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Ignis Cup 2º Split | Rise Gaming vence final e se torna campeã pela primeira vez no cenário inclusivo

Em confronto de cinco jogos, a RSE leva pela primeira vez o título do campeonato inclusivo de League of Legends em cima da VKS na Ignis Cup 2º Split de 2024

Por Gustavo Radaelli (gustavohmr10@usp.br)

Apesar de ser uma equipe nova, a Rise Gaming, time de e-sports de Sorocaba, já tem grande destaque, tanto no campeonato do CBLoL Academy quanto na Ignis Cup, e chegou pela terceira vez à final do campeonato inclusivo de League of Legends. Mesmo com as derrotas nas duas últimas edições, a RSE se superou, venceu a Vivo Keyd Stars em uma disputa digna de cinco confrontos e levou a taça pela primeira vez para casa.

A Ignis Cup, campeonato brasileiro criado em 2022, é a principal competição inclusiva de League of Legends. As vagas do torneio são destinadas às mulheres e pessoas LGBTQIA+ que não tem grandes oportunidades de espaço nas equipes de outras ligas profissionais, como o CBLoL. O objetivo da Ignis é reeducar o cenário de LoL e de outros e-sports, ambientes considerados tóxicos, preconceituosos e machistas, além de oferecer oportunidades para que essas jogadoras conquistem prática e espaço nos esportes eletrônicos.

O time da Rise, que já era um nome de peso no cenário, ganhou ainda mais forças durante esse segundo split. As players Strangers, jogadora da rota do meio, Yato, atiradora da equipe, e Winzi, suporte do time já são membros da RSE desde o ano passado e estavam presente nas duas últimas finais contra a paiN Gaming, time referência na competição, mas anunciou a sua saída do torneio esse ano. Para ajudar ainda mais na escalação, Juny — antiga jogadora da selva da paiN e uma das primeiras a alcançar o top 1 nas filas ranqueadas de 2024 — entrou para a equipe, juntamente com Millicent, a jogadora da rota topo, que se encontra em seu primeiro ano na Ignis e se tornou uma grande revelação da disputa. Junto com o técnico Asseryo, a Rise Gaming se tornou o principal desafio a ser batido no próximo split da Ignis Cup.

Resumo da Final

Na rodada do dia 22 de setembro, o  primeiro jogo começou como de praxe, com vitória da equipe da Rise. A equipe, que tem o costume de sempre vencer a primeira partida das finais, começou apavorando já nos drafts. Juny pegou sua Evelynn e prometia carregar a partida, mas quem realmente acabou surpreendendo foi Millicent. A jogadora levou de Jax o primeiro abate, aos quatro minutos, em cima da Exiladissima, controlando o jogo dali em diante e levando o MVP para casa. Diante de tantos recursos em vantagem, não foi difícil para a RSE fechar a partida e conquistar o primeiro ponto do placar sobre a VKS.

Na segunda partida, a Vivo Keyd levou a melhor. As guerreiras repetiram três campeões do primeiro jogo: Miss Fortune e a dupla Orianna e Nocturne estavam novamente presentes, dessa vez para fazer diferente. A Azura controlou bem o domínio da selva, levando ao final do jogo, alma do dragão, cinco vastilarvas, arauto e dois barões, além de entregar recurso à jogadora do meio, Crystal, que brilhou e se tornou a MVP do segundo jogo, finalizado de forma limpa.

No terceiro game, a RSE até começou com vantagem, mas não foi o suficiente para conseguir a vitória. Em uma escolha mais exótica, Crystal trazia uma Diana Mid, campeã que está aumentando a popularidade na rota do meio fora do competitivo, mas ainda não havia estado presente nos torneios e acabou sofrendo no começo de jogo. A VKS ia perdendo em abates e objetivos e, quando tudo parecia acabado, a equipe encontrou uma boa luta aos 29 minutos e Crystal pode se redimir, encaixando uma boa ultimate que virou a partida. Mesmo recuperando forças e com a atiradora Ryuko destruindo as adversárias, a Keyd tinha dificuldades para finalizar a partida e quase perdia o controle da situação quando Exiladissima encontrou um backdoor aos 45 minutos e garantiu a vitória.

