Por Victória Pimentel
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Nova York. 1961. É neste cenário em que se passa o novo longa dos irmãos Joel e Ethan Coen, Inside Llewyn Davis (2013), vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes 2013. O filme se passa ao longo de uma semana na vida de Llewyn – interpretado por Oscar Isaac (Drive, 2011) – um cantor de folk que vive no bairro do Greenwich Village e batalha pra conquistar o reconhecimento. Ou pelo menos para conseguir sobreviver trabalhando com música.
O filme começa com uma cena de Llewyn cantando em um bar, lugar onde os jovens músicos da época se apresentavam e assim começavam a despontar. É neste momento que já se percebe a qualidade da direção dos irmãos Coen. A cena, além de ser filmada de modo bastante autêntico, é composta por uma iluminação que compõe de modo admirável o clima do local.
A partir de então, a história se desenrola sempre pautada na busca de Llewyn por uma forma de sustento. Ele, que antes fazia parte de uma dupla de folk com seu colega Mike, passa a buscar o reconhecimento de seu trabalho solo com seu disco ”Inside Llewyn Davis”. Em meio às dificuldades, sempre acaba buscando o sofá de algum amigo para passar a noite. Dois desses amigos são Jean e Jim Berkey, casal interpretado por Carey Mulligan (O Grande Gatsby, 2013) e Justin Timberlake (A Rede Social, 2010). Llewyn tem uma relação bastante conturbada com Jean. Os dois tiveram um romance e agora Jean se encontra grávida – sem saber, porém, quem é o pai.
O filme conta também com a atuação de John Goodman (Argo, 2012) e Garrett Hedlund (On The Road, 2012), interpretando, respectivamente, um senhor um tanto excêntrico e seu ajudante. É com eles que Llewyn pega carona quando viaja para Chicago em busca de uma gravadora. Um dos personagens mais importantes do filme é, no entanto, um gato. Sim, um gato. O bichinho, que era de um professor amigo de Llewyn, acaba escapando do apartamento do dono, restando ao músico cuidar dele. É ele quem garante cenas não só muito engraçadas como também muito bonitas, deixando a história mais especial.
A atuação de Oscar Isaac como o personagem principal Llewyn Davis é também muito impressionante. O cansaço e o desgaste que tomam conta do personagem ao longo do filme é evidente no rosto do ator nas últimas cenas. Oscar, além de atuar, canta também. O filme é embalado com uma trilha sonora fantástica. Ela é composta por versões de uma série de sucessos do folk e se adequa muito bem ao clima da história: calma, mas carregada de sentimentos. Esse clima é completado pelo colorido do filme. Percebe-se a abundância de tons mais sóbrios, como o marrom e o bege, os quais combinam com o inverno – estação em que se passa a história – mas que ao mesmo tempo transmitem uma sensação aconchegante.
O roteiro foi levemente baseado na vida de Dave Von Ronk, cantor de folk norte-americano da época. Pouco comercial, porém, foge dos clichês hollywoodianos onde tudo acaba dando certo. A história se mostra, na verdade, bastante realista. Nem por isso que se torna um filme enfadonho, sem graça, ou mesmo triste. Toda a melancolia que o filme carrega é equilibrada de modo sábio e elegante com cenas cômicas e muito bem sacadas.
Fugindo mais uma vez do lugar comum, o longa conta ainda com algumas surpresas como o enredo alinear e um final um tanto inesperado. E claro, tratando-se de um filme que gira em torno do cenário musical dos anos 60, não poderiam faltar referências ao grande nome do folk, Bob Dylan.
Responsáveis por longas elogiados como O Grande Lebowski (The Big Lebowski, 1998) e o remake de Bravura Indômita (True Grit, 2010), os irmãos Coen fazem mais uma vez um ótimo trabalho. É um filme agradável e completo. Vale o ingresso.