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Do cinema para a Amazon: ‘Uma Equipe Muito Especial’

SÉRIE DO PRIME VIDEO RELEMBRA O CLÁSSICO DOS ANOS 1990, COM FOCO MAIOR NA DIVERSIDADE DAS FIGURAS FEMININAS DA ÉPOCA

A história do primeiro time de beisebol feminino de Rockford Peaches já ocupou as sessões da tarde nos anos de 1990 com o clássico filme de Penny Marshall, com participações ilustres de Geena Davis (Dottie Hinson), Tom Hanks (Jimmy Dugan) e Madonna (Mae Mordabito). Lançada pela Amazon Prime, a série Uma Equipe Muito Especial (Prime Video, 2022) — originalmente do filme de mesmo nome A League Of Their Own, inspirada no filme que completa 30 anos, se aprofunda no universo feminino das integrantes do time e aborda questões como machismo, racismo e empoderamento feminino, com muito mais profundidade do que o filme de 1992.

Amazon Studios faz série inspirada no filme A Team Of Their Own, de 1992. [Imagem: Reprodução]

Detalhes são tudo!

Ainda que a Amazon Studios tenha iniciado suas produções originais posteriormente a Netflix, que engloba a maioria dos assinantes de streaming, ela traz sua marca registrada nas séries e nos filmes com uma abordagem diferente da concorrente, com menos clichês e mais diversidade de histórias. Com Uma Equipe Muito Especial não foi diferente: o toque amarelado nas imagens, a trilha sonora — que conta com Piece Of My Heart de Big Brother & The Holding Company e I’ve Been Lovin’ You Too Long na voz de Ike e Tina Turner — e o ambiente dos anos 1940 foram certeiros para que o espectador pudesse se sentir imerso na série.

Na parte dos figurinos, o uniforme das Peaches na série remetem ao original da primeira formação do time de Rockfield. O vestido rosado na cor pêssego — do qual derivou o nome do time, os acessórios vermelhos e o logo do time no peito são característicos das vestimentas das integrantes de Illinois.

O figurino foi inspirado na vestimenta original do time de beisebol feminino. [Imagem: Amazon Studios/Divulgação; AAGPBL]

Mulheres fortes interpretando personagens empoderadas

O elenco conta figuras marcantes e já conhecidas: a própria co-criadora da série, Abbi Jacobson,  também atua como uma das protagonistas da série, Carson Shaw, a dona de casa que foge de Lake Valley Idaho para participar da peneira — seletiva de beisebol — em Rockfield. Ao lado de Jacobson, D’Arcy Carden, estrela de The Good Place, interpreta Greta Gill, uma mulher com personalidade que já sofreu por pertencer ao universo LGBTQIAP+, mas se mostra confiante no que faz. Sua melhor amiga, Jo DeLuca (Melanie Field), é uma rebatedora arrogante com braços rápidos que acompanha Greta na vida nômade pelos Estados Unidos.

Jo DeLuca, Carson Shaw e Greta Gill entram em uma aventura fora de série. [Créditos: Amazon Studios/Divulgação]

As personalidades das figuras femininas são muito marcantes, sendo muito mais enfatizadas do que no filme, que foca na dureza do técnico Jimmy Dugan, interpretado por Tom Hanks. Na série, valoriza-se a história de cada mulher que se entrega no campo de beisebol. Jess McCready (Kelly McCormack) e Lupe García (Roberta Colindrez) formam uma dupla de mulheres marrentas e interessantes, que se mostram indignadas com vestuários e ordens de etiqueta que as tornam esteticamente mais “femininas”.

Jess e Lupe são as companheiras de gênio forte. [Créditos: Amazon Studios/Divulgação]

A cubana Esti González, interpretada pela porto-riquenha Priscilla Delgado, traz a figura de imigrantes latino-americanos nos Estados Unidos dos anos de 1940, mostrando a dificuldade de estrangeiros de se adaptarem à cultura americana, principalmente com a questão da barreira linguística. A partir da língua espanhola, Lupe ajuda Esti a se enturmar na equipe e, de certa forma, compartilha um pouco da vida pessoal antes do esporte.

Muito além do filme: representatividade negra

Na produção de Penny Marshall, a participação de personagens pretas não refletiu com relevância a realidade dessa comunidade, principalmente da figura feminina na 2ª Guerra Mundial. Após 30 anos, a inclusão da representatividade negra é uma escolha consciente e válida para a série realizada em 2022, principalmente após o caso de George Floyd e os protestos antirracistas. Uma Equipe Muito Especial  traz cenários mais condizentes com a época. A divisão das narrativas de Carson Shaw e Maxine Chapman (Chanté Adams) contadas em paralelo é um recurso interessante para acompanhar os acontecimentos e a realidade dos dois mundos de mulheres separadas pela cor da pele.

