Em jogo válido pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro Série A, Corinthians e São Paulo se enfrentaram na Neo Química Arena neste domingo (14). Esse foi o jogo de número 356 entre os times no clássico paulista que foi apelidado pelo jornalista Tommaso Mazzoni de Majestoso.
Baseando-se no retrospecto da disputa, em que o Corinthians leva vantagem no número de vitórias, torcedores apontaram um certo favoritismo alvinegro. Outro fator que contribuiu para isso é que o São Paulo nunca havia vencido o rival na Neo Química.
Porém, em um jogo no qual a vitória era necessária e desejada por ambos os lados, não houve um vencedor.
Expectativas para o jogo
Do lado alvinegro, a esperança era que toda a mística do tabu e a presença da torcida ajudassem o time a finalmente vencer sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. Após uma sequência de quatro jogos sem conquistar uma vitória, os corintianos consideravam o clássico a oportunidade perfeita para o time recuperar a autoestima, pontuar no Brasileirão e emplacar uma sequência positiva em todas as competições.
Olhando somente para o Campeonato Brasileiro, os três pontos eram extremamente importantes para o clube se afastar da zona de rebaixamento, uma vez que o Corinthians somou apenas quatro pontos nas cinco rodadas iniciais e tem em 2023 o seu pior início de Brasileirão desde 2012— com o agravante de que, naquele ano, o time estava na semifinal da Libertadores, mas atualmente também enfrenta cenário complicado na competição internacional.
Já do lado tricolor, havia uma grande expectativa pela nova chance de quebrar o tabu e vencer o rival. Entretanto, alguns torcedores mais realistas encaravam a partida com pessimismo pelos muitos desfalques no time, pela inconstância dos jogadores disponíveis e pela dificuldade de disputar uma partida em um estádio rival sem sua torcida — os clássicos entre as quatro principais equipes do estado de São Paulo, além do confronto entre Ponte Preta e Guarani, são disputados apenas com a presença da torcida mandante desde 2016.
Por coincidência, o técnico tricolor também é recém-chegado, mas, diferente do rival, o São Paulo vem mostrando uma significativa melhora sob a liderança de Dorival Júnior. Com duas vitórias, um empate e uma derrota nas rodadas antecedentes, o tricolor estava na sétima posição da tabela e contava com os três pontos para se firmar de vez na parte de cima das disputas.
Escalações
O Timão veio a campo com uma escalação parecida com a dos últimos jogos, mas houve novidade na aposta do garoto Wesley como titular. Vanderlei Luxemburgo não pôde contar com Gustavo Mosquito, Paulinho e Renato Augusto, todos lesionados.
Time do Corinthians escalado para o Majestoso. [Reprodução/Instagram @corinthians]
Depois de apostar em uma escalação mista contra o Fortaleza, Dorival Júnior voltou a escalar o time considerado titular do São Paulo. Com o departamento médico cheio de jogadores importantes — Ferraresi, Galoppo, Igor Vinicius, Wellington e Erison — e o meia Rodrigo Nestor suspenso, o técnico apostou em peças como Wellington Rato e Gabriel Neves para tentar trazer a vitória para o tricolor.
Escalação do São Paulo para o clássico. [Reprodução/Instagram @saopaulofc]
Primeiro tempo
Bruno Arleu de Araújo apitou e a bola rolou em Itaquera. O jogo começou com os times disputando e dividindo a posse da bola, tentando chegar no ataque, mas sem sucesso. Nesse início, já se desenhou o perfil truncado da partida, com muitas faltas e cartões amarelos para os dois lados: para Fagner aos 5’, por entrada forte em Calleri, e para Beraldo aos 10’, por falta em Yuri Alberto.
Aos 11’, o Corinthians chegou pela primeira vez com perigo. Mesmo sem ângulo, Roger Guedes arriscou um chute em direção ao gol e obrigou o goleiro adversário a espalmar a bola, que ainda sobrou nos pés de Wesley, rendendo mais uma finalização alvinegra e novamente uma defesa do goleiro Rafael.
Nos minutos seguintes, o São Paulo tomou o domínio da bola e começou a tentar achar espaço pelo meio, o que não demorou muito para dar certo. Com 14’, Wellington Rato chegou pelo lado direito e fez um passe em profundidade para Rafinha, que cruzou rasteiro em direção a pequena área e Michel Araújo apareceu para finalizar forte e alto no canto esquerdo de Cássio, sem chances de defesa para o goleiro. 1 a 0 para o tricolor e muita comemoração dos jogadores.
