de suas vidas. 

Com mediação de Caroline Dias, o bate-papo foi tranquilo, similar a uma conversa entre amigas. As três pareciam se sentir à vontade no palco, o que trouxe uma maior naturalidade à palestra e deixou o espaço mais confortável ao público.

Goldoni, mãe de duas meninas, contou um pouco sobre sua experiência materna: o machismo, a empregabilidade e enfatizou o direito de escolher ser mãe ou não. Goldoni também falou como necessitou conversar com seu marido para que ele cumprisse seu papel de pai e contou sobre como começou a carreira de modelo na China quebrou suas expectativas.

Felippo, mãe de duas garotas negras, falou sobre o desafio de enfrentar o racismo estrutural na sociedade. Ela relatou a cobrança exagerada que sentia ao assistir à televisão, por estar presente nessa mídia um padrão de beleza específico do corpo da mulher: branca, magra e alta. Para que os meios de comunicação não influenciassem suas filhas, a apresentadora abordou sobre a necessidade de aceitar a diversidade entre as pessoas com elas. A atriz também contou sobre problemas que teve com a atuação. Para ela, depois dos 40 anos, “não fica claro se o seu papel é de mãe ou de filha”, o que dificulta na distribuição de papéis. 

 

Empreendendo Desde Jovem

Três homens sentados olhando para o mais à direita.
Da esquerda para a direita: Rick Chesther, Luiz Quinderé (Luiz do Brownie) e Antoune Nakkhle. [Imagem: Arquivo Pessoal / Thais Morimoto]

 

A quantidade de espectadores surpreendeu os palestrantes da mesa Empreendendo Desde Jovem. Parte do público, contudo, estava esperando o técnico do time do Palmeiras, que iria aparecer no Encontro com Abel Ferreira — evento que ocorreria em seguida. Era fácil perceber os palmeirenses na plateia, com vestimentas do time, com o livro lançado pelos esportistas e  cochichando sobre o técnico. Mas mesmo aqueles que apenas queriam ver o Abel respeitaram e ouviram a palestra com Luiz do Brownie, Rick Chesther e Antoune Nakkhle. 

Os empreendedores já publicaram livros de sucesso, fator que os uniu no painel. Luiz escreveu Fora da lata: Como um brownie mudou a minha vida (Rocco, 2022), Chesther chegou às livrarias com Pega a Visão (Buzz, 2018) e A favela venceu: de um povo heróico o brado retumbante (Buzz, 2020)Ambos os autores nunca imaginaram que escreveriam esses livros e Luiz ainda afirmou que demorou quatro anos para concluir o seu, mas resolveram escrever para passar um pouco do conhecimento que tiveram para os demais. 

Chesther falou sobre o processo de inclusão empresarial, que deve abranger direitos e, essencialmente, a capacitação das pessoas. “Empregar 100 pessoas não é inclusão, fornecer apenas vale-alimentação não é inclusão”, afirmou. No fim, o empreendedor trouxe várias palavras de motivação para a plateia para incentivá-los a se tornarem também empreendedores, como “Acredite, uma hora vai” e “Nunca pense em desistir”.

Chesther falou sobre o processo de inclusão empresarial, que deve abranger direitos e, essencialmente, a capacitação das pessoas. “Empregar 100 pessoas não é inclusão, (fornecer apenas) vale-alimentação não é inclusão”, afirmou. No fim, o empreendedor trouxe várias palavras de motivação para a plateia para incentivá-los a se tornarem também empreendedores, como “Acredite, uma hora vai” e “Nunca pense em desistir”.

Luiz, tal qual Chester, tentou motivar os indivíduos a buscar fazer a diferença e abordou aspectos de inclusão. Ele também disse que o empreendedorismo melhora com o tempo, e contou que não é fácil ter uma empresa e que existem comportamentos que colaboram para que o negócio quebre, como falar mal dos funcionários. 

 

O Que Queremos Para o Futuro?

 

Os três sentados um ao lado do outro em frente a um painel branco com o símbolo da Bienal.
Da esquerda para a direita: Ailton Krenak, Eliane Potiguara e Juan Nyn. [Imagem: Arquivo Pessoal / Thais Morimoto]

 

A última mesa do dia foi composta por Eliane Potiguara e Ailton Krenak, sob a moderação de Juan Nyn. Potiguara escreveu três livros ao longo de sua carreira e logo de início leu um trecho dele na mesa. Já Krenak se apresentou logo em seguida e deixou claro que não estava ali como escritor, mas como um adorador da autora. Ele agradeceu o moderador, e enalteceu a colega, colocando-a em um patamar diferente. Ambos são indígenas e escritores, o que criou um vínculo forte e carinhoso entre eles.  

Com comentários brincalhões, como “Prefiro os versos da Eliane do que o metaverso”, Krenak repudiou valores patriarcais, coloniais e hierarquias e não cansou de engrandecer Potiguara, que em um dado momento se emocionou com as palavras do amigo. A autora também reconheceu o quão difícil tem sido a conquista e continuidade de direitos para as mulheres do Brasil, incluindo a si mesma. 

Parte dos assuntos tratados na Bienal eram polêmicos e impactam diretamente na vida dos indígenas, como a demarcação de terras, o que fez do momento um espaço de luta social e política. Potiguara enfatizou o quanto as pessoas estão buscando por mudanças: “elas querem lutar e não aguentam mais essa situação”, afirmou. Quanto a essa luta, ela também enfatizou o protagonismo de todas mulheres, sejam indígenas, brancas ou de qualquer outra etnia. 

O fim não poderia ser mais emocionante. “Dar um basta na fome e na miséria”, “A revolução começa dentro de nós, dentro das nossas casas”, “Nosso corpo vai ser sempre aldeia” e “Fora garimpeiros” foram apenas algumas das frases que apareceram nas falas finais dos palestrantes. Na despedida, a mescla de saberes artísticos transpareceu por meio de uma canção entoada por Krenak e de uma poesia de Potiguara. 

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