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FLIPOP 2018: a exaltação da literatura jovem adulto

(Créditos: Divulgação) Durante três dias, no Centro de Convenções Frei Caneca, a 2ª edição da FLIPOP deu espaço para que a literatura jovem adulto pudesse protagonizar. Contando com a participação de 38 convidados e 28 mesas com atividades e bate-papos, o evento organizado pela Editora Seguinte promoveu uma total imersão dos participantes no universo literário. …

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(Créditos: Divulgação)

Durante três dias, no Centro de Convenções Frei Caneca, a 2ª edição da FLIPOP deu espaço para que a literatura jovem adulto pudesse protagonizar. Contando com a participação de 38 convidados e 28 mesas com atividades e bate-papos, o evento organizado pela Editora Seguinte promoveu uma total imersão dos participantes no universo literário.

Foto: Maria Eduarda Nogueira / Jornalismo Júnior

A diversidade dos palestrantes – booktubers, escritores independentes, autores da própria Seguinte – contribuiu para que as mesas fossem divertidas, mesmo quando os temas exigiam maior seriedade. Um dos exemplos mais marcantes nesse sentido foi a mesa As várias vozes do Brasil, com a participação de escritoras do Norte e Nordeste do Brasil que, ao comentar sobre os estereótipos envolvendo suas origens, relataram casos em que as pessoas perguntaram: “tem avião onde você mora?”. Apesar da problemática envolvendo essa pergunta, as autoras (Socorro Acioli, Roberta Spindler e Jarid Arraes) e a mediadora (Bruna Miranda) contaram o caso de forma descontraída, arrancando risadas de todos os presentes.

Foto: Maria Eduarda Nogueira / Jornalismo Júnior

Não somente nessa mesa, mas também em A escrita da identificação – que contou apenas com escritoras e escritores negros –, a questão dos estereótipos foi abordada. Escrever livros envolve vários desafios, ainda mais quando quem escreve não se encontra naquele padrão definido pela mídia: homem, branco, privilegiado. Nesse sentido, a importância da representatividade foi enfatizada: os leitores negros, LGBT+, de camadas sociais marginalizadas precisam encontrar personagens parecidos com eles. Afinal, “se só um tipo de história é contada, a literatura não está sendo criativa”.

Ainda dentro da temática estereótipos na literatura para jovens, a mesa Clichês e modas literárias discutiu a importância de tornar os clichês – que não necessariamente são ruins – em algo crível, fazendo uma contextualização de acordo com o universo do público leitor. Além disso, foi ressaltada a relevância de retratar as minorias de forma fiel, criando personagens complexos e que acrescentam algo à história, não sendo apenas “cotas da diversidade”. Thati Machado, autora de “100 dias para amar seu corpo (como ele é)” diz: “Não deveria ser um diferencial escrever sobre representatividade”. Uma dica dada pelas palestrantes para aqueles que almejam escrever: “O gay não precisa ser afeminado, a melhor amiga gorda não precisa ser alívio cômico”.

Assim, percebe-se que a FLIPOP foi um evento que se preocupou com as demandas sociais, sempre trazendo temáticas de interesse público, relacionadas à literatura. Na mesa O que é uma protagonista forte?, Iris Figueiredo, Lavínia Rocha, Roberta Spindler e Bárbara Morais discutiram a representação das mulheres na cultura pop: elas têm que se apresentar sempre impecáveis, independentes (mas não muito) e capazes de suportar tudo. Isso se agrava ainda mais para as mulheres negras, que são as vítimas mais explícitas do estereótipo de “mulher forte”. As palestrantes ressaltaram que uma personagem que tem fragilidades também é forte, que os deficientes nem sempre precisam representar uma narrativa de superação, além de falar sobre a diferença nos tratamentos: “Quando um homem erra, ele é humano. Quando uma mulher erra, ela é burra”. Ou então, “Quando uma mulher escreve, é história de menininha. Quando um homem escreve, é sensibilidade”.

