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‘Koudelka: Ciganos, Praga 1968, Exílios’: exposição conta sobre a vida de um dos maiores fotógrafos do século 20

A exposição do IMS Paulista reúne uma série de imagens feitas por um fotógrafo que viveu como nômade por anos para se dedicar à fotografia
Por Isabela Nahas (isabelanahas@usp.br)

Neste fim de semana (13, 14 e 15) termina a exposição “Koudelka: Ciganos, Praga 1968 e Exílios” no Instituto Moreira Salles (IMS) de São Paulo. A mostra reúne diversas fotografias de Josef Koudelka, um fotojornalista reconhecido mundialmente. A característica itinerante do fotógrafo foi o que fez a sua obra e a sua vida se tornarem singulares. A exibição divide a trajetória dele em três fases: fotografias de ciganos, a Primavera de Praga e os anos de exílio.

Um fotojornalista raiz

Em 1938, nasce o fotojornalista Josef Koudelka. Apesar do diploma em engenharia, ele foi contratado para fotografar peças de teatro em Praga no começo dos anos 1960. Em seguida, pôs-se a viajar pela Tchecoslováquia, país onde nasceu, para registrar o dia a dia das comunidades ciganas. Acompanhado apenas do equipamento fotográfico, uma mochila, um saco-cama e a influência do teatro, Koudelka inicia uma jornada com uma espécie de nomadismo que levou durante a maior parte de sua carreira.

O ano de 1968 foi decisivo para mudar a vida do fotógrafo. A invasão de tropas soviéticas na Tchecoslováquia pôs fim à Primavera de Praga, uma tentativa da implementação do socialismo democrático. Assim que soube do início do conflito, Koudelka foi registrar o que se passava. Em sete dias, o jovem tirou uma série de fotos que apareceram em capas de jornais no exterior. 

Mas isso trouxe perigo ao fotógrafo. Para fugir da polícia secreta na Tchéquia, ele toma o caminho do exílio em 1970. No auge do nomadismo, Koudelka retrata cenas do cotidiano de pessoas de vários países da Europa e, para isso, teve que viver modestamente. Essas três fases da vida foram usadas para dividir dezenas de fotos enigmáticas que contam, ao mesmo tempo, a vida daquele que tirou-as e a daqueles que foram fotografados.

A exposição

A exposição sobre Josef Koudelka tem uma organização artística e multissensorial, algo que o IMS já costuma fazer em suas galerias. A iluminação, a acústica e a organização das fotografias são feitas para trazer ao visitante uma experiência não só visual, mas também auditiva e tátil. Essa forma de montar a exibição faz o público adentrar nas fotos: alguns param e encaram as imagens estáticas como se elas fossem um filme.

Durante a cobertura do Sala 33, um homem jovem passava pelas obras sem encará-las e colocava nos ouvidos os fones disponibilizados ao lado de algumas delas, que tocavam áudios com descrições das fotos. Ele estava usufruindo da acessibilidade, que é um ponto forte da mostra. Fazem parte do acervo audiodescrições, QR codes que levam a um guia da exposição e um alto relevo, que transforma a imagem em objeto tátil.

Por conta da grande quantidade de fotografias selecionadas, elas foram divididas em dois andares: o oitavo e o sétimo pavimento do IMS Paulista.

Oitavo andar: Ciganos

Iluminação clara e paredes em V, onde estão penduradas as molduras: a exposição começa com as fotografias das comunidades ciganas, tiradas entre 1962 e 1970. Nesse tempo, Koudelka percorreu o leste da Eslováquia, a Boêmia, a Morávia e a Romênia, onde entrava nos acampamentos Romani e registrava as histórias desse universo a partir de fotos. O enquadramento, as expressões das pessoas e os jogos de sombra moldam composições que lembram peças de teatro e que refletem a visão de vida do fotógrafo.

“Com os ciganos, tudo era teatro (…). A diferença é que ninguém havia escrito a peça e (…) não havia diretor — só havia os atores. Era real, era a vida.”

