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Live-actions da Disney: o que a tendência pode agregar ao público?

Para muitos, pensar na infância significa pensar em contos de fadas. Todas as brincadeiras de “faz de conta”, que, quando não uma reencenação precisa de alguma história que conhecemos, eram uma adaptação poética em que cada criança é seu personagem favorito. Ou o segundo favorito, caso você, assim como eu, fosse uma das primas caçulas …

Live-actions da Disney: o que a tendência pode agregar ao público? Leia mais »

Para muitos, pensar na infância significa pensar em contos de fadas. Todas as brincadeiras de “faz de conta”, que, quando não uma reencenação precisa de alguma história que conhecemos, eram uma adaptação poética em que cada criança é seu personagem favorito. Ou o segundo favorito, caso você, assim como eu, fosse uma das primas caçulas e não tivesse lá muito poder de decisão. Entrávamos no mundo submarino da Pequena Sereia e quebrávamos a cabeça tentando entender o porquê de ela ter aberto mão de sua cauda, trocando-a por pernas sem graça. Daríamos tudo para sermos sereias. 

Ou talvez não… Alguns dias preferíamos nos questionar quais três desejos faríamos caso encontrássemos uma lâmpada mágica, que, se esfregada, libertaria um gênio azul e gigante. Quem sabe nós não tomamos interesse pela leitura por causa da Bela, que sonhava com uma biblioteca enorme para passar todos os seus dias.

E então nós crescemos. Mas as histórias continuam conosco. O grau pode até variar, mas o nosso subconsciente é habitado de arquétipos que conhecemos com os personagens de contos de fada. Por meio deles, segundo Bruna Dorneles, psicóloga e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, adquirimos algumas noções de amor, de bem e de mal, de luto e de esperança. De fazer escolhas ruins e de consertar tudo depois. Noções que, em parte, persistem no nosso imaginário até os dias de hoje.

E não apenas no imaginário. Os contos de fada que viraram animações pela Disney desde 1937, com o lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs), adentram uma nova mídia na forma dos live-actions. Antes da pandemia do novo coronavírus, era difícil ir ao cinema e não se deparar com o trailer de alguma história familiar, mas que agora retrata atores de carne e osso. 

Esse novo formato abriu espaço para muita discussão. Alguns dizem que os live-actions perpetuam o estigma de que animação é apenas para crianças e que não trazem nada de novo. Já outro ponto de vista, explica Bruna, defende que esses filmes podem ajudar a compreender a cultura de nosso tempo.

 

Uma dose de contemporaneidade

Ao contrário do que alguns internautas irritados podem argumentar, nem tudo é “cultura da lacração”. Apesar de ser possível argumentar que filmes adquirem uma popularidade a mais quando abordam assuntos em pauta, como questões étnicas ou de gênero, devemos ter em mente que tais questões devem ser tratadas, e não invisibilizadas. E se os live-actions pretendem trazer algo de novo às histórias que já conhecemos, uma maneira de trazê-las mais próximas à audiência é inseri-las na nossa cultura. 

Podemos ver isso com o maior espaço dado para o feminismo no Aladdin de 2019, em comparação à animação de 1992. A princesa Jasmine, que já era caracterizada como uma mulher independente e decidida na animação, ganhou outra camada: agora vemos mais sobre como ela, sendo princesa, não era ouvida por muitos homens da corte quando se tratava de questões políticas — ou de qualquer questão, na realidade. O conflito tem seu clímax durante a canção Speechless, original do live-action, que foi indicada para vários prêmios e foi um sucesso entre o público.

 

Naomi Scott interpretando Jasmine no live-action de Aladdin.
Naomi Scott como Jasmine no live-action de Aladdin. [Imagem: Divulgação/Disney]
Outro exemplo é Malévola (Maleficent, 2014), que conta a história de Aurora, a Bela Adormecida, pelo ponto de vista da “bruxa má”. O desfecho da animação original coloca o amor romântico como salvação da princesa, mas essa nova adaptação chama atenção para o poder do amor da família. 

“Acho os live-actions da Disney uma ótima maneira de atualizar as histórias clássicas para uma nova geração e, ao mesmo tempo, são extremamente nostálgicos para os mais velhos”, diz Patrícia Gomes, jornalista. Os mais velhos, essa geração que teve as princesas das animações da Disney como maiores modelos e inspirações, já cresceram. É justo que a próxima geração possa olhar com admiração para essas mesmas personagens que sempre foram tão inteligentes e desenroladas, mas que agora podem contar com mais protagonismo.

 

Mais do mesmo e controvérsias

Apesar do denominador comum entre a maioria dos live-actions ser a grande bilheteria, isso não significa que todas as novas adaptações são vistas com bons olhos pelos críticos.

Um dos queridinhos da Disney, O Rei Leão (The Lion King, 1994), ganhou um remake em 2019. A recepção do filme, mesmo este tendo batido recordes de bilheteria, não foi tão boa assim. Uma das críticas mais pertinentes foi que o longa pecava na falta de originalidade, mantendo-se muito próximo à narrativa da animação dos anos 1990. 

Como a obra trata de animais, os personagens foram feitos em CGI (computer-generated imagery ou, em tradução livre, imagens geradas por computador). Porém, muitas cenas foram gravações do elenco em fundo verde, o que faria jus à denominação do filme como live-action. Para muitos, a película é melhor caracterizada como um híbrido entre animação e live-action, ou como uma “produção virtual”.

 

Beyoncé de frente para a personagem Nala, à qual dá voz no live-action de O Rei Leão.
Outra aposta do filme foi buscar vozes de peso para compor o elenco. Na imagem, vemos Beyoncé como Nala, uma das personagens principais. Outros nomes famosos foram Donald Glover (Simba) e James Earl Jones (Mufasa). [Imagem: Divulgação/Disney]
Mulan (2020) provavelmente foi um dos filmes mais polêmicos já produzidos pela Disney. Lançado no serviço de streaming Disney+ por conta da pandemia da Covid-19, o live-action já enfrentava severas críticas e pedidos de boicote. A atriz Liu Yifei, que interpreta Mulan, fez comentários críticos a manifestações antigoverno em Hong Kong, demonstrando apoio aos policiais que eram acusados de brutalidade.

Mais recentemente, com o lançamento do longa, surgiu outra controvérsia: nos créditos, a Disney agradecia às autoridades governamentais da região de Xinjiang, que teriam cedido locações para filmagens de algumas cenas. O problema é que a região é palco de abusos humanitários contra os uigures, uma minoria muçulmana. Ativistas denunciam esterilização e trabalho forçado em campos de detenção. Não é claro quais cenas foram gravadas no local.

Vários artistas e ativistas se manifestaram pedindo boicote ao filme:

 

 

O papel dos live-actions para uma vida psíquica mais saudável

Os contos de fada sempre estiveram presentes na nossa sociedade. No início, eles não eram direcionados para crianças — até porque essa divisão de idade só surgiu com a Modernidade —, mas para adultos: as histórias falavam de terror e de erotismo, conta a psicóloga Bruna Dorneles.

“Muito em função das produções dos estúdios Disney, no século 20, os contos de fada conquistam as crianças e tornam-se um produto de lucro com a venda de brinquedos e de materiais escolares tematizados com os filmes”, explica. “Mas isso não quer dizer que deixem de ser histórias para adultos, isto é, os contos de fadas nunca deixaram de falar sobre os nossos dramas humanos: amor, morte, perda, luto e esperança”.

Porém, há um estigma muito enraizado na cultura contemporânea de que animação é “coisa de criança”. Bruna defende que, com os live-actions, os adultos são relembrados que os contos de fada pertencem a todos, já que dialogam com todos.

Apesar de os remakes serem uma tendência muito forte, cada caso é específico e, enquanto alguns filmes não agregam muita coisa e apenas visam uma grande bilheteria, outros recontam histórias de maneira cativante e trazem novas perspectivas. 

Além disso, é agradável ir ao cinema e ver uma história que você já conhece contada de uma forma diferente. “Os contos de fadas sempre nos trazem conforto, porque, independentemente do enredo, eles são histórias sobre esperança, sobre acreditar que, apesar da dor que sentimos, as coisas irão melhorar”, relembra Bruna. “Tem mensagem mais inspiradora do que essa?”.

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