O gol ajudou o time visitante a ganhar confiança e crescer no jogo, continuando com as trocas de passes em busca de espaço. O São Paulo apareceu novamente aos 21’, quando Calleri recebeu um cruzamento e cabeceou a bola na trave, conseguindo marcar um gol no rebote. Mas o lance já estava paralisado: o juiz interpretou falta do atacante no momento do cabeceio, enquanto disputava bola com Fagner. O lance gerou muitas críticas e reclamações do lado tricolor, ocasionando a expulsão, aos 23’, de Lucas Silvestre, auxiliar de Dorival.
Depois do susto, o time da casa tentou colocar a cabeça no lugar e chegar ao ataque novamente, enquanto o visitante continuou tentando trabalhar os passes. O jogo continuou truncado e os próximos amarelados foram Gil, aos 26’, por falta em Luciano, e Caio Paulista, aos 28’, por levantar o centroavante alvinegro.
A próxima chance de gol veio aos 30’ pelos pés de Roger Guedes, que finalizou de fora da área e obrigou Rafael a trabalhar novamente. O goleiro são-paulino espalmou a bola para fora, gerando escanteio para o Corinthians, que foi cobrado por Maycon e tirado pela defesa. Matheus Bidu ainda tentou aproveitar o rebote mas chutou nas mãos do goleiro oponente.
O São Paulo chegou com perigo novamente aos 36’ após um bate-rebate dentro da área. A defesa corintiana se atrapalhou e não cortou a bola, que sobrou para a finalização de Calleri, mas o chute saiu à direita do gol. Houve mais oportunidades de mudança no placar de ambos os times, porém Murillo chutou pra fora aos 38’ e Luciano por cima da meta aos 40’.
Com o final do primeiro tempo bem equilibrado, o jogo parecia que iria para o intervalo com a vantagem tricolor. Entretanto, nos quatro minutos dados de acréscimo por Bruno Arleu, a história tomou outro rumo. Aos 45+2’, Wesley arrancou pela direita após receber bola de Yuri Alberto e driblou o lateral Rafinha, que não desistiu da jogada e tentou impedir o ataque corintiano, mas acabou derrubando o atacante dentro da área. O juiz marcou a falta do lateral e pênalti para o Corinthians, que ficou para o camisa 10 bater. Com 45+5’, bola de um lado, goleiro de outro e a torcida explode com o gol de Roger Guedes; tudo igual novamente no majestoso.
Sem tempo para mais nada, o jogo terminou sua primeira etapa assim: 1 a 1.
Segundo tempo
Sem nenhuma substituição no intervalo, o jogo recomeçou com o São Paulo buscando recuperar o domínio do clássico e o Corinthians jogando no erro do adversário. Boa parte do segundo tempo foi de os times tentando construir jogadas, mas não conseguindo concluir para o gol; faltaram passes trabalhados e finalizações expressivas para os dois lados, mostrando uma clara queda de rendimento em relação à etapa inicial.
Porém, aos 63’, algo externo roubou a cena da partida. Infelizmente, um cântico da torcida da casa com um termo homofóbico começou a ecoar fortemente. O árbitro paralisou o jogo e os telões da arena anunciaram: “É proibido emitir cânticos discriminatórios, racistas, homofóbicos ou xenófobos”. A ação, porém, teve efeito contrário, e o volume dos cânticos ficou ainda mais alto nas arquibancadas. O jogo foi reiniciado aos 65’ mesmo sem a torcida cessar.
Telão da Neo Química Arena adverte os torcedores sobre os gritos homofóbicos. [Reprodução/TV Globo]
A primeira substituição do Timão aconteceu aos 54’ , com a saída de Wesley para a entrada de Adson. Já o time visitante fez suas primeiras trocas aos 73’, tirando Michel Araujo e Calleri para as entradas de Marcos Paulo e Juan. O garoto Made in Cotia acabou protagonizando o melhor lance do segundo tempo, quando finalizou e marcou um gol aos 78’ após receber passe de Arboleda. No entanto, o gol de Juan foi anulado por um claro impedimento.
Em um segundo tempo totalmente morno, houve somente duas boas chances além do gol impedido, ambas desperdiçadas. Pelo tricolor, Marcos Paulo, aos 85’, aproveitou a sobra da bola após um soco errado de Cássio e bateu forte para o gol, mas ela acabou parando na marcação. Já a chance corintiana veio novamente no fim do tempo, quando Adson, aos 90’, pegou a bola no lado direito da área e finalizou com perigo por cima do gol.
Mesmo com os seis minutos de acréscimos, o placar do jogo não se alterou e a partida terminou empatada por 1 a 1. O empate rendeu apenas um ponto para cada lado, deixando o Corinthians na 17ª colocação e o São Paulo na 10ª posição do Campeonato Brasileiro ao término da sexta rodada.
Arbitragem polêmica
Na saída para o intervalo, em entrevista à TV Globo, Michel Araújo criticou duramente a arbitragem e definiu o árbitro Bruno Arleu de Araújo como um décimo segundo jogador do Corinthians. “Ele que deu o gol de empate para o Corinthians. O domínio de jogo foi total do São Paulo. Tivemos o segundo gol do Calleri e não foi falta. Não foi pênalti também. Temos que lutar contra tudo e mais fortes. São 12 jogadores lá”, afirmou o jogador.
Através da internet, a torcida tricolor também se manifestou contra a maneira como a partida foi arbitrada. A marcação de faltas, o gol de Calleri anulado, o pênalti de Rafinha e o cartão para Beraldo estavam entre as principais reclamações. O VAR não ter interferido nos erros também foi motivo de críticas.
Após o término da partida, o São Paulo publicou, em suas redes sociais, um pronunciamento do diretor de futebol Carlos Belmonte. No vídeo, o diretor diz que a arbitragem do jogo foi uma vergonha, e que o clube irá entrar com uma ação na Comissão de Arbitragem da CBF para pedir a explicação dos lances.
As reclamações também aconteceram do lado corintiano que, apesar de não acharem os lances citados pelo dirigente são paulino incorretos, consideraram a atuação da arbitragem ruim. Diego Coppio, torcedor do Corinthians, afirma que Bruno Arleu tomou decisões questionáveis, principalmente em relação aos cartões aplicados. “Já é um jogo tenso, um jogo com muita expectativa, e você [árbitro] no primeiro tempo já amarela seis jogadores… acaba quebrando um pouco o espetáculo”.
No total, foram marcadas 33 faltas, um pênalti e dois impedimentos, e distribuídos seis cartões amarelos (todos ainda no primeiro tempo) e um cartão vermelho.
Cânticos homofóbicos
O jogo foi paralisado aos 63’ pelo árbitro devido a torcida da casa estar cantando uma música com termos homofóbicos. Este ato acontecer na mesma semana do Dia Internacional Contra a Homofobia (17 de maio) expõe que, dentro do mundo do futebol, ainda há um longo caminho a ser percorrido em relação a pautas LGBTQIA +.
Apesar do aviso no telão, os gritos preconceituosos continuaram reverberando no estádio; a partida foi reiniciada mesmo assim e o árbitro registrou o ocorrido na súmula. O caso será julgado e o clube alvinegro pode ser enquadrado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, com punição que pode chegar à perda de três pontos no campeonato e a uma multa de até 100 mil reais.
[Divulgação/ Twitter/ @GiovanniChacon]
Em comemoração ao Dia Internacional Contra a Homofobia, o Corinthians realizou uma postagem em suas redes sociais e condenou o ocorrido no Majestoso. “Aproveitamos a data para reforçar a urgente necessidade de construirmos um mundo melhor e sem espaço para qualquer forma de preconceito, principalmente em nossa arena.”, escreveu o clube.
Ficha técnica
Corinthians (4-3-3): Cássio; Fagner, Murillo, Gil e Matheus Bidu; Fausto Vera, Maycon (Roni, 84’) e Giuliano (Matheus Araujo, 79’); Wesley (Adson, 54’), Róger Guedes e Yuri Alberto (Felipe Augusto, 84’)
São Paulo (4-3-3): Rafael; Rafinha, Arboleda, Beraldo e Caio Paulista; Gabriel Neves (Luan, 90+1), Pablo Maia e Michel Araújo (Marcos Paulo, 73’); Wellington Rato (Alisson, 83’), Luciano (Rodriguinho, 90+1) e Calleri (Juan, 73’)
Gols: Michel Araújo (14’) – São Paulo. Rogér Guedes (45+5) – Corinthians.
Cartões amarelos: Fagner e Gil (Corinthians); Rafinha, Beraldo, Caio Paulista e Luciano (São Paulo).
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Apesar da arbitragem não foi coerente foi um jogo bom ,e o melhor foi a torcida kķkk