A vida de Mafalda nas tirinhas de jornal durou 10 anos (1964-1973), mas foi o suficiente para ir além da Argentina, ser lida em 26 idiomas e ainda hoje motivar exposições como “O mundo segundo Mafalda”, no centro de São Paulo. Desde a entrada convidativa no complexo cultural Praça das Artes – não há bilheteria, fila ou portas -, Mafalda leva a quem passa pela avenida São João a graça, a criatividade e os questionamentos que lhe são tão próprios.
A exposição chegou ao Brasil em dezembro de 2014, 50 anos depois da primeira aparição de Mafalda, em 1964. Mas foi criada em 2007 no Museu Barrilete, na Argentina, e desde então já passou por países como Chile e México.
“O mundo segundo Mafalda”, que vai até dia 28 de fevereiro, sempre das 9h às 20h, está repleta de tirinhas e é dividida em 13 módulos. Em “As invenções”, o novo sentido que Mafalda e os amigos dão às situações, de modo sutil, inusitado e tantas vezes crítico: garfo vira antena que capta melhor as ideias, pasta de dente é microfone para que o pai opine sobre a situação do país, colher se torna ferramenta de reconstrução pós-guerra. As conversas de Mafalda com o planeta estão em “Os mundos”, que traz globos terrestres representando seus estados de espírito: doente, sobre a cama; enlouquecido, com camisa de força; suicida, com o “pescoço” ligado por um fio à maçaneta da porta. Há também um espaço dedicado ao criador das tirinhas, o argentino Joaquin Lavado, mais conhecido como Quino.
Além disso, muitos objetos foram criados especialmente para dar vida aos aspectos do mundo dessa menina de seis anos, junto aos pais e aos personagens Felipe, Manolito, Susanita, Liberdade, Guille e Miguelito. Estão lá a televisão, álbum de fotos, mesa de jantar, guardarroupa – com uma foto dos amados Beatles – e até mesmo um Citroen 2CV parecido com o carro do pai de Mafalda.
A interatividade é marca importante da exposição. Ao contrário de muitas outras, contato entre visitante e obra é permitido ou mesmo estimulado: o convite à hashtag #mafaldanapraça, a réplica de apartamento comum da classe média argentina na época, a sala de televisão com animações baseadas nas tirinhas ou o banco especial para sentar, conversar e tirar selfies com a Mafalda ao seu lado, tendo como fundo um colorido conjunto de flores almofadadas. Vale destacar também as caixinhas ali perto que perguntam a quem chega: “gosto”, “não gosto” do quê? “Por quê”? Melhor do que responder é revirar as respostas anônimas que já estão ali em papel.
Duas oficinas procuram integrar ainda mais o visitante ao processo de criação das tirinhas. Em uma, personagens e balões com frases prontas podem ser afixados na parede de acordo com a criatividade; a segunda traz papéis, canetas e carimbos que permitem a elaboração mais livre de nossas próprias histórias.
Tudo isso está ligado à ideia da curadoria, de Sabina Villagra, de pensar a exposição também para as crianças, incitando nelas questionamentos sobre o mundo em que vivem. “Há um pensamento que inspira e dá sentido à exposição: não há liberdade sem escolha e não há escolha sem conhecimento. As crianças devem ter a oportunidade de conhecer as peculiaridades da Mafalda e o trabalho de Quino, o que seria uma outra forma de ver o mundo”, disse ela, como consta no site da prefeitura.
“O mundo segundo Mafalda” traz a confusão e a visão da personagem diante do mundo que vivia então a Guerra Fria e regimes autoritários na América Latina, mas os questionamentos não envelheceram. Nem Mafalda, que fala brincando de grandes questões como educação, amor e política, no seu modo surpreendente de enxergar as coisas e na atenção às simplicidades que formam o grande da vida.
O mundo segundo Mafalda
Praça das Artes
Av. São João, 281 – Centro, SP
Todos os dias, das 9h às 20h
Grátis
Por Barbara Monfrinato
bmfmonfrinato@gmail.com