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Decadência metalinguística em A Grande Dama do Cinema

Por Isabel Magalhães Teles isabel.teles@usp.br “Brindamos porque nossa vida não foi de filme!” A homenagem feita copos de leite por três senhores idosos dá o pano de fundo para a trama de A Grande Dama do Cinema (El cuento de las comadrejas, 2019). O grupo reúne Pedro, um ator aposentado (Luis Brandoni), Francisco, um roteirista …

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Por Isabel Magalhães Teles
isabel.teles@usp.br

“Brindamos porque nossa vida não foi de filme!” A homenagem feita copos de leite por três senhores idosos dá o pano de fundo para a trama de A Grande Dama do Cinema (El cuento de las comadrejas, 2019).

O grupo reúne Pedro, um ator aposentado (Luis Brandoni), Francisco, um roteirista (Marcos Mundstock), e Oscar, um diretor de cinema (Oscar Martinez), que celebram seus 50 anos de amizade e sua vida sem problemas, muito diferente do mundo das telas, com o qual têm familiaridade.

O trio divide uma casa luxuosa e o protagonismo do filme e a atriz Mara Ordaz (Graciela Borges), considerada uma estrela na época das películas em preto e branco. Ela comprou sua mansão na época em que estava no auge, e decidiu dividi-la com seu marido Pedro, suas irmãs e os respectivos maridos, Oscar e Francisco. Quando ela está sozinha com os três homens, sente-se constantemente contrariada e vê seu casamento esfriar pela influência dos amigos sobre Pedro.

A vida dos quatro moradores da mansão começa a se confundir com um filme no momento em que um jovem casal (Clara Lago e Nicolás Francella) chega perdido à sua residência pedindo para usar o telefone. Enquanto os três homens desconfiam da atitude, Mara os deixa entrar, tanto para contrariar os amigos, quanto porque se sente honrada por ter sido reconhecida pelo casal.

A partir daí, desenrola-se uma série de intrigas que vão de traição à morte, passando por chantagem e sedução. A construção dos cenários e personagens é caricata se aproximando da interpretação teatral, mas o enredo garante que isso não interfira negativamente na trama.

Um ator, um roteirista e um diretor de filmes dividem a mansão com a protagonista do filme [Imagem: Reprodução]
Sem cometer o crime de dar spoilers, é possível definir o filme de Juan José Campanella como metalinguístico e escrachado. Trata-se de uma história sobre o lado B da fama e o que acontece quando a juventude acaba contada da perspectiva daqueles que vivem esse drama.

Este recorte permite críticas sobre a construção de narrativas no cinema, exagerando propositalmente nas interpretações e efeitos sonoros. A falta de sutileza que pode incomodar no início do longa, torna-se natural diante dos absurdos do roteiro, repleto de clichês intencionalmente posicionados.

O longa é um remake do também argentino Os Meninos de Antes não Usaram Arsênico (Los muchachos de antes no usaban arsénico, 1976), cujo lançamento foi ofuscado pelo início da ditadura militar no país. A nova versão faz bem ao atualizar a relação entre os personagens de gerações diferentes  ainda manter o tom cômico da narrativa.

“Isto não é um filme, tem um final de merda como a vida”, diz um dos protagonistas nos minutos finais da trama. Sem revelar detalhes, é possível garantir que apesar de o filme caminhar para um desfecho esperado, a originalidade com que a situação se resolve garante uma excelente surpresa, digna de cinema.

O filme estreia nos cinemas de São Paulo dia 16 de maio. Confira o trailer:

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