Foto: Maria Eduarda Nogueira / Jornalismo Júnior

Nesse contexto, com tantos temas importantes sendo discutidos em uma feira literária direcionada para jovens, pergunta-se o quanto os jovens estão preparados para lidar com esse tema. Bruna Miranda, Jim Anotsu, May Sigwalt e Cláudia Fusco responsabilizaram-se por responder essa pergunta em Os horizontes do YA. Durante a conversa, os palestrantes lembraram que “a literatura sempre tratou de temas pesados”, a exemplo do livro de Goethe, Os sofrimentos do jovem Werther. Atualmente, essa necessidade de representatividade, potencializada pela internet, força o mercado editorial a se adaptar, uma vez que os jovens querem se identificar e se descobrir por meio dessa literatura voltada a eles. A pluralidade do YA também foi discutida: há espaço para romance, fantasia, não-ficção, terror e muito mais.

A inovação também fez parte da FLIPOP, o que se revela pela sequência de mesas Livro ao vivo: ambientação, personagens e conflito. Tomando espaço uma em cada dia, o objetivo dessas palestras interativas foi construir uma história naquele momento. Com a mediação de AJ Oliveira e Jana Bianchi, diferentes autores foram convidados ao longo do evento para, com a ajuda dos participantes, formular uma narrativa do zero. A iniciativa foi muito interessante, principalmente para aqueles que pretendem publicar livros um dia, uma vez que, durante o processo, os autores convidados e os mediadores ofereciam várias dicas sobre como escrever uma boa história.

Ademais, o contexto político brasileiro teve seu espaço para discussão. Em O que a fantasia diz sobre nosso mundo?, Felipe Castilho mediou uma conversa muito enriquecedora com Eric Novelo, Lavínia Rocha e Fernanda Nia sobre como a ficção nem sempre é tão imaginada assim. Os autores comentaram que muito do que está retratado em seus livros é baseado em fatos reais, apesar de assumirem um tom fantasioso. Dentro disso, a figura do super-herói surge como aquela que tenta consertar os erros do mundo real e o vilão se aproxima dos problemas enfrentados nesse mesmo mundo. Fernanda comenta que, em seu novo livro, “Mensageira da Sorte”, o grande antagonista é a corrupção.

(Créditos: Divulgação)

A presença de autores internacionais, como Morgan Rhodes e Jeff Zentner, foi o auge da FLIPOP. O bate-papo com Jeff, autor de Dias de Despedida, foi extremamente descontraído. Por ter morado na região norte do Brasil durante dois anos, o escritor fala português fluente, o que contribui para que todos os presentes pudessem compreender perfeitamente a conversa. Ao comentar sobre sua volta ao Brasil depois de 20 anos, Jeff diz: “Senti muita falta do açaí’. Ele ainda comenta sobre seu livro recém lançado e dá alguns spoilers sobre seu próximo trabalho, que será feito a partir de um ponto de vista feminino. Para escrever sob a perspectiva de uma mulher, Jeff falou que imagina como seria se ele fosse mais inteligente, arrancando gargalhadas do público. O escritor é muito carismático e certamente, cativou o público!

Outra vantagem trazida pela FLIPOP foi a possibilidade de conseguir autógrafos dos seus autores preferidos. Nesse ponto, a organização deve ser elogiada pois tudo foi feito de forma sistemática e disciplinada. Ao entrar no evento, todos os participantes recebiam uma pulseira com uma senha, que seria usada para conseguir o autógrafo. Com isso, as pessoas podiam circular livremente pelas mesas, sem precisar enfrentar filas gigantescas e perder uma parte significativa do evento.

Foto: Maria Eduarda Nogueira / Jornalismo Júnior

Os diversos brindes distribuídos, a possibilidade de comprar livros nos stands e as caixas literárias foram outros aspectos que enriqueceram a experiência, contribuindo para que esse festival permaneça ainda por muito tempo na ativa. Desse modo, pode-se dizer que eventos como a FLIPOP trazem o melhor da literatura nacional e internacional, em um ambiente despojado e acolhedor.

Por Maria Eduarda Nogueira
mariaeduardanogueira@usp.br

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