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Jackie Robinson: o primeiro jogador negro da MLB

A história de Jackie Robinson e da queda da barreira segregacionista na Major League Baseball

A Major League Baseball (MLB), fundada na década de 1900, foi a primeira liga profissional de esportes dentre as quatros existentes hoje nos Estados Unidos. Desde sua fundação, a MLB era a liga mais forte e popular do país, e se fortalecia a cada temporada. Jackie Robinson foi o jogador que mudou a história da liga.

Como reflexo da sociedade americana da época, a liga era composta apenas por atletas e dirigentes brancos, caracterizando uma marcante barreira racial em relação aos atletas negros. Para eles, restavam duas opções: abandonar o beisebol ou buscar uma carreira nas Ligas Negras, fundadas exclusivamente para que os marginalizados pudessem praticar o esporte como fonte de renda.

No entanto, as Ligas Negras não podiam durar para sempre, e alguém havia de quebrar a barreira racial. O responsável por esse feito foi Jackie Robinson, jogador que fazia parte do Kansas City Monarchs quando foi contratado pelo Brooklyn Dodgers (hoje Los Angeles Dodgers), de Branch Rickey.

Jackie Robinson rebatendo em partida [Imagem: @jrfoundation/Instagram]

As Ligas Negras

O beisebol foi um esporte que se popularizou nos Estados Unidos com a Guerra Civil Americana. Os soldados do norte praticavam o esporte em territórios sulistas e muitos dos cidadãos dessa região aprenderam o jogo e se apaixonaram. Não ficaram excluídos desse processo os afro-americanos, que também começaram a praticar o esporte.

Com a criação de algumas ligas regionais na época — compostas de maioria branca — alguns jogadores negros ainda conseguiam participar de certos times, apesar de sofrerem intensos preconceitos e forte pressão para abandonarem o jogo.

Ao final do século XIX, algumas dessas ligas criaram leis que proibiam a participação de pessoas negras nas competições e outras, como a MLB, apesar de não possuírem uma regra, baseavam-se em um “acordo de cavalheiros”, que impedia a participação desses atletas.

Com a imposição de uma barreira segregacionista, várias Ligas Negras ganharam vida no início do século XX. No entanto, foi apenas em 1920 que uma delas conseguiu se estabelecer, a Negro National League (NNL). Em 1937, outra foi criada, a Negro American League (NAL). Juntas, a NNL e a NAL foram as principais responsáveis por abrir espaço para afro-americanos praticarem o beisebol.

“[As ligas negras foram] extremamente importantes por continuar difundindo o esporte e por permitir que mais cidadãos pudessem praticar o esporte que virou o grande passatempo americano”, afirmou Bernardo Regis, ex-comentarista de beisebol da Fox Sports.

Nos início dos anos 1940, as Ligas Negras continuavam a se fortalecer. Em 1945 Robinson iria mudar o destino não só dessas ligas, mas também de todos os afro-americanos que tinham como sonho praticar o beisebol em times da MLB.

Jackie Robinson em uniforme do Kansas City Monarchs [Imagem: @jrfoundation/Instagram]

Branch Rickey

Após jogar beisebol e se graduar na Ohio Wesleyan University, Branch Rickey estreou na MLB em 1906, mas durou apenas duas temporadas na liga. Sabendo de suas dificuldades como jogador, Rickey buscou fazer mais uma graduação, até que recebeu o convite do St. Louis Browns para ser o técnico da equipe em 1911.

Após alguns anos nos Browns, Rickey foi contratado pelo rival da cidade em 1917, o St. Louis Cardinals, onde ficaria até 1942, sendo os últimos 17 anos como gerente geral. A passagem como gestor nos Cardinals deu indícios da maneira como Rickey seria revolucionário em seu cargo.

Durante esse período, ele convenceu o presidente da equipe a comprar times de ligas menores, para que os jogadores dessas equipes fossem promovidos para os Cardinals quando atingissem o nível técnico necessário. Com as contratações de Rickey, a equipe de St. Louis venceu seus seis primeiros títulos e a ideia de comprar times das ligas menores se espalhou por toda a liga. Em 1943, Rickey deixou os Cardinals e se juntou ao Brooklyn Dodgers como sócio minoritário e gerente geral.

Dois anos após sua chegada aos Dodgers, Rickey iniciou a busca por um jogador das Ligas Negras e havia dois possíveis motivos para que o gerente tomasse tal decisão. Quando foi técnico e jogador de beisebol, na universidade em que se formou, conheceu Charles Thomas, seu único jogador negro. Rickey via as dificuldades que Thomas enfrentava diariamente por conta da cor de sua pele.

