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Mídias sociais: as mudanças e adaptações para produções cinematográficas

O Youtube e o TikTok são meios que permitiram a criação e publicação de diversos conteúdos que têm raízes muito mais próximas com o cinema do que pode parecer

Ao longo do tempo, as produções cinematográficas passaram por transformações que influenciaram não apenas o uso de equipamentos e técnicas de filmagem, mas também o entendimento e divulgação das obras. A falta de um padrão, que poderia ser um problema nos séculos 19 e 20, hoje pode ser vista como uma oportunidade para que os criadores em mídias sociais possam mostrar o seu talento para diferentes públicos.

O suporte utilizado para veicular o conteúdo, ao mesmo tempo que pode auxiliar a relação entre o produtor e o telespectador, também impõe certas limitações. Foi o que aconteceu quando se consolidou o modelo de cinema tradicional, com projeções feitas sobre uma tela, em um ambiente que propicie a imersão do telespectador, que tem que se locomover até o local de exibição e sem interferências diretas do criador da obra durante a exibição. 

Pelo menos costumava ser assim. Com os avanços da tecnologia, a locomoção às salas deixou de ser necessária, primeiramente com as transmissões feitas pela televisão, passando pela compra de fitas cassetes e dos DVDs (Disco Digital Video), até chegar aos canais de streaming e on demand (nos quais você pode assistir quando e onde quiser). Hoje a maior parte da população mundial já assiste às produções pelo celular. 

Com isso, novas empresas surgiram no mercado e as famosas “produções originais” se tornaram comuns em plataformas como a Netflix e a Amazon Prime Video e até no Youtube, que por seis anos investiu no Youtube Originals, projeto de produção de conteúdos exclusivos.

Youtube Originals e criadores independentes

À esquerda, um bloco vermelho com o logo do Youtube e a frase "Youtube Originals". À direita, uma ilustração onde ratos huamanóides entram em um metrô.
   [Imagem: Divulgação/www.stevecutts.com]

A partir de 2016, o Youtube passou a investir em um projeto que possibilitou a criação de filmes, séries e programas originais e exclusivos na plataforma. Como forma de concorrer com empresas como a Netflix, a plataforma promoveu produções de longas como Bodied (2017), Museo (2018) e Viper Club (2018), disponíveis mediante assinatura. Entretanto, demorou apenas dois anos até que suas obras de maior sucesso fossem vendidas para suas concorrentes e a plataforma passasse a focar em outros modelos. Em janeiro deste ano, o diretor de negócios Robert Kyncl, anunciou em seu perfil do Twitter a descontinuidade do projeto como um todo.

Embora o Youtube tenha deixado de investir em conteúdos originais, a plataforma ainda é um espaço para criadores e empresas independentes publicarem as suas obras. É o caso de curtas-metragens animados como Mr.Indifferent (2019), que faz uma reflexão sobre o Dias das Crianças, entre outros temas, disponível no canal CGMeetup. Outro exemplo são os trabalhos com críticas sociais profundas feitos por Steve Cutts, que realizou diversos curtas animados, como Man (2012) e Happiness (2017). No Brasil, é possível pensar em canais como o Curta Dia que, apesar de não publicar há um certo tempo, selecionou curtas-metragens brasileiros e os disponibilizou de forma gratuita.

E, falando em não precisar pagar, existem também canais como o NetMovies, que realizam a distribuição de filmes licenciados e menos divulgados,e possibilitam que mesmo as pessoas que não possuem condições financeiras para adquirir um pacote por assinatura ou ir ao cinema tenham acesso a filmes de qualidade.

O Youtube revolucionou ao possibilitar que diversas pessoas publicassem seus vídeos, além de, por um breve tempo, fazer produções originais . Mas, vale ressaltar que apesar disso, “a montagem cinematográfica não é uma linguagem específica da plataforma”. É o que ressalta Gisele Frederico, formada em Audiovisual pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) e pesquisadora sobre a poética em novas mídias e o processo colaborativo feminino. Segundo ela, pode-se notar o uso dos cortes secos pelos criadores, antigamente utilizados para causar desconforto aos espectadores de cinema, passando a mensagem de que houve um trabalho de edição.

Curtas-metragens e TikTok

Sobre um fundo preto, o logo e o nome do TikTok, centralizados.
  [Imagem: Divulgação/TikTok]

Ainda sobre o incentivo às produções cinematográficas, em março deste ano foi anunciada uma parceria entre o Festival de Cannes e o TikTok. Comemorando a 75ª edição do evento (que teve início no dia 17 e se encerrou no dia 28 de maio), foi proposta uma competição entre criadores para a realização de curtas,  que concorreram em três categorias: Grand Prix; Melhor roteiro e Melhor edição. Os vencedores tiveram a oportunidade de conferir o Festival presencialmente, além de ganhar uma quantia em dinheiro em uma premiação organizada pela plataforma durante o evento.

