31 de março fez valer a pena a dor no pé de quem enfrentou a maratona de três dias de lama e de Lollapalooza. Confira aqui, por Luiza Fernandes e Paula Zogbi Possari, a cobertura dos shows de Vivendo do Ócio, Lirinha + Eddie, Kaiser Chiefs e Pearl Jam, algumas das atrações do último dia de festival.
Vivendo do ócio, criatividade e carisma
No terceiro e último dia do Lollapalooza, os baianos da banda de rock Vivendo do Ócio iniciaram a série de shows do palco Butantã. Ainda cedo cedo, com sol do início da tarde, o que eu via era muita gente em pé e poucas cangas no chão; aquele som não deixou ninguém sentado. Os garotos, que notaram isso, agradeceram ao público, que chegou tão cedo no festival para prestigiar a música nacional. E não era só o vocalista Jajá Cardoso que falava. Todos os integrantes – Luca Bori (baixo), Davide Bori (guitarra) e Dieguito Reistinha (bateria) – tinham um microfone perto de si e interagiam com o público.
Com riffs originais, o conjunto tocou as músicas de seu primeiro álbum “Nem Sempre Tão Normal“, de 2009; e de “O Pensamento É um Imã“, lançado no ano passado. Nas músicas, baixo, guitarra e bateria se mantiveram em sintonia através de linhas melódicas criativas que se complementavam, mesmo nas passagens entre uma música e outra.

A banda também mostrou saber aproveitar as raízes musicais de sua região ao convidar ao palco Caju & Castanha, dupla pernambucana de côco de embolada – ritmo nordestino. O outro convidado foi Pedro Gonzalez, músico uruguaio que apresentou a eles o charango, instrumento semelhante a um violão e que foi usado gravação de O Mais Clichê – canção que todos tocaram juntos no palco. Outro ápice do show foi em Nostalgia, hit que fez os não tão conhecedores da banda cantarem com o resto dos fãs assíduos. A microfonia, que foi resolvida até o final da apresentação, praticamente não prejudicou o desempenho dos garotos.
Quem não conhecia Vivendo do Ócio certamente simpatizou com a banda, pelo som, pela criatividade ou pelo carisma dos integrantes. A moça que vos escreve, pelos três elementos. Depois de ver esse show, vi que eles não são daquelas bandas de estúdio, que toca, sem tirar nem por, apenas o que se escuta no CD. Vivendo do Ócio ganhou uma fã e eu tenho certeza que não fui a única.
Por Luiza Fernandes
Lirinha e Eddie: antropofagia pernambucana
Em uma apresentação conjunta, Lirinha e a Banda Eddie fizeram provavelmente o show mais transcedental do Lollapalooza, que aconteceu no Palco Cidade Jardim.
Na sua parte do show, o ex-vocalista do Cordel do Fogo Encantado esbanjou o lirismo pelo qual é famoso; tocou músicas de sua ex-banda, como Os Oim do Meu Amor, e canções de seu álbum solo, o “Lira“, que contém desde músicas autorais, como Sidarta, a covers, como o da música Lágrimas Pretas, do projeto 3 na Massa e que a banda Agridoce também tocou um dia antes no Lolla. Juntamente com Lirinha, Eddie também mostrou repertório diversificado, com músicas próprias, como o hit Vida Boa, e reinterpretações, como a de Quando a maré encher.

