No dia 24 de julho deste ano, a cantora Taylor Swift lançou seu oitavo álbum de estúdio. Sem nenhuma campanha prévia, sem criação de expectativas: assim chegou folklore, uma carta de Swift para os fãs sobre o que viveu e imaginou durante o período de isolamento social, por conta da pandemia do novo coronavírus. Da mesma forma, em 11 de dezembro, apenas seis meses depois, vem evermore, uma gravação “irmã” do álbum anterior, nas palavras da própria cantora.
A surpresa dos fãs deriva, principalmente, de uma mudança de padrão no processo de lançamento comum de Taylor. Anteriormente, era possível enxergar um planejamento enorme para cada “era” da cantora, enquanto nesta última, a divulgação foi praticamente espontânea.
Folklore é a cabeça da era, com as músicas mais consolidadas dentro de um conceito e estilo próprios: alguns traços de folk, alternativa e uma melancolia bucólica levada ao mainstream. A sonoridade, apesar de diferente de todos os seus trabalhos anteriores, não foge tanto assim do tradicional apresentado por ela .Este parecia ser o final feliz de mais uma era bem sucedida da cantora.
Mas surpreendendo a audiência – e talvez a si mesma – Taylor não parou de escrever. Evermore não é uma obra tão circular quanto o seu irmão, possui algumas arestas. Justamente essas arestas tornam a obra tão marcante.
Evermore parece um compilado de experimentações feitas por Taylor e sua equipe – no melhor sentido. Sem um fio da meada muito preciso, ela se permite passear por diferentes arranjos, formas de escrever e sentimentos, o que torna o álbum singular. Espontâneo, sentimental e descompromissado, o nono álbum é um respiro no momento difícil de isolamento e doença que envolve seu contexto.
As narrativas inventadas por ela também divertem. No segundo álbum, ela repete a fórmula do sucesso de betty (faixa de folklore) na rebuscada champagne problems e em no body, no crime, parceria com HAIM.
As parcerias são também fazem parte do espírito da obra. Aqui, ela se abre a novas colaborações, que enriquecem o projeto. A dupla mais inesperada e assertiva vem do indie, a banda Bon Iver. Depois de ter participado do lado A, retorna em evermore, no que talvez seja a melhor faixa da obra, a última e que nomeia o álbum.
Swift encerra o disco com uma das letras mais ternas e sinceras de sua carreira. Evermore é um relato cru do momento intenso que tem sido a pandemia: o desconsolo, mas também a esperança e do aprendizado – ainda que doloroso – proporcionado pelas pelejas diárias contra sentimentos corrosivos. Vernon e seus vocais graves, contrastantes com o timbre agudo da cantora, enriquecem a narrativa.
A mensagem que Taylor deixa é clara: por mais que muitas vezes seus fãs não acreditem, ela é apenas uma pessoa comum (com uma habilidade extraordinária de transformar os sentimentos humanos em palavras), que enfrentou os desafios emocionais da pandemia e que também gosta de se divertir e inovar.
Evermore, é, afinal, o resultado de uma vontade comum a todos: compartilhar as aflições, emoções e pequenas alegrias que nos atravessam na adversidade.