Rise Gaming crava favoritismo na Ignis Cup, se tornando um dos times modelos do cenário [Imagem: Reprodução/Instagram: @lolesportsbr]

Após duas derrotas, parecia que o ciclo de derrotas de 3 a 1 pela Rise Gaming se repetiria, mas as jogadoras não se deixaram abalar e fizeram diferente. Yato repetia o pick de Ziggs atirador do último jogo, mas dessa vez acertou a build e fez a diferença na partida, além de Juny, que mais uma vez pegou campeões de conforto e trouxe sua Briar para Summoner’s Rift. A rota inferior da RSE sofria para a VKS no começo do jogo, mas uma boa movimentação da Winzi, com direito a roubo de dragão, permitiu espaço para as carregadoras conquistarem recursos e, aos 20 minutos, o time já tinha maior domínio do mapa, finalizando o quarto jogo dez minutos depois.

Era a primeira vez que uma final chegava ao quinto jogo na Ignis Cup e as equipes iam para o tudo ou nada. Desenhando uma composição focada na destruição de torres, a RSE repetia a rota inferior de Ziggs e Leona, agora juntamente com a Tristana da Strangers, se tornavam uma pedra no sapato da Keyd. Uma luta bem sucedida no covil do dragão foi mais do que suficiente para a Rise transformar seus recursos em uma bola de neve. Juny e sua Vi, que receberia seu segundo MVP ao final da partida, dominava a selva e não deixava Azura, que estava de Amumu, contestar os objetivos. Após uma série de flancos, alma do oceano e barão, Yato levava as estruturas com facilidade e, com 35 minutos de partida, a RIse Gaming colocava a mão na taça e se tornava campeã da Ignis Cup 2º Split de 2024.

Apesar da derrota, as garotas da Vivo Keyd Stars — muitas delas pela primeira vez em uma final — não devem abaixar a cabeça. A equipe lutou com garra até os últimos minutos e levou a rodada para inéditos cinco jogos no campeonato inclusivo. 

Trio já pertencente à Rise vence os desafios da final e pôde levantar a taça pela primeira vez da equipe [Imagem: Reprodução/Instagram: @lolesportsbr]

Cenário em questionamento

Mesmo com o aumento da visualização dos torneios inclusivos, principalmente por conta das parcerias de co-streams com os campeonatos da Riot Games, a modalidade ainda passa por dificuldades. O título da Rise e a evolução das jogadoras, que estão se tornando referência para a comunidade, ainda não são o bastante para cravar a presença feminina e LGBT nos e-sports, principalmente nas competições mais importantes de cada modalidade.

Para incentivar e proporcionar instrumentos dignos de uso dessas mulheres no competitivo, é preciso de colaboração e interesse de empresas e organizações. A saída do time da Pain Gaming da Ignis Cup em 2024, uma das equipes mais importantes dos esportes eletrônicos no Brasil, que conquistou no mesmo ano o título internacional do America Challengers de equipes Academy e a classificação inédita de brasileiros para a fase Suíça do Worlds, além de ser o time mais vitorioso do próprio circuito inclusivo, revela um desapreço das instituições em financiar mudanças sociais no mundo dos jogos, desejando apenas o dinheiro de um grupo de pessoas majoritariamente preconceituosas e incentivando tais práticas.

O silêncio da Riot Games Brasil para o futuro dos campeonatos inclusivos também é um elemento preocupante. Diante de mudanças nas estruturas dos torneios de ‘League of Legends’ no mundo todo e do aumento da competitividade e importância do Tier 2, principalmente nas Américas, a  ausência de declarações da empresa sobre o futuro do Ignis causa incertezas sobre o torneio. Numa realidade em que as mulheres ainda não estão nem perto de conquistar seu espaço no cenário profissional ao lado de jogadores já renomados, a possibilidade do fim do cenário inclusivo é um passo para trás na luta por um espaço digno nos e-sports.

Capa: [Imagem: Reprodução/ Instagram:/ @lolesportsbr]

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