O estopim ocorreu quando a equipe foi jogar uma partida em South Bend, no estado de Indiana, e o hotel que acomodaria o time se recusou a receber Thomas. Ao saber do ocorrido, Rickey teria convencido o dono do hotel a aceitar Thomas, mas ao entrar no quarto de seu atleta, este estava chorando e lamentando a cor de sua pele. Esse momento teria afetado muito Rickey, fazendo com que ele tivesse uma nova perspectiva sobre a barreira racial presente no beisebol.

O outro motivo de sua busca por um atleta negro era a parte financeira. Rickey sabia do nível técnico e físico de alguns atletas das Ligas Negras e via neles uma oportunidade de criar um time muito forte nos Dodgers, capaz de vencer a World Series (finais do beisebol). Isso recompensaria seus investimentos e a pressão que sofreu de torcedores e presidentes por toda a liga.

Por conta disso, em 1945, Rickey começou sua busca pelo atleta com as habilidades e com a personalidade necessária para quebrar a barreira racial da MLB. Ele sabia que não poderia errar, pois não haveria segunda chance nem para ele e nem para outros atletas negros. Após muita análise, Rickey encontrou o que poderia ser a pessoa ideal para tal feito. Seu nome era Jackie Robinson.

Jackie Robinson e Branch Rickey [Imagem: @jrfoundation/Instagram]

Jackie Robinson e o momento decisivo

Jackie Robinson nasceu e viveu os primeiros anos de sua vida na cidade de Cairo, no estado da Geórgia. Seu pai abandonou a família e sua mãe foi a responsável por sua criação e de mais quatro irmãos. Por conta das dificuldades financeiras enfrentadas, a família resolveu se mudar para a Califórnia em busca de melhores condições de vida.

Ao se formar no ensino médio, Robinson conseguiu entrar na Pasadena Junior College, onde começou sua graduação. Lá ele demonstrou todo seu potencial esportivo, destacando-se no beisebol, basquetebol e futebol americano.

Robinson recebeu um convite da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), para estudar e representar suas equipes nos jogos universitários. No entanto, por conta de dificuldades financeiras,foi obrigado a abandonar UCLA e ir para o exército americano em 1941.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Robinson esteve no exército americano, mas nunca foi para combate. Em 1945, com a guerra já encerrada, saiu do exército e começou a jogar beisebol profissional pelo Kansas City Monarchs, time das Ligas Negras.

Nesse mesmo período, Branch Rickey procurava pelo atleta ideal para assinar um contrato com os Dodgers. Apesar de não ser um jogador de tanto destaque dentro de sua liga, Robinson foi o atleta escolhido por Rickey, pois mesmo sem os melhores números, Robinson possuía as características que o gerente dos Dodgers buscava.

Para Bernardo Régis, além do fato de Robinson possuir habilidades de jogo que o ajudariam na MLB, como o atleticismo e a qualidade como rebatedor, o que diferenciou Robinson de outros atletas negros foi sua capacidade de lutar contra racismo sem reagir de maneira agressiva às provocações, as respostas de Robinson para o racismo vindo de torcedores, companheiros e rivais eram dadas sempre dentro das partidas, anotando pontos para sua equipe.

Baseando-se nas habilidades de Robinson dentro e fora de campo, Rickey tomou sua decisão e, em outubro de 1945, assinou o primeiro contrato de uma equipe da MLB com um jogador afro-americano. Robinson passou o ano de 1946 no Montreal Royals, time de uma das ligas menores e que tinha vínculo com a equipe do Brooklyn. Após um ótimo desempenho na temporada, Robinson finalmente foi chamado para integrar a equipe principal dos Dodgers, em 1947.

A primeira temporada na MLB não foi nada tranquila, como esperado. Apesar do apoio de Rickey, Robinson sofreu com o racismo das mais diversas formas. Os problemas começaram internamente. Pouco antes do início da temporada de 1947, alguns jogadores dos Dodgers teriam feito um abaixo-assinado contra a presença de um negro na equipe. Branch Rickey vetou o pedido e se propôs a negociar jogadores que eram contrários à presença de Robinson na equipe.

Além disso, em inúmeras partidas foi alvo de arremessadores, que miravam em Robinson para machucá-lo e irritá-lo, tentando fazer com que ele começasse uma briga que possivelmente acabaria com sua carreira.