Maxine e Carson têm suas vidas narradas em paralelo com alguns cruzamentos. [Créditos: Amazon Studios/Divulgação]

A série também concentra o protagonismo nas figuras de Maxine, e de sua melhor amiga Clance (Gbemisola Ikumelo). Max sempre sonhou com uma carreira no beisebol, mas esteve presa às expectativas da mãe, que esperava vê-la em um casamento próspero e mantendo a herança do salão de cabeleireira. Já a sua amiga, Clance, tem uma vida suburbana e gosta de fantasiar a realidade a partir de seus desenhos de histórias em quadrinhos.

Clance e Maxine são símbolo de sororidade na comunidade negra. [Créditos: Amazon Studios/Divulgação]

As duas personagens, por mais que tenham objetivos de vida diferentes, são símbolo de sororidade em uma comunidade que não valoriza as mulheres pretas. Logo no primeiro episódio, Maxine vai até a peneira em Rockfield, mas não permitem a participação dela por não aceitarem mulheres de cor no time. Apesar de fazer um lançamento surpreendente na frente dos patrocinadores, Max é retirada do campo e Clance está lá para dar um suporte emocional a sua amiga.

Durante a série, apesar do constante apoio de Clance, Max nem sempre pode contar com a sua amiga, principalmente quanto à questão da sexualidade: enquanto Clance está feliz em seu casamento com Guy Morgan (Aaron Jennings), Maxine não pensa em se casar e se questiona se o relacionamento hétero é o que a faz feliz.

LGBTQIAP+ na ativa!

O estereótipo de mulheres lésbicas no beisebol já existe e é de conhecimento comum. O diferencial da série é a sutileza nos detalhes para representar as diversas feminilidades e masculinidades dos anos 1940. A descoberta do universo LGBTQIAP+ pelas protagonistas Carson e Maxine faz a trama ser mais interessante e até curiosa para aqueles espectadores que não fazem parte dessa comunidade.

Carson Shaw, a então técnica do time de Rockfield Peaches, mal se questionava sobre sua sexualidade até ser amorosamente envolvida por Greta. Depois disso, a faísca se espalha e o horizonte de Carson se expande ao se sensibilizar mais com os preconceitos homofóbicos sofridos por outras pessoas — até mesmo por suas colegas. Desde o começo, Carson é casada com um homem que foi para a guerra, então ela teve um disfarce heteronormativo que garantia certa segurança durante a narrativa.

Carson e Greta se envolvem secretamente na série [Créditos: Amazon Studios/Divulgação]

Em paralelo, Maxine sente que Toni Chapman (Saidah Arrika Ekulona), sua mãe, a priva de muitas coisas por um atrito familiar: a sexualidade da tia de Max, Bert Hart (Lea Robinson), foi motivo de conflitos passados entre ela e Toni. Até Maxine entender a situação, ela fica afastada da mãe e se aproxima da tia, cortando os cabelos, se vestindo diferente de antes e, até mesmo,  frequentando festas na casa do tio Bert (Max também teve dificuldade em identificar o gênero de Bert), em que vinham pessoas de todo tipo.

Esse paralelo de mundos em festas e bares é uma das cenas mais gostosas de se ver, em que Carson e Maxine, apesar de estarem em espaços diferentes, compartilham a descoberta do pertencimento. Ver o sorriso das personagens se identificando e, principalmente, se sentindo seguras com pessoas da comunidade LGBTQIAP+ é gratificante. 

Maxine se sente em casa na comunidade LGBTQIAP+.  [Créditos: Amazon Studios/Divulgação]

Inclusive, no bar em que Carson leva as suas colegas de time, Rosie O’Donnell interpreta Vi, a barwoman queer dona do próprio estabelecimento. Além de ser uma figura conhecida nos Estados Unidos como comediante e ativista dos direitos LGBTQIAP+, Rosie é um elemento resgatado propositalmente para relembrar o filme inspirador da série, em que ela participou como Doris Murphy, uma das jogadoras da terceira divisão do time. 

Rosie O’Donnell como Vi, em Uma Equipe Muito Especial. [Créditos: Amazon Studios/Divulgação]

Apesar desse deslumbre, a série não romantiza a vida da comunidade LGBQIAP+ da época: muitos preconceitos dentro da família, entre amigos e, principalmente, por policiais, são explicitados em violências verbais e físicas e em exclusões sociais. A série deu um enfoque nas mulheres por se tratar do time feminino, mas aparecem figurantes interpretando soldados gays e outras pessoas desse universo.

Único spoiler: você pode se emocionar MUITO!

Uma Equipe Muito Especial é uma produção que merece ser assistida com muita atenção para admirar a diversidade, a representatividade e a história envolvente que ela traz. Para aqueles que são fãs do filme de 1992, não esperem muita comparação com o original, já que a figura feminina é muito mais explorada na série, o que traz uma narrativa mais diferente em um intervalo de 30 anos. Mas, a frase “não há choro no beisebol!” ainda é válida, mesmo depois de tanto tempo, então pegue o balde de pipoca e o pacote de lenços e aproveite cada segundo! 

Venha ser um(a) Peach! [Créditos: Amazon Studios/Divulgação]

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