Quando convidado pelo presidente americano Barack Obama em 2009 para uma apresentação de arte na Casa Branca, Lin-Manuel Miranda levou sua ideia: um musical de rap sobre a história do primeiro secretário do tesouro americano, Alexander Hamilton. Ele disse que ninguém incorpora mais o espírito do Hip-Hop do que esse imigrante caribenho que lutou na Guerra de Independência, fundou a nação, foi o braço direito de George Washington e brigou com todos os outros fundadores. Tudo isso através da escrita. E é a escrita que levou a peça Hamilton a ganhar 11 Tony’s e ser exibido com exclusividade pela Disney+.
A peça original, em 2015, teve ingressos disputados por celebridades do mundo todo e já é considerada clássica. Com remontagens em diversos outros países, inclusive na Inglaterra, a obra alçou Lin-Manuel à condição de queridinho de toda indústria do entretenimento.
O filme Hamilton (2020), que é resultado de três exibições gravadas do musical, não pretende só passar a experiência de assisti-lo na Broadway. O diretor Thomas Kail não se furta de fazer movimentos de câmera para acentuar uma piada ou as ótimas atuações e performances. Contudo, um é indissociável do outro.
A história segue Alexander Hamilton (Lin-Manuel Miranda) do momento em que ele embarca em Nova Iorque até sua morte. Passando pela Guerra de Independência, os governos de George Washington (Chris Jackson) e John Adams, a eleição que elegeu Thomas Jefferson (Daveed Diggs), seu casamento com Eliza Schuyler (Phillipa Soo) e seu amor platônico por Angelica Schuyler (Reneé Elise Goldsberry).
O elenco diverso de Hamilton, com certeza, não corresponde com a etnia dos personagens históricos, uma vez que é esse o objetivo de Lin-Manuel: mostrar que a história não foi feita apenas pela branquitude, que esse whitewashing, feito na história oficial do ocidente, embranqueceu ou ignorou relevantes personagens históricos. Com seu musical, o nova iorquino de família porto riquenha tenta fazer o caminho contrário.
Um dos grandes temas do filme é justamente este, perspectiva histórica. Em vários momentos, Alexander Hamilton se pega preocupado com como sua vida será lembrada. Esse acaba sendo o grande motivador de suas ações. Chegando a cogitar junto com seu amigo/inimigo Aaron Burr (Leslie Odom Jr.) que uma boa morte é o caminho mais rápido para chegar ao legado que eles querem. Essa relação de Alexander e Aaron é o dispositivo de enquadramento de todo filme, Aaron serve tanto de narrador quanto de contra ponto para Hamilton.
Se destacam as inspiradas atuações de Reneé Elise Goldsberry, como Angelica Schuyler e Philipa Soo, como Eliza Schuyler. Elas são as melhores cantoras e o centro emocional do filme. Impossível não se emocionar com os solos de Philipa no último ato do filme, e Reneé, além de sua capacidade vocal, é carismática em todas as suas cenas. Mas, quando se fala de carisma e Hamilton, não se pode deixar de citar Daveed Diggs que atua tanto como Marquis de Lafayette quanto como Thomas Jefferson. Só pela atuação, o carisma e as piadas de Daveed Diggs, o filme de 2h40m (com um intervalo às 1h15 de duração) já vale a pena.
Mas além disso, a experiência de assistir Hamilton é tão diversa que consegue agradar quem não gosta de musical, quem não gosta de romances históricos, quem não gosta de rap, quem não gosta de teatro e com certeza quem gosta de tudo isso.
Lançado durante a pandemia, uma vez que as produções estavam escassas, a filmagem de Hamilton foi um grande acerto por democratizar e divulgar o trabalho de um dos grandes criadores do nosso tempo.
O longa Hamilton está disponível para os assinantes da plataforma Disney+. Confira o trailer legendado:
*Imagem da capa: Divulgação/Disney+