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Jogou com raça e coração: o primeiro Campeonato Brasileiro do Corinthians

O torcedor corinthiano sabe muito bem como é quebrar o tabu de algum título nunca conquistado. Ao ler isto, os mais jovens provavelmente pensam automaticamente na Libertadores da América conquistada em 2012, após 52 anos de espera. Mas, há 30 anos, o Corinthians quebrou mais um tabu em sua história e conquistou pela primeira vez …

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O torcedor corinthiano sabe muito bem como é quebrar o tabu de algum título nunca conquistado. Ao ler isto, os mais jovens provavelmente pensam automaticamente na Libertadores da América conquistada em 2012, após 52 anos de espera. Mas, há 30 anos, o Corinthians quebrou mais um tabu em sua história e conquistou pela primeira vez o Campeonato Brasileiro. 

Em 1990, o time paulista mostrou que a raça corinthiana nunca se esgota, e que o torcedor do clube não se cansa de chegar perto do infarto fulminante durante as partidas. Apesar da descrença, o time abriu caminho até a primeira das sete taças do Brasileiro que coleciona.


A pressão pelo título

A equipe do Corinthians de 1990 já iniciava o Campeonato Brasileiro com uma pressão nas costas: o time nunca tinha ganhado a competição. Na época, o Timão já era o maior campeão paulista, com 20 títulos conquistados, mas não havia levantado ainda o caneco da maior competição nacional – diferentemente dos seus arquirrivais paulistas. 

O Palmeiras já era hexacampeão nacional, o Santos, pentacampeão – ambos possuem mais títulos nacionais por conta da anexação da Taxa Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa – enquanto o São Paulo havia levantado o troféu duas vezes.

E aos olhos dos adversários, não ia ser daquela vez que ia conseguir: “O clima não era dos melhores, apesar de o Corinthians ter sido campeão paulista uns dois anos antes não tinha um time que pudesse ‘botar medo’”, disse José Carlos de Medeiros, professor de 58 anos, e claro, Timão desde criancinha.


O time do povo… e da raça

Tupãzinho, Ronaldo e Neto, destaques da equipe de 1990

Naquele ano, a equipe corinthiana não contava com grandes destaques individuais, o craque do time era o jogador Neto, o camisa 10. Ironicamente, o meio-campo veio para o clube através de uma troca com seu maior rival: Ribamar, que era do alvinegro foi para o Palmeiras, e Neto veio do verde para o preto e branco.

O grande diferencial do time estava no grupo. A equipe se destacou pela entrega e raça dedicadas dentro das quatro linhas. A campanha pelo título, e até mesmo o gol que consagrou o Corinthians como campeão brasileiro, são símbolos da entrega e raça empenhadas durante a competição. 

Medeiros acompanhou o campeonato de perto e comenta que, mesmo sem tantas expectativas, a raça da equipe, conhecida historicamente, fazia a diferença. “Era um time que não tinha grandes jogadas, a nossa maior arma sem dúvida eram as faltas do Neto […] Mas, era um time que tinha garra, que partiu pro campeonato e daí ninguém segurou”.


O campeonato brasileiro em 1990

Hoje, o Campeonato Brasileiro conta com o formato de pontos corridos: são 20 equipes que se enfrentam em dois turnos, totalizando 38 partidas. Já em 1990, o formato era diferente do que os torcedores mais jovens conhecem atualmente. 

O campeonato era composto por 20 equipes, porém o torneio era dividido em duas chaves, com 10 clubes em cada. Todas as equipes se enfrentavam em turnos, ou seja, na primeira fase os clubes da chave A jogavam com os clubes da chave B. Já na segunda fase, os confrontos se davam apenas com as equipes da mesma chave — ao final das etapas todos os times já teriam jogado entre si. 

A partir disso, os oito melhores colocados na tabela do campeonato geral seguiam para as fases finais do campeonato, o famoso mata-mata, que começava já nas quartas de final, com jogos de ida e volta. 


A suada classificação para as finais

Quem acompanhou o início do Corinthians na competição não imaginaria que o clube levantaria a taça no final do campeonato. 

Nos primeiros dois jogos: duas derrotas e mudança de técnico, sai Zé Maria e entra Nelsinho Baptista. Na estreia do novo treinador, empate em 0 a 0 com o Vitória. E para preocupar ainda mais o coração dos torcedores corinthianos, o próximo jogo seria o Derby, clássico entre Corinthians e Palmeiras. 