Em formação nada convencional, quando as atrações tocaram em conjunto, o palco chegou a contar com até onze músicos tocando juntos ao mesmo tempo – percussões, bateria, sintetizadores, samples, guitarra, baixo -, o que teve como resultado um som onírico, abusado de harmonias experimentais e improviso.
Nesse caldo de transcedentalidade, os pernambucanos conseguiram trazer em seu som referências as marchinhas do famoso carnaval de Recife e de Olinda. Parte do público – que continha desde fãs assíduos de Pearl Jam, headline do festival que viria a tocar mais tarde no mesmo palco, a pernambucanos com bandeiras do estado hasteadas – deixou-se contagiar pelo ritmo e dançou como se estivesse em uma folia recifense.
Por Luiza Fernandes
Kaiser Chiefs: rei não perdeu a majestade
Quem foi ao palco Butantã ver Kaiser Chiefs certamente não esperava pelo que viu. Uma das indies veteranas do cenário, acabou caindo no esquecimento após a explosão de tantos conjuntos desse gênero; mas o que era pra ser mais um show cool do Lollapalooza se destacou. Boa parte disso foi graças ao vocalista Ricky Wilson, que fez de tudo. Tudo mesmo. Brincou com a câmera, correu no palco, jogou microfone e pandeirola pra cima, falou do The Hives – atração que tocou depois deles no palco Cidade Jardim – falou português, foi pra platéia e até subiu nas estruturas laterais do palco. Duas vezes. Tudo isso não comprometeu a performace vocal do cantor, que não arquejou em momento que fosse perceptível. O som também estava ótimo; Andrew White (guitarra), Simon Rix (baixo), Nick Baines (teclados) e Vijay Mistry (bateria) tocaram muito bem e estavam muito animados.

Durante todo o show, da famosa Ruby, do à nova Living Underground, Wilson, elétrico, exigiu muito da platéia, que correspondeu a ele. O ápice de suas peripécias se deu quando ele subiu no suporte próximo da câmera de filmagem, em meio ao público, e cantou The Angry Mob em plenos pulmões, pedindo que todos a entoassem junto com ele.
E o grand finale nem demandou bis; tocando dois hits seguidos, I Predict A Riot seguido de Oh My God, Ricky fez com que o público cantasse até o ultimo suspiro. Em cerca de uma hora (o tempo de show ajudou no desempenho da banda, que pode fazê-lo com todo fôlego disponível), o Kaiser Chiefs fez um show pra relembrar porque não é banda de uma música só e também para quebrar o paradigma da suposta frívolidade britânica – que o Arctic Monkeys mostrou no Lollapalooza do ano passado. A banda tem seu lugar guardado entre os shows memoráveis dos três dias de festival.
por Luiza Fernandes
luizafc00@gmail.com
Pearl Jam e seus fãs ainda estão muito vivos
O headliner do último dia de Lollapalooza não permitiu a transmissão ao vivo de seu show no domingo, mas àqueles que não foram, vale a pena assistir a a exibição que o Multishow fará no sábado, dia 6, às 21h30. Ela foi autorizada pelos membros do Pearl Jam na terça-feira, e não terá reprises.
Responsável principal pelo esgotamento dos 60 mil ingressos do último dia do festival, a banda fez um show longo e denso, com muitos de seus maiores sucessos – apesar da ausência de algumas das músicas “queridinhas”, como Last Kiss. Também apareceram dois covers: I Believe In Miracles, do Ramones, que foi dedicado pelo vocalista Eddie Vedder ao Brasil, e Baba O’Riley, do The Who.

Carismático, Vedder arriscou muitas falas em português, incluindo um “Feliz Páscoa” e uma parabenização à São Paulo pelo respeito ao casamento gay, que arrancou muitos aplausos da plateia, antes da música Better Man. Alguns pontos altos de empolgação durante a apresentação foram em Do The Evolution, do álbum “Yield“, Even Flow e Alive, ambas do disco “Ten“.
Com 23 anos de banda, um possível cansaço dos membros foi bem contornado, e o show manteve o ótimo ritmo do início ao fim. O frontman agradeceu e parabenizou outras bandas que se apresentaram no mesmo dia, e aplaudiu um público satisfeito – boa parte do qual ficou no palco Cidade Jardim desde o início da tarde aguardando a atração principal – antes de encerrar o festival com Yellow Ledbetter.
A banda está gravando um novo álbum, ainda sem título, e afirma que pretende voltar ao Brasil e que não teria aceitado o convite do festival nesse momento (fora de turnê) se não fosse a América do Sul.
por Paula Zogbi Possari
paulichas@gmail.com
E a cobertura do Lollapalooza termina neste terceiro dia deixando aquela vontade para a edição 2014 já confirmada pela produção do evento. Aproveite para (re)ler como foi o a cobertura do Blog no primeiro e segundo dia e saber um pouco mais sobre a história do evento.
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