A dor de uma perda é sempre a dor de uma perda, certo? Errado. A dor se manifesta de formas diferentes nas pessoas e não existem fórmulas prontas que ajudem a secar as lágrimas em poucas semanas. É justamente esse sofrimento desconexo o pano de fundo da peça A Toca do Coelho, em cartaz no Teatro Faap. A montagem brasileira é dirigida por Dan Stulbach e traz Maria Fernanda Cândido e Reynaldo Gianecchini como protagonistas.
O texto original é de David Lindsay-Abaire e a montagem, que estreou na Broadway em 2006, levou uma série de prêmios, inclusive o Pulitzer de dramaturgia e o Tony de melhor atriz para Cintia Nixon (famosa pela sério Sex and the City).
A história aborda um casal que acaba de perder o filho de quatro anos em um acidente de carro. Marido e mulher, então, passam a conviver com a perda de jeitos muito conflitantes, o que ocasiona uma convivência insustentável entre eles. Beca (Maria Fernanda Cândido), quer se ver livre de todas as lembranças do menino, inclusive se mantendo afastada do próprio marido. Ela tira todos os desenhos do filho espalhados pela casa, doa as roupas dele e não quer procurar ajuda profissional. Já Paulo (Reynaldo Gianecchini), tem justamente nas lembranças deixadas pelo filho o seu ponto de equilíbrio e no grupo de terapia, um pouco de alívio em relação à tragédia.
Juntam-se ao casal a mãe, Nat (Selma Egrei), e a irmã, Isa (Simone Zucato), de Beca. Nat também perdeu um filho, um viciado em cocaína que se enforcou. Já Isa, que é a ovelha negra da família, vai na contramão de todos e começa o espetáculo contando à irmã que está grávida. Além disso, a chegada do adolescente Jason (Felipe Hintze), motorista do carro que atropelou o filho, vai causar ainda mais reviravoltas na trama.
Todo o clima tenso entre a família e o casal provoca no público uma sensação de desconforto e de compaixão pelos personagens, que buscam um mesmo objetivo, mas de maneiras tão distintas que parecem se desencontrar no tempo e espaço. #vouconfessarque fiquei morrendo de vontade de invadir o palco, pegá-los no colo, levá-los pela mão e mostrar que as coisas podem ser mais simples do que parecem de fato. Mas sabe, isso é sabedoria de espectador, eles ainda tinham um caminho a percorrer.
Rompendo a barreira física que o teatro impõe, em alguns momentos o cenário da peça se transforma em grandes telões em que Paulo assiste a um vídeo caseiro do filho. A idéia é uma das mais bem pensadas da produção, porque além de inserir a figura da criança para o público (que até então só o conhecia através das meias-falas dos personagens), também consegue comover o espectador, que se emociona junto com pai.
A catarse de fato acontece, pois o público consegue entender a dor dos personagens, que não precisam escancará-la a todo o momento, e o priva de um dramalhão mexicano. No entanto, o que falta na peça é um clímax, um momento arrebatador. A impressão que se dá é que toda a encenação ocorre numa mesma linha, sem uma grande oscilação. A transformação dos personagens e a virada da história são sutis, o que por um lado não balança o espectador, mas por outro confere leveza à história e até um ar de naturalidade.
Durante a coletiva de lançamento da peça, toda a produção e o elenco deixaram claro que o melhor do texto é sua sensibilidade. Stulbach fez questão de ressaltar: “Não é para refletir, quero que as pessoas saiam emocionadas, transformadas. Não é uma história para mexer com o intelecto, é no coração”.
Por Thaís Matos
thais.matos.pinheiro@gmail.com