Sob a hashtag #TikTokShortFilm, esperava-se unir a criatividade dos candidatos com as possibilidades oferecidas pela plataforma. Desse modo, os participantes tiveram de 30 segundos a três minutos para gravar um vídeo na vertical e mostrar os conhecimentos na área cinematográfica. 

Em um pronunciamento para o site da plataforma o delegado-geral  — um tipo de diretor — do Festival de Cannes, Thierry Fremaux, falou sobre as oportunidades que essa união poderia trazer na diversificação do público e na nova forma de produzir: “Temos o prazer de firmar essa parceria com o TikTok para compartilhar a magia do Festival com um público mais amplo, muito mais global e mais cinéfilo do que nunca. Há vários anos, o Festival de Cannes tem se conectado com a próxima geração de entusiastas do cinema e com esta colaboração — que faz parte do desejo de diversificar o público — estamos ansiosos para compartilhar os momentos mais emocionantes e inspiradores do Festival e vê-lo reimaginado pelas lentes dos criadores do TikTok e sua comunidade”. Entre os criadores que realizaram curtas-metragens podemos citar o TikToker brasileiro Vittor Fernando, com sua obra Viral, que mostra que a viralização pode ter o impacto de um vírus.

Sobre o suporte e linguagem

Uma pessoa mexe no celular.
[Imagem: Reprodução/Freepik]

No pronunciamento citado acima, Thierry Fremaux comenta a expectativa de ver o mundo cinematográfico reimaginado pelos usuários da plataforma. Mas quantas dessas mudanças não são, na verdade, uma apropriação de estilos já conhecidos? Para responder essa questão, Gisele Frederico, comenta a diferença entre o suporte e a linguagem utilizados nas gravações e chama a atenção sobre a precipitada noção de inovação ou revolução existente na área de audiovisual. 

“Existe essa questão de suporte de plataforma e de adequação de linguagem, ainda que a linguagem cinematográfica clássica norte-americana se mantenha”. Essa linguagem clássica norte-americana citada se refere à estrutura linear da história, com suas fases narrativas bem definidas e uma edição que não pode ser percebida pelo espectador. Esta é a primeira diferença notada nas produções mais recentes, o uso de cortes no eixo (os cortes secos), que antes eram utilizados para causar incômodo, agora são absorvidos pelo público, e comuns em redes como o Instagram e o TikTok. 

Ao falar sobre como o suporte influencia a divulgação do conteúdo, Gisele Frederico cita McLuhan, teórico da comunicação canadense que defende que o próprio meio onde a mensagem é divulgada também é parte dela. Ela dá um exemplo: “Se a tela do TikTok é vertical, o meio, que seria o TikTok, define como vai ser a mensagem porque ela vai definir o que você vai mostrar.” Desse modo, ao realizar uma produção na plataforma, é necessário considerar as restrições nela existentes, neste caso, de enquadramento. Além disso, a manipulação do que vai ou não ser mostrado, feita pelo diretor ou produtor, tem influência das exigências do formato utilizado.

Gisele ressalta como, além da plataforma, a maneira como o conteúdo é produzido também reflete no modo em que ele será absorvido. “Você pode filmar algo com uma câmera de cinema 4K, editar para ficar com dez minutos de duração e colocar no TikTok, mas aí não é [apenas um conteúdo para a rede social], aí é cinema”, afirma.

Técnica de truncagem e cinema de atração

[Imagem: Reprodução/www.domestika.org]

Pode-se esperar que muitas outras práticas de antigamente ressurjam através de novas formas, assim como dito por Gisele: “Percebe-se com o TikTok que as coisas não são novas, são um novo modo. É um novo galho, um novo braço”.  Os tipos de produções feitas no TikTok muito se aproximam do Cinema de Truncagem dos Méliès (1920), época da pré-vanguarda européia. Nele, as cenas eram feitas através de uma câmera parada e com a mudança de elementos do cenário. “Sabe aquele classicão de basicamente por a mão na tela e mudar do aeroporto para a praia?”. 

Os vídeos para a rede social também se aproximam das obras do Cinema de Atrações, em que os cineastas buscavam chamar a atenção do público por meio de imagens de dança, animais, truques de mágica e curtas, envolvendo diversas experimentações e que não envolviam uma narrativa ou personagens complexos. Isso deve ter te lembrado algo, certo?

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