por Natan Novelli Tu
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Um bando de anti-herois é capturado e usado como arma contra vilões ainda mais perigosos. Se a memória não falha, é quase certo que esta história já (Guardiões) havia (da) sido (Galáxia) contada. Vinda de uma série de sucessos, há dois anos, a Marvel decidiu ousar, lançando personagens totalmente desconhecidos em uma história despretensiosa, divertida e muito envolvente. Juntando tudo que havia de melhor do jeito Marvel de se fazer cinema, Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, 2014) teve uma calorosa recepção tanto da crítica quanto do público, tornando-se um modelo para muitas das aventuras que viriam a seguir. A DC e sua parceria com a Warner, por outro lado, não conseguiam emplacar mais nenhum sucesso desde O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), frustrando até mesmo muitos dos fãs com (o que deveria ter sido) Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v. Superman: Dawn of Justice, 2016). Com este Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016), a DC tentou então deixar um pouco de lado o clima sombrio de seus filmes para beber na fonte bem-humorada (e muito rentável) da Marvel, com direito até as tão características cenas pós-créditos. Infelizmente, o resultado não passa de satisfatório.
Logo nos créditos iniciais, a DC já mostra a que veio, apresentando personagem após personagem, em meio a luzes e cores psicodélicas, uma edição bastante dinâmica e uma trilha repleta de clássicos do rock como The House of the Rising Sun (The Animals) ou Sympathy for the Devil (The Rolling Stones) – que é ainda composta por Queen, The White Stripes e Creedence Clearwater Revival, assim como por artistas mais contemporâneos, como Eminem, Skrillex e Twenty One Pilots.
Em questão de minutos, quase toda a trupe já nos é apresentada. A informação, no entanto, vem tão rápida em letreiros explicativos que surgem e desaparecem, que o que nos resta é uma confusão astral. Com exceção de Pistoleiro (Will Smith) e Arlequina (Margot Robbie), todas as demais personagens são basicamente jogadas como se precisassem ser desenvolvidas o quanto antes possível. O cúmulo dessa situação ocorre na apresentação da chefe de operações especiais do governo Amanda Waller (Viola Davis), em que se abdica totalmente de um desenvolvimento a partir de ações ou diálogos, para no lugar trazer um voice-over preguiçoso que resume seu perfil. Falando em preguiça, é absurdo como muitos diálogos são extremamente expositivos. Em determinado momento, por exemplo, após efetuarem com sucesso o plano de extração do coração da vilã, que segundo a trama a enfraqueceria, um dos personagens diz algo como “tiramos o coração, agora temos uma chance”. Sim, nós já sabíamos disso desde a formulação do plano.
Ainda no roteiro, o filme não parece saber aonde quer chegar. Quando achávamos que a tarefa do grupo era conter um vilão, descobrimos que ela era na verdade um resgate. Quando tudo parece ter se resolvido, a trama se desmembra em um acontecimento inusitado que por vezes é só desculpa para um personagem, em um momento totalmente artificial e de portanto quase nenhuma empatia, discorrer sobre seu passado. Nesse sentido, a decepção com relação ao personagem do Coringa (Jared Leto) é gigantesca, uma vez que suas aparições são tão escassas que os trailers contêm praticamente tudo que ele fala durante a projeção. A sensação que se tem é a de que Esquadrão Suicida era só uma preparação para um filme futuro e de maior participação do personagem.
Se existe, no entanto, um acerto na obra, ele é com certeza o maravilhoso elenco de que é composto. Mesmo sabotados pelo roteiro frágil, Will Smith, Margot Robbie e Viola Davis empregam esforços impressionantes na composição de personagens verossímeis. Na verdade, o que muitas vezes ofusca erros secundários é justamente a dinâmica espontânea do grupo. Além disso, se por um lado o desenvolvimento das histórias e personalidades dos anti-herois é falho, a apresentação dos poderes de cada um é bastante envolvente. Junto a isso, as cenas de ação são também muito boas, com destaque para os golpes em câmera lenta que dão ao espectador tempo para contemplar a beleza dos quadros.
Tentando até trazer um clima mais descontraído, poucas são as piadas que funcionam – muitas delas apelam inclusive para uma hipersexualização gratuita de Arlequina que só atesta o machismo vigente no universo nerd. Esquadrão Suicida tem um material-base de muito potencial que, por falhas básicas de roteiros, é subaproveitado. Assim, o que vale aqui são os personagens carismáticos e os visuais bastante inovativos para os padrões DC, anunciando que talvez as produções futuras possam unir a sobriedade característica com uma maior ousadia e modernidade. Quem sabe até mesmo não possamos daqui há alguns anos nos referir a uma fórmula DC de se produzir? Até lá, existe ainda muito chão pela frente, ou melhor dizendo, rolo de filme.