O timão venceu o clássico por 2 a 1, com direito a um golaço de falta do Neto, e a partir disso engrenou no campeonato. Foram 11 jogos de invencibilidade —seis vitórias e cinco empates — o que rendeu a segunda colocação do time na primeira fase. Após a sequência, o timão voltou a ter dificuldades na competição, com a queda da invencibilidade — derrota para o Botafogo — o Corinthians ficou cinco jogos sem vencer. Mesmo assim, a equipe se classificou para o mata-mata em sétimo lugar na classificação geral.


Brilha a estrela do camisa 10

Já no primeiro jogo das fases finais, um grande desafio: o Corinthians jogaria contra o Atlético Mineiro, o primeiro colocado na classificação geral do Campeonato Brasileiro. 

O primeiro jogo foi em São Paulo, no estádio do Pacaembu. E para deixar o clima mais tenso ainda para a torcida corinthiana, o galo abriu o placar, gol de Gerson. Mas “se não for sofrido, não é Corinthians”, é que diz o lema da torcida paulista. Aos 30 minutos do segundo tempo, o craque Neto deixou tudo igual no placar, com um gol de cabeça. Após dez minutos, a estrela do camisa 10 brilhou mais uma vez: Neto fez o segundo e o Corinthians venceu a partida, levando a vantagem para Minas Gerais. A volta, no estádio Mineirão, não foi tão emocionante como o jogo de ida. Empate em 0 a 0 e Corinthians classificado para às semifinais. 

O adversário das semifinais era o Bahia e a história foi semelhante às quartas. No primeiro jogo, também no Pacaembu, a equipe baiana abriu o placar com Vágner. 

O empate do timão veio após uma confusão depois do escanteio cobrado por Neto, Paulo Rodrigues —lateral do Bahia— fez o gol contra que igualou o marcador. Para sacramentar a vitória corinthiana, novamente o Craque Neto fez a diferença, agora após excelente cobrança de falta. Corinthians 2 a 1 e, mais uma vez, o time levava a vantagem do resultado para o jogo de volta. Na Bahia, em um jogo pouco movimentado, os times empataram em 0 a 0 e a equipe paulista dava seus últimos passes até a conquista do primeiro título nacional.

[Imagem: Luana Franzão/Comunicação Visual - Jornalismo Júnior]

Medeiros relata que esse jogo é um dos mais vivos na memória da torcida. “Eu estava no jogo contra o Bahia, o jogo de ida aqui no Pacaembu. Eu e meus amigos próximos fomos ao jogo na época, era, se eu não me engano, uma quarta-feira à noite, e o jogo começaria por volta das 21h30. Fomos todos direto do trabalho caminhando, papeando”, conta.

“Por volta das 19h, o Pacaembu virou uma escuridão total:  acabou a luz e a chuva foi uma torrencial. Nós estávamos todos de terno e gravata, e tomamos uma chuva de uma hora sem parar”, relatou e comentou que o evento é motivo de gozação até hoje entre os colegas.

Após o contratempo, a chuva cessou, a drenagem funcionou e a partida aconteceu. A vitória do Corinthians naquele dia deixou o sabor da memória ainda melhor: “Foi um jogo memorável, 2×1, uma ótima lembrança que eu tenho”.

A final se deu entre dois times paulistas, um clássico conhecido como: O Majestoso. Corinthians e São Paulo decidiam quem levaria o caneco para casa. O primeiro embate da decisão foi no Morumbi e já aos quatro minutos de jogo, o Corinthians mostrou a que veio. 

Gol de Tupãzinho na final, retrato da raça corinthiana em 1990
Gol de Tupãzinho na final, retrato da raça corinthiana em 1990 [Imagem: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians]
Wilson Mano abriu o placar para o alvinegro após o cruzamento do Craque Neto. O gol foi o suficiente para o timão levar vantagem na decisão. O jogo de volta, também no Morumbi, contou com a presença de 100 mil pessoas acompanhando a grande final. Um jogo bem disputado. Do lado tricolor, jogadores talentosos como Cafu e Raí e, do lado preto e branco, eram 11 jogadores aguerridos que lutavam pela tão sonhada conquista do Brasileirão. 

E o gol que deu a conquista ao Corinthians é retrato da raça do time. Fabinho e Tupãzinho tabelaram até chute do primeiro. O goleiro do São Paulo espalmou para frente até que Tupãzinho se esticou por inteiro, trombando com os adversários, e concluiu de carrinho para empurrar ao fundo do gol. Mais uma vez, Corinthians 1 a 0. 

Pela primeira vez, o Corinthians campeão brasileiro. 

“Era um time sem grandes estrelas, mas era uma equipe: todo mundo corria por todo mundo e conseguiu ser campeão”, completa Medeiros.

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