Anne Marie Gratigny (Michèle Laroque) vive com um esposo que tem mais contato com a cadela de estimação do que com qualquer ser humano, inclusive ela mesma. Não é de se espantar, portanto, que ela só se sinta realmente feliz ao sair para se encontrar às escuras com seu verdadeiro amor.
Dificilmente uma mulher se sente satisfeita sem carinho. Pior ainda quando se encontra em meio a cirurgiões plásticos e suas mulheres que insistem em sugerir o tempo todo que se dê “uma esticadinha aqui e outra ali”, acabando com qualquer auto-estima. E é por isso que Anne Marie não se importa absolutamente com o acidente que causa a morte de Gilbert (Wladimir Yordanoff), seu marido.
Porém, ao pensar que estaria livre para viver com seu amante Jacques (Léo Labaume), sua família super-protetora enxerga na recém viúva enorme fragilidade e necessidade de apoio, e não a deixa em paz nem por um momento. E assim se sustenta a trama por grande parte dos 93 minutos da comédia dramática.
Não são muitos os risos sutis que a diretora Isabelle Mergault consegue arrancar da platéia nesse trabalho. Ela tenta toques de romance e reflexão enquanto exalta a vida mais simples, longe dos problemas urbanos e futilidades. E “chatifica” a rotina das classes sociais mais altas.
Com um humor um pouco mais leve, diferente do escracho inescrupuloso com o qual o brasileiro está acostumado, o filme ganha com belas paisagens e um toque de realidade no retrato de uma família que aparentemente tem tudo. Além disso, sempre é bom lembrar que é possível um recomeço.
Mas a história é previsível, os personagens, caricatos em excesso para passar com fluidez alguma lição. A possível grande falha é tentar excluir do filme qualquer pessoa minimamente comum.
Enfim Viúva (Enfin Veuve) estréia no Brasil no próximo dia 3. Vale a pena prestar atenção na ótima música tema (Et si tu n’existais pas, Joe Dassin) e em como ela é importante na construção da personagem principal.
Por Paula Zogbi