Josef Koudelka

Um visitante lê as informações em parede da exposição sobre Koudelka
É possível se deslocar pelos andares do IMS Paulista de escada ou de elevador [Imagem: Arquivo Pessoal/Isabela Nahas]

Koudelka publicou o livro Cikáni com as fotos da série em 1975, mas a intenção era que isso acontecesse em 1968. O que impediu-o foi um evento que marcou todo o resto de sua trajetória e que a mostra apresenta no andar de baixo.

Sétimo andar: Praga 1968 e Exílios

O sétimo andar tem iluminação mais escura do que o de cima. Ao entrar, à direita há uma grande projeção, que mostra uma sequência de fotos de Praga. Ao fundo, uma música instrumental percorre a sala toda. Nas paredes pretas, há um breve histórico sobre a invasão soviética na Tchecoslováquia.

Recortes de jornal na exposição de Koudelka
A exibição contém arquivos, livros, jornais e outros materiais originais da época em que aconteceu o conflito com as fotos de Koudelka [Imagem: Arquivo Pessoal/Isabela Nahas]

Praga, 1968

Josef Koudelka nunca havia feito um trabalho fotojornalístico, mas logo que soube da entrada de tropas na capital de seu país natal, sentiu necessidade de registrar fotos que evidenciavam o conflito entre os exércitos do Pacto de Varsóvia e a população tcheca. As fotos tiradas são repletas de simbologias e, ao mesmo tempo, mostram uma realidade a qual a Rússia tentava negar, pois afirmava que a intervenção era pacífica.

O fotógrafo fez o papel de um jornalista de zonas de conflito: com câmeras analógicas penduradas no pescoço, subia nos tanques e se enfiava no meio da multidão, a qual cercava-o para impedir que os russos arrancassem seus rolos de filme. O espaço da exposição foi organizado para passar a sensação de tensão que está por trás das imagens.

“Nessas fotos, não importa quem é russo e quem é tcheco. O que importa é quem está de arma em punho e quem não está.”

Josef Koudelka

Mas, fotografar a realidade pode ser perigoso. Por mais que os jornais não colocassem o nome verdadeiro de Koudelka nas matérias com suas fotografias, ele tomou o caminho do exílio, temendo ser descoberto pela polícia secreta.

Exílios

Em 1970, Koudelka se exila em uma grande viagem por diversos países da Europa: Espanha, França, Portugal, Itália, Irlanda e Alemanha. Apesar de viver com poucos recursos, a liberdade permitiu que o fotógrafo registrasse ainda mais o cotidiano das populações e, também, paisagens e animais. Essas fotos estão organizadas no mesmo ambiente, mas com paredes brancas.
O que destaca esse conjunto de imagens é, como disse Clément Chéroux, o caráter enigmático delas. Por tratarem do dia a dia, elas são familiares para quem vê, mas deixam questões sem resposta — o que essa pessoa está fazendo, ou por que o faz?. Além disso, as fotografias dessa fase, assim como as das anteriores, contam histórias visualmente.

Quadros da exposição de Koudelka embaixo da frase dele "Ser um exilado demanda que você construa sua vida do zero. Essa oportunidade lhe é dada"
Algumas frases de Koudelka e profissionais comentando sobre suas obras estão espalhadas pelas paredes da mostra [Imagem: Arquivo Pessoal/Isabela Nahas]

A caminhada de quilômetros se encerrou nos anos 1980. Hoje em dia, com 86 anos, Koudelka realiza exposições pelo mundo, as quais percorre em uma cadeira de rodas. Agora, ele tem também uma conta do Instagram, onde publica algumas de suas fotos. 

Como visitar a exposição

O IMS Paulista fica na Avenida Paulista número 2424, perto das estações de metrô Consolação e Paulista e de alguns pontos de ônibus. A entrada é gratuita e não exige que seja mostrado nenhum documento. O local fica aberto das 10 da manhã até as 8 da noite e fecha apenas nas segundas feiras. A exposição “Koudelka: Ciganos, Praga 1968 e Exílios” fica aberta até dia 15 de setembro.


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