Por Jullyanna Salles,
salles.candido@gmail.com
O Jazz encanta os nossos ouvidos desde o início do século XX. O gênero musical leva consigo um caráter de cultura popular e tem fortes influências afro-americanas. Sua popularidade foi bastante alta entre as décadas de 20 e 60, mas a sua grandiosidade foi capaz de fazer com que ele resistisse e continuasse existindo e se reinventando até os dias de hoje com artistas como Amy Winehouse, Michael Bublé e Madeleine Peyroux.
Como não poderia deixar de ser, o jazz se fez presente também no cinema. As formas em que ele aparece são bastante diversificadas e não só em trilhas sonoras como se espera. O Cinéfilos separou alguns filmes que premiam a sétima arte com a primeira, levando a outro nível as duas categorias.
O clássico
O Homem com o Braço de Ouro (The Man With The Golden Arm, 1955): Dirigido por Otto Preminger, o filme conta a história de um ex-presidiário que usa seu talento como crupiê (no poker, aquele que distribui as cartas) para financiar o vício em heroína. Saindo da prisão, o homem tenta recuperar a sua vida sem se envolver na rotina que levava antes. Para isso, se torna um percussionista e é essa a deixa para que o jazz seja introduzido na trama. A trilha sonora, cujo responsável foi Elmer Bernstein, foi indicada ao oscar de 1956 e chama atenção para o longa, que tem ninguém menos que Frank Sinatra como protagonista. Grande parte das cenas tem um fundo musical cuidadosamente harmonizado com a intensidade das passagens. As cenas de conteúdo puramente musical são simples e condizentes com a tecnologia dos anos 50, muitas vezes o destaque é apenas a percussão do protagonista, Frankie Machine. É um clássico em preto e branco que merece ser relembrado.
A biografia
Ray (Ray, 2004): Muito se conhece sobre a música feita por Ray Charles Robinson e, até 2004, o que se sabia sobre a sua vida eram os escândalos que vazavam na mídia. Jamie Foxx encarna o ídolo sob a direção de Taylor Hackford e conta ao mundo a história do cantor em forma de um drama com seis indicações ao Oscar. Cego desde os 7 anos, Ray se entrega à música e faz sucesso tocando piano. Sua carreira é extensa e não se limita ao jazz, foi interprete e compositor de Blues, Soul, Rhythm and Blues e, com muita competência, se lançou também no Country. Foi responsável por trazer à música pop o ritmo gospel e, por isso, foi bastante criticado por religiosos da época, que acreditavam que o uso da essência gospel em músicas cuja letra incentivava o flerte e a festividade eram pecado. O filme concilia a qualidade dramática com o brilhantismo musical do astro de uma forma que poucas biografias conseguiram. É fácil se emocionar com detalhes da vida de Ray Charles e se assombrar com o seu talento na mesma cena. É o tipo de filme que não exige que o espectador conheça a história do cantor, mas o incentiva a procurar mais sobre ele assim que os créditos aparecem na tela.
O (quase) documentário
Poucas e Boas (Sweet and Lowdown, 1999): Woody Allen é um grande fã de jazz e não ficou satisfeito em utilizá-lo apenas em trilhas sonoras. Interessado na vida de um guitarrista em particular, Emmet Ray, o diretor fez uma comédia dramática com essência de documentário para retratar um pouco da personalidade e da carreira de Emmet. Protagonizado por Sean Penn, as cenas são intercaladas por depoimentos e comentários do próprio Woody Allen e outras figuras como Ben Duncan, DJ da WFAD-FM nos anos 90, e Nat Hentoff jornalista e historiador de jazz. Emmet fazia jazz com cordas de uma maneira muito peculiar e que o longa mostra sem se preocupar com excessos. As cenas musicais são em grande número, mas de pouca duração, mantendo o espectador interessado e curioso. Além disso, há a personalidade forte do guitarrista, o diretor deixa claro já no início o porque escolhê-lo: “Por que Emmet Ray? Ele era interessante. Ele era uma figura fascinante. Eu era grande fã dele. Eu o achava um tremendo guitarrista. E ele era estranho. Bem, se estranho for a palavra errada então, diria, meio esquisito. Era cheio de energia, mas também era mal-educado e chato”. É um filme para conhecer um pouco mais da história do jazz e se divertir com as manias e excentricidades do guitarrista.
A animação
A Princesa e o Sapo (The Princess and The Frog, 2009): Sim, jazz não é só para adultos e a Disney provou isso com essa animação. Baseado no conto de fadas do príncipe que é transformado em sapo, o filme é o primeiro da Disney que tem como protagonista uma princesa negra. Segue o estilo de musical da Broadway, feito no tradicional 2D que trouxe tanto sucesso para a produtora entre os anos 80 e 90. A história se passa em New Orleans, berço do jazz e tem uma extensa trilha sonora baseada no gênero. O responsável por ela é Randy Newman, indicado ao Oscar dezoito vezes, das quais ganhou em duas. Ao Grammy, foi indicado treze vezes e ganhou em cinco. Não se esperava nada menos do que um conteúdo musical muito bem feito e uma animação infantil que segue a qualidade dos estúdios Disney. Apenas uma composição não foi feita por Newman, “Never Knew I Needed”, música dos créditos, que foi composta pela cantor Ne-yo.
O Premiado / Musical
Chicago (Chicago, 2002): Em 1975 o musical estreou na Broadway e foi apresentado 936 vezes. Em 1996, seu revival se tornou o sétimo show da Broadway há mais tempo em cartaz na história. Rob Marshal foi o diretor da adaptação cinematográfica, indicada em treze categorias do Oscar e ganhador em seis, inclusive a de Melhor Filme, tradicionalmente atribuída aos dramas. Desde 1968 um musical não ganhava nesta categoria. O longa, que se passa na década de 20, satiriza o sistema de justiça criminal expondo a corrupção que acontece nele. Além disso apresenta o conceito de “celebridade criminal” que a mídia forma, baseado na história verídica das acusadas Beulah Annan e Belva Gaertner, absolvidas de assassinato em 1924. A qualidade da produção justifica os 45 milhões investidos no orçamento. O figurino, as atrizes e a mixagem de som por si só já garantiriam o valor do longa, que em cada cena é carregado de detalhes. A recepção do filme foi suficientemente boa para arrecadar, nas bilheterias, quatro vezes o valor investido na produção, cerca de 300 milhões no mundo todo. É difícil não reconhecer o mérito da adaptação, assim como não prestigiar e admitir o enriquecimento da fusão entre o cinema e a música.
Estes são alguns dos filmes em que o Jazz é apropriado ao cinema com qualidade e competência. Conhece mais algum? Pode colocar aí nos comentários!