A história
Annalise Keating é advogada de defesa criminalista e professora, na “Middleton Law School”, de “Direito Penal 100”, ou, como ela gosta de chamar, “How to get away with murder” (em tradução livre, “Como se sair impune de um assassinato”). No episódio piloto, a série apresenta a primeira aula da professora para uma nova turma de calouros. Já no início, Annalise afirma “eu não vou ensinar a vocês como estudar a lei, ou teorizá-la, mas sim como praticá-la no tribunal, como verdadeiros advogados”.
A partir de um processo seletivo, a professora escolhe os cinco melhores alunos da turma para estagiar em sua firma. Os escolhidos são Asher Millstone, Connor Walsh, Laurel Castillo, Michaela Pratt e Wes Gibbins, os Keating 5. A tarefa deles é auxiliar nos casos de Annalise, juntamente com Frank Delfino e Bonnie Winterbottom, funcionários da advogada.
Em cada episódio, acompanhamos um novo caso, as sessões no tribunal e os recursos, legais e ilegais, utilizados pelos Keating 5 para conseguir a aprovação da advogada. Se algum deles consegue entregar a ela a chave para a resolução do caso, recebe, em troca, um troféu, que pode ser utilizado pelo premiado, em qualquer momento do semestre letivo, para se livrar de uma prova.
A série trabalha com o recurso do “flashforward”, pequenas cenas que nos lançam meses à frente dos casos trabalhados em cada episódio, e nos mostram Connor Walsh, Laurel Castillo, Michaela Pratt e Wes Gibbins tensos em uma noite de festa da faculdade, tentando decidir o que fazer com o corpo de um homem morto. Ao longo dos episódios recebemos, através desses curtos “flashforwards”, mais informações sobre o que aconteceu naquela noite e, dessa forma, somos levados a acompanhar o dia a dia dos personagens na resolução de casos jurídicos enquanto nos perguntamos como eles acabarão envolvidos em um assassinato no futuro.
Visibilidade
Criada por Peter Nowalk e Shonda Rhimes, a série conta com marcas de outras realizações da produtora executiva. Responsável também pela série de sucesso “Grey’s Anatomy” e a mais recente “Scandal”, Rhimes é famosa por conceder visibilidade a mulheres, uma vez que abre espaço e confere grande diversidade às personagens femininas. Em “How to get away with murder” não é diferente, a protagonista, Annalise Keating, é uma mulher negra, poderosa e respeitada, assim como Miranda Bailey e Olivia Pope, das outras duas produções.
Nesse último trabalho, Shonda Rhimes ousou ir mais longe do que em suas séries anteriores e concedeu ainda mais visibilidade às minorias sociais. O grupo Keating 5 é composto por mais duas mulheres, a latina Laurel Castillo e mais uma negra, Michaela Pratt, além de Wes Gibbins, também negro, e Connor Walsh, homossexual.
Na maioria das séries televisivas, principalmente em séries de suspense, o protagonista é homem, branco e heterossexual, e as minorias sociais, se são representadas, são colocadas como adjuvantes em papéis estereotipados. Quando coloca essas figuras longe dos estereótipos e lugares sociais aos quais geralmente são destinadas em produções norte americanas, Shonda Rhimes trabalha para quebrar com convenções arraigadas e noções preconcebidas sobre a representação da diversidade. Assim, em “How to get away with murder”, as apresenta simplesmente como pessoas, mostrando que etnia, gênero ou orientação sexual não determinam as qualidades, as habilidades ou a personalidade de ninguém.
Críticas e expectativas
A primeira temporada da série chegou ao fim nos Estados Unidos em fevereiro. No Brasil, termina em junho, e uma segunda temporada já foi confirmada. Diante dos quinze episódios da primeira temporada, as críticas foram em geral positivas. Recebeu pontuação 8,3/10 no IMDb (“Internet Movie Database”, base de dados online com informações sobre filmes, músicas e programas de televisão) pelos espectadores e figurou na lista dos 10 melhores programas de televisão do ano de 2014 do AFI (American Film Institute). Ainda, a atriz Viola Davis, que interpreta Annalise Keating, foi nomeada para o Globo de Ouro e ganhou um Screen Actors Guild Award por sua performance na série.
Algumas das críticas negativas feitas precocemente sobre os primeiros episódios da temporada afirmam que os personagens são antipáticos e egoístas e é, portanto, difícil gostar deles, o que pode afastar espectadores. Entretanto, ao longo da temporada somos introduzidos a questões pessoais e histórias de cada um dos seis protagonistas. Percebemos, então, que eles estão realmente preocupados com a justiça e, ainda que os Keating 5 se digladiem entre si para conseguir a aprovação de Annalise, é possível notar o surgimento de uma amizade entre eles, assim acabam se mostrando humanos, com seus defeitos e suas virtudes.
Outro ponto que seria considerado negativo é a improbabilidade da forma como são resolvidos os casos no tribunal, bem como da possibilidade de calouros de uma faculdade de direito serem suficientemente habilitados para resolver esses casos. Além disso, é apontada a falta de originalidade, uma vez que existem muitas séries mais verossímeis que se passam em tribunais. No entanto, o que realmente prende a atenção do espectador são as peripécias desenvolvidas fora do tribunal, o desenvolvimento das relações entre os personagens e a curiosidade sobre o assassinato que está para acontecer.
“How to get away with murder” é uma série que consegue envolver e incitar a curiosidade, e ousa ao criar personagens únicos e diversos capazes de levar o espectador a questionar seus julgamentos preestabelecidos. Os últimos episódios da primeira temporada são conturbados e marcados por muita ação e reviravoltas. Apesar de o contexto do assassinato na noite da festa universitária ser revelado, novas questões são colocadas em jogo e envolvem os protagonistas em outros problemas. Dessa forma, aqueles que acompanham a série devem esperar por uma segunda temporada ainda mais carregada de conflitos.
Por André Calderolli
andre.calderolli@gmail.com