Técnicos e torcidas rivais também o provocavam a partida toda. Hotéis de algumas cidades chegaram a negar estadia para os Dodgers por conta da presença de um negro no elenco, e a liga tentou de tudo para impedi-lo.

Com o desenrolar da temporada, Robinson foi provando para todos que seu lugar era na MLB. Com bom aproveitamento nas rebatidas e número expressivo de bases roubadas, foi eleito o calouro do ano na temporada de 1947 e cravou, de vez, sua vaga na principal liga de esportes americanos na época. Robinson jogou por mais nove temporadas pelo Brooklyn Dodgers, até encerrar sua carreira em 1957 com 37 anos.

Nesse período, foi eleito o melhor jogador da liga em 1949, foi seis vezes para o jogo das estrelas e levou os Dodgers para seis finais, conquistando o título em 1955. Robinson jogou em diferentes posições na defesa e, no ataque, terminou sua carreira com aproveitamento de 31,1% nas rebatidas, aproveitamento considerado alto na MLB que, na temporada de 2020, teve média de 24,3%.

Jackie Robinson nos Dodgers [Imagem: @jrfoundation/Instagram]

O legado de uma lenda

Apenas dois anos após Jackie Robinson quebrar a barreira racial da MLB, a equipe titular dos Dodgers no primeiro jogo da World Series contava com 3 jogadores negros, e o número desses atletas continuou a crescer. Régis afirma que nesse aspecto Robinson foi muito importante por mostrar que era possível superar essa barreira e que a entrada desses jogadores tornou o jogo mais físico e agressivo nas rebatidas e roubadas de bases.

O feito de Robinson e Rickey inspirou não só outros acordos entre atletas das Ligas Negras e gerentes da MLB, como inspirou também toda uma geração de jovens que sonhavam em jogar na maior liga de beisebol do mundo. O percentual de afro-americanos na MLB cresceu ao longo dos anos, alcançando seu ápice em 1981 com 18,7%, de acordo com a pesquisa realizada por Mark Armour e Daniel R. Levitt.

O fluxo de atletas negros para a liga principal fez com que as Ligras Negras encerracem suas atividades pela perda de seus melhores jogadores, se tornando menos atrativas ao público. Esse processo fez com que a atenção de todos os fãs do esporte se deslocassem, por completo, para a MLB. Na década de 1960, todas as Ligas Negras já haviam sido extintas. As estatísticas dessas ligas foram reconhecidas como números oficiais pela MLB apenas no final de 2020, reparando um erro histórico.

Mesmo após a influência de Jackie Robinson e outros grandes jogadores negros da história da liga, esse percentual vem caindo desde a década de 1990. Para Régis, a própria estrutura do esporte vem causando essa diminuição, uma vez que no beisebol os jovens atletas precisam ficar anos nas ligas menores até chegarem na MLB e receberem um bom salário.

Régis afirmou que por conta das dificuldades financeiras vividas por parte da comunidade afro-americana, muitos desses jovens optam por ir para o basquete ou futebol americano. Nessas ligas a recompensa financeira se dá com maior antecedência que na de beisebol.

Os impactos de Robinson não se limitaram apenas ao beisebol. Em 1944, durante um treinamento do exército no Texas, Robinson se recusou a ir para a parte de trás do ônibus, lugar que na época era destinado aos negros. Ele foi apreendido e julgado pela corte marcial, mas foi absolvido. O mesmo gesto também ficou conhecido quando, em 1955, Rosa Parks se negou a levantar para ir para a parte de trás do ônibus. Assim como Parks, Robinson foi um influente ativista do Movimento de Direitos Civis nos Estados Unidos e amigo de Martin Luther King Jr.

Além disso, após a morte de Robinson, em 1972, sua esposa Rachel criou a Fundação Jackie Robinson, que opera até hoje ajudando crianças e adolescentes de minorias étnicas, com bolsas de estudos em universidades americanas.

Por todas suas contribuições ao beisebol, Jackie Robinson foi eleito para o Hall da Fama em 1962. Seus esforços pelo esporte e pela sociedade são lembrados todo dia 15 de abril (data da estreia de Robinson na liga) no chamado “Dia de Jackie Robinson”, no qual todos os jogadores utilizam o número 42, usado por ele em toda a carreira.

Dia de Jackie Robinson no atual estádio dos Dodgers [Imagem: @jrfoundation